Estratégias para auxiliar a controlar a evasão em cursos virtuais: a experiência da PUCRS VIRTUAL
Lucia M. M. Giraffa1
[email protected]
Carla Netto
[email protected]
Bettina S. dos Santos
[email protected]
Programa de Pós-Graduação em Educação- FACED/PUCRS
Centro de Estudos em Educação Superior – CEES/FACED/PUCRS
Elaine Turk Faria
[email protected]
FACED/PUCRS
PUCRS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul FACED - Faculdade de Educação
Avenida Ipiranga 6681 prédio 15 – 3º andar Porto Alegre - RS- Brasil 90610-900 Fone + 55 51 33203620
Resumo
Este artigo descreve a experiência relacionada à organização, acompanhamento e concepção pedagógica que subsidia os cursos na modalidade Educação a Distância (EAD) na PUCRS. Após breve descrição do contexto e soluções implementadas para realizar as mudanças e inovações no setor, apresenta-se algumas reflexões acerca das questões relacionadas ao planejamento dos cursos e as estratégias para diminuir a evasão nos cursos virtuais. Conclui-se que o controle da evasão deve ser planejado desde a etapa de organização do curso, com divulgação adequada dos pré-requisitos e objetivos, infraestrutura tecnológica necessária por parte do aluno para acompanhar o curso e seu domínio relacionado às ferramentas (software) que farão parte do seu cotidiano escolar e atividades, pessoal preparado para atender as questões tecnológicas e pedagógicas e acompanhamento dos alunos nas questões de conteúdo e, por fim, as inesperadas situações pessoas que ocorrem quando se faz uma capacitação pessoal online.
Palavras-Chave: Educação a Distância online, Evasão, Educação Continuada.
A PUCRS VIRTUAL foi criada em 1999 como uma Unidade autônoma e em 2006 passou a ser uma Coordenadoria da PROEX (Pró-Reitoria de Extensão), denominando-se, então, Coordenadoria de Educação a Distância (CEAD). Neste momento, após uma reflexão sobre sua caminhada e os recursos existentes na atualidade mudou-se a tecnologia e a gestão dos recursos humanos da Unidade.
A solução encontrada na época da criação da EAD da PUCRS era a utilização de satélite como tecnologia de comunicação para a geração e transmissão de aulas fortemente associadas a videoconferências e/ou teleconferências. Os alunos interagiam com os professores pelo serviço telefônico 08002 e o material das aulas era disponibilizado na plataforma WEBCT (Web Course Tools) 3. O modelo ponderava as atividades síncronas e assíncronas em função do projeto do curso, geralmente usando como base 20% das aulas transmitidas via satélite e com alunos assistindo de forma simultânea nos pontos distantes distribuídos pelo país. No auge deste modelo analógico a PV possuía unidades em quase todos os estados brasileiros, podendo, também, transmitir para diversos países do continente americano, África e Europa; embora nunca tenha ocorrido um curso internacional.
As aulas gravadas seguiam o modelo das aulas presenciais com uso de slides em PowerPoint onde o conteúdo estava estruturado e o professor, sentado a uma mesa, em frente a câmeras, em estúdio com cenário fixo, discorria sobre o assunto do encontro. A interação era obtida por meio do uso de serviço telefônico ou perguntas no ambiente na ferramenta de chat. Este modelo requereu a criação de uma infraestrutura de pessoal de apoio
2 Service telefônico gratuito
3 WEBCT/Blackborad (www.blackboard.com)
ao docente, a fim de poder viabilizar o atendimento dos inúmeros alunos matriculados no curso e espalhados geograficamente no território brasileiro. Nem todos os cursos possuíam alunos com tal granularidade, mas a maioria deles era oriunda de pelo menos três estados diferentes. Fato este que exigiu a criação de toda uma logística, ainda existente, embora adaptada aos novos tempos e demandas.
A necessidade de comunicação síncrona, de o aluno receber a imagem em um local distante e poder interagir com a equipe de professores e tutores, e a diversidade geográfica do território brasileiro, considerando que estávamos no final da década de 90, século XX, a opção recomendada na época era, sem dúvida, a utilização de satélite; o qual garantia a abrangência e os serviços demandados pela proposta pedagógica.
Com o passar dos anos, a evolução e consolidação da Internet, os custos elevados da manutenção do sistema de satélite e, principalmente, da mudança na proposta conceitual e entendimento do que seriam as aulas virtuais, a valorização da interação, a ênfase na mediação no ambiente virtual de aprendizagem, a PV muda sua forma de trabalhar. O foco deixa de ser a valorização das aulas gravadas como elemento basilar da aprendizagem dos alunos, para se focar na estruturação de cursos onde a aprendizagem do estudante está vinculada a uma postura de autonomia, desenvolvimento de competências de pesquisa, análise, crítica, construção textual, argumentação e trabalho em equipe.
Nesta nova proposta a PV foi reestruturada no ano de 2006. A PV é uma unidade de serviços cujo papel é apoiar e gerir as ações e políticas da PUCRS no que tange a modalidade de Educação a Distância.
Apesar da PUCRS estar credenciada pelo MEC para ofertar graduação e pós-graduação Lato Sensu (Portarias MEC 71/92 e 4.004/05), até este momento, ela optou por só ofertar cursos de extensão e de especialização a distância (totalmente acessíveis e disponibilizados pela Internet através do link www.ead.pucrs.br) e utilizar a prerrogativa dos 20% da carga horária total do curso ofertada em atividades virtuais para seus cursos de graduação e Stricto Sensu (mestrado e doutorado). As ofertas de cursos são realizadas em parcerias com as Unidades Acadêmicas e parceiros externos. Com grande incentivo para curso na modalidade “in company” tanto com empresas privadas, bem como o setor público.
Acredita-se que a modalidade EAD deva gerar flexibilização das ações educacionais, permitindo que seus cursos sejam possíveis para todos aqueles que não podem estar presencialmente na Universidade e desejam usufruir da tradicional qualidade da PUCRS. O nosso lema “Estude onde você estiver”, complementado pela diretiva “gerencie seu tempo de estudo como desejar” expressa o conjunto de crenças que possuímos acerca desta modalidade. Salienta-se, entretanto, que todo curso virtual possui um prazo para sua realização e as atividades presenciais de avaliação exigida pela legislação são realizadas na rede de pontos distantes conveniados, os quais incluem várias escolas da rede Marista e as universidades parceiras da RICESU4, podendo agregar todos os pontos de apoio dos parceiros que nos contatam para execução de curso.
A PUCRS VIRTUAL mantém a sua infraestrutura física e tecnológica no Prédio 40 da Universidade, localizado na Av. Ipiranga nº. 6681, na cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul. Com aproximadamente 2000 m² de área, a Coordenadoria de Educação a
4 www.ricesu.com.br CVA-RICESU Comunidade Virtual de Aprendizagem Rede de Instituições Católicas de Ensino Superior
Distância (CEAD), mais conhecida como PV, ocupa dois pavimentos, estando os mesmos localizados no 8º e 9º andares do referido prédio.
O 9º andar é constituído pelos ambientes de Recepção, Secretaria, sala da Coordenação, Sala dos Professores assessores, Sala de Reuniões, Helpclass, Núcleo de Informática e Núcleo de Mídias e Design, os quais são considerados setores administrativos e recursos de infraestrutura associados a parte de produção. Neste andar estão instalados, ainda, os seguintes serviços: estúdio para gravação de áudios/vídeos com capacidade para acomodar 30 pessoas; sala de Videoconferência com capacidade para acomodar 30 pessoas e para conferências simultâneas com 8 (oito) pontos diferentes.
No 8º andar estão concentrados os Gerentes em EAD, Auxiliares Técnicos em EAD e estagiários para a produção de materiais e o gerenciamento dos cursos.
A capacitação de professores do ensino superior exige uma análise dos recursos tecnológicos existentes frente aos desafios oferecidos pelos espaços virtuais e suas possibilidades. O avanço das tecnologias e da rede Internet não pode mais ser descartado pelas instituições educacionais. No entanto, seu uso requer atualização constante no que tange ao processo de ensinar e de aprender com tecnologia.
Cada vez mais os alunos da graduação utilizam ambientes virtuais em disciplina semipresenciais no espaço virtual de comunicação, agora associado à plataforma MOODLE e não mais ao WEBCT. As ferramentas de comunicação e os recursos de entrega de trabalhos têm se constituído como meio de interação entre os participantes da comunidade de aprendizagem e uma extensão das atividades da sala de aula presencial.
O programa atual de formação docente da PV busca instrumentalizar o docente a trabalhar com as questões destas competências mencionadas por Perrenoud (2000), aqui sintetizadas como uma formação técnica que o habilite a usar as funcionalidades (recursos e atividades) do AVA de forma inovadora, criativa e flexível, sempre auxiliado por uma equipe interdisciplinar com ações transdisciplinares que perpassam ao conjunto dos conteúdos.
A mediação de conflitos nessa cibercultura pode ser explorada através da constante mediação e supervisão do docente. A necessidade de o professor estar presente no virtual é imperiosa. A docência em EAD se diferencia em certos aspectos da presencial. Sabe-se que a atuação do professor na sua essência não mudou. Ele ainda é o organizador do curso, o responsável pela seleção dos conteúdos, do atendimento de dúvidas e da formulação do sistema de avaliação. Entretanto, enriquece-se a apresentação dos materiais, dinamiza-se o ambiente virtual com variedade de recursos e atividades, alunos realizam trabalhos individuais e grupais em momentos distintos, sempre mediados pelo professor.
Os ferramentais do AVEA permitem ao professor atender de forma diferenciada e personalizada seus alunos, mas para isto há que ter domínio das funcionalidades disponibilizadas na plataforma adotada e a percepção de como utilizá-las didaticamente. Por isso, há necessidade de capacitação docente e relatos de experiências bem- sucedidas. O professor virtual se diversifica e pode atuar de forma diferente. Relatos de professores que trabalham em AVEAs enfatizam que mudaram sua percepção de ensinar e dos alunos aprenderem. Observa-se de forma empírica que atividades mediadas nos AVEAS, quando estes realmente se constituem em Comunidades Virtuais de Aprendizagem, resgatam de forma ampla o desejo de aprender a aprender autonomamente, associado à proposta construtivista de educar.
Todo professor que irá atuar na EAD ou nas disciplinas semipresenciais da PUCRS precisa realizar um curso de capacitação, com oficinas sobre a criação do ambiente virtual, pois, em geral, não existem monitores para as disciplinas semipresenciais na maioria das vezes. E é o próprio professor quem faz a mediação pedagógica no ambiente virtual, como é ele quem cria o ambiente e organiza os recursos da aula virtual, tendo que desenvolver as três competências básicas de coordenação, cooperação e comunicação no ambiente virtual.
O projeto criado na PV em consonância com o projeto de capacitação docente da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) visa promover a inserção tecnológica e a reflexão das possibilidades de uso dos recursos oferecidos no ambiente MOODLE, aos professores das disciplinas que utilizam um ambiente virtual para a realização de atividades semipresenciais ou que desejam usar o espaço virtual como repositório e alternativa para discussão de dúvidas, entrega de trabalhos e atendimento online (este oferecido como extensão das atividades que acontecem presencialmente).
O professor que atua em disciplina semipresencial deve incentivar seus alunos a participar do espaço construído no MOODLE, solicitando que entreguem trabalhos virtualmente, sem precisar imprimir, não gerando custos de impressão, além de ser uma atitude ecologicamente correta face às demandas por educação com responsabilidade ambiental que o planeta exige, com urgência. Esta prática de ler na tela do computador para corrigir trabalhos também deve ser incentivada nos professores tão habituados a imprimir.
Um aspecto que se enfatiza no curso está relacionado ao volume de leituras disponibilizadas no AVEA fruto da facilidade em se organizar bibliotecas virtuais com links a textos e materiais diversos sobre um determinado assunto. O grande volume de material disponibilizado na Internet não permite que o professor ou aluno imprima tudo. Uma sugestão que se repassa aos docentes é que leiam os sites, artigos, teses e tudo mais e copiem o nome do artigo, autor e todas as referências (impressas ou digitais) e criem uma biblioteca de artigos e materiais lidos, com uma breve descrição (pode ser em tópicos) das ideias que fizeram eles destacarem aquele material. Isto facilitará o estudo, a escrita dos trabalhos, além de criar o hábito da leitura e escrita digital sem passar pelo papel.
A qualificação docente precisa ensinar o professor a organizar sua disciplina no MOODLE, entendendo como se colocam arquivos e materiais no ambiente, como se personaliza o espaço virtual, como se criam fóruns, chats, salas de entrega, como se fazem avaliações, usando os recursos do ambiente. Busca-se ainda, fazer uma reflexão acerca das possibilidades pedagógicas de todos os recursos, vantagens e desvantagens de usar um recurso em detrimento de outro, em que situação determinada atividade é mais adequada em função dos objetivos educacionais que o professor possui. O que se procura é refletir que a questão metodológica está diretamente relacionada aos referenciais epistemológicos adotados pelo professor, as suas crenças, seus conceitos, seus pressupostos. Daí a necessidade de um constante questionamento em relação a esses referenciais epistemológicos, buscando sempre uma coerência entre objetivos sociais e objetivos de ensino. Busca-se levar os professores à reflexão de que no virtual teremos os mesmos problemas do presencial: ausência de motivação do aluno para o estudo falta de tempo para realização de todas as tarefas e outras. Com a agravante de que no virtual o aluno sente-se sozinho, sem supervisão presencial e sem o compromisso de olhar o professor e colegas fato este que retira a pressão da entrega de uma atividade ou constrange na impossibilidade de atendê-la.
O professor necessita entender as alternativas de acesso e uso do ambiente virtual, mas principalmente incentivo ao seu uso de forma contextualizada, fazendo a ponte entre o que acontece no presencial e no virtual. E que atividades dissonantes entre uma situação e outra, sem o resgate e integração das ações realizadas, não obterão sucesso.
Enfim, inúmeras são as possibilidades e recursos do ambiente MOODLE para tornar a aprendizagem mais dinâmica, diferenciada, consubstanciada e autônoma, facilitada pela mediação do professor e pela interatividade dos alunos na construção conjunta da comunidade virtual de ensino e de aprendizagem.
Os levantamentos realizados, até o momento da redação deste artigo, indicam mais de setenta Oficinas de formação realizadas na PV e mais de 950 professores da universidade capacitados para o uso do MOODLE (a universidade possui cerca de 1200 professores). Estas experiências forneceram indicadores importantes, destacando-se a necessidade de dar um tempo para a adaptação inicial dos docentes ao novo ambiente tecnológico, com a exploração de suas possibilidades, recursos e navegação no mesmo. Após este período de incentivo, sem ‘cobrança’, os próprios colegas mais interativos auxiliaram aos demais nesta caminhada online, pelo interesse despertado nos múltiplos recursos encontrados, inclusive evitando a impressão em papel e com isto responsabilizando-se e comprometendo- se com o meio ambiente e com os próprios colegas, numa aprendizagem socioindividual.
Os docentes e alunos, em geral, ainda têm preconceitos em relação a EAD. Conforme pesquisa realizada pela ABRAEAD (2008): “.. os alunos que se ‘aventuram’ a realizar cursos em EAD mudam sua opinião depois, por verificar que não são “cursos fáceis” e de “baixa qualidade”, mas, ao contrário, exigem “autonomia, tempo para estudo, realização de muitas e complexas atividades”. Alguns sujeitos pesquisados disseram que “não se adaptaram com o sistema não-presencial” (p.62- 63)
Por comparação, também nas disciplinas semipresenciais, há que preparar o aluno para o uso da tecnologia e para a aprendizagem no ambiente virtual, realizando a inserção gradativamente, com apoio e incentivo do professor. Aos poucos, nota-se que professores e alunos vão buscando se aproximar e se empenhar em novas aprendizagens que os levem a melhor utilizar a tecnologia tanto na universidade como na escola.
A taxa de evasão dos cursos virtuais da PUCRS é de 7% considerada excepcional se comparada com a taxa media de evasão brasileira de 18% a 44%, segundo o Censo (ABED, 2011, p. 43-44).
Para Almeida (2008): “há uma tendência para se considerar as taxas de conclusão ou desistência como medidas de avaliação de sucesso de cursos a distância, porém a questão não é simples de ser trada. A autora destaca que se deve tomar muito cuidado ao falar de evasão, uma vez que uma série de fatores que podem influenciar para maior ou para menor as taxas encontradas” (p.8)
Almeida cita a analise de Vargas (2007), onde autora sintetiza algumas definições de evasão encontradas na literatura (vide Quadro 1):
Evasão é entendida como a saída definitiva do aluno de seu curso de origem, sem concluí-lo. Utiyama e Borba (2003) |
Evasão consiste em alunos que não completam cursos ou programas de estudo, podendo ser considerada como evasão aqueles alunos que se matriculam e desistem antes mesmo de iniciar o curso. Maia e Meireles (2005) |
Evasão refere-se à desistência definitiva do aluno em qualquer etapa do curso. Abbad, Carvalho e Zerbini (2005) |
Fonte: Quadro adaptado do original de Definição de evasão e amplitude do conceito. Fonte: Vargas (2007, p.2)
Quadro 1. Definições de evasão De acordo com Almeida (2008),
De acordo com Almeida (2008), o contexto de motivos para desistência, os resultados da análise contemplaram cinco categorias-síntese estabelecidas a posteriori:
“Fatores situacionais, falta de apoio acadêmico, problemas com a tecnologia, falta de apoio administrativo e sobrecarga de trabalho.” (p.4)
“...alguns fatores são de origem exógena: Falta de apoio acadêmico, problemas com a tecnologia, falta de apoio administrativo e sobrecarga de trabalho". As demandas simultâneas durante o curso, trabalho e família, tornam difícil para o aluno planejar e seguir uma agenda de estudo.(p.5)
Quanto aos motivos de origem endógena, Almeida (2008) destaca que “existe a desmotivação por causa das situações que ocorreram durante o curso de ordem pessoal ou familiar, muitos alunos relataram que nesses momentos de dificuldades não tiveram apoio do professor/tutor” (p.6)
Almeida (2008) recomenda que: “... as instituições disponibilizem em seu escopo um plano de estudos mais flexível para atender aos alunos em situações atípicas” (p.7)
Acredita-se que devido aos inúmeros problemas enfrentados pela oferta de EAD, algumas não qualificadas, algumas pessoas ainda têm dúvidas sobre a validade de um curso e de um diploma na modalidade de EAD.
Preconceitos existem e só uma EAD de qualidade poderá romper com estas ideias pré-concebidas erroneamente. Rever a própria caminhada, refazê-la, quando necessário, atualizar tecnologia, ainda que com custos onerosos para a instituição e revisar paradigmas, metodologias e propostas pedagógicas são lições aprendidas que levam à inovação e atualização institucional constantes
Considerações Finais
Encaminhando as considerações finais deste artigo destaca-se que não basta informatizar a instituição educacional, enfatizando o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na escola, explorando-as nas salas virtuais, pois a tecnologia por si só não melhora o processo de ensino e aprendizagem. É necessário repensar o projeto pedagógico institucional e instrumentalizar os professores, criando condições para que eles possam se apropriar do uso dos novos recursos e instrumentos. O desafio é o de preparar professores e alunos para o uso crítico e inovador das TIC e para atuar em EAD, buscando uma formação mais autônoma e de qualidade.
Existe a necessidade de uma transformação na atuação do docente universitário e as novas tecnologias podem auxiliar neste processo” (p.6).
Acredita-se que usando ambientes interativos, dialógicos e de construção de conhecimento, os docentes podem trocar a sua tradicional opção do paradigma da educação transmissora para o paradigma da aprendizagem significativa, autônoma, útil e adequada a sociedade contemporânea, a qual se caracteriza pela necessidade da aprendizagem com o uso da tecnologia, como preconizam as Diretrizes Curriculares Brasileiras . Saber aprender é fundamental para poder trabalhar nesta cibercultura.
Observa-se, atualmente, um contínuo movimento de consolidação e expansão da EAD, ampliando-se o número de países, empresas, instituições educacionais e alunos que realizam seus cursos em diferentes propostas e com variados recursos. O que definirá o futuro da EAD é, primordialmente, a qualidade de seus cursos, com linguagem e características próprias, que deverão ser objeto de pesquisa e avaliação constantes devido à diversidade de objetivos, propostas e recursos, sempre ampliados pelos avanços tecnológicos.
Enfatiza-se que não há um modelo único de EAD, mas sim parâmetros que devem ser cumpridos para dar qualidade, visibilidade e credibilidade a essa modalidade de ensino no Brasil. A PUCRS estuda continuamente sobre qual a melhor maneira de desenvolvê-la em sua instituição, visando ao levantamento dos recursos tecnológicos de que dispõe e revisando a proposta didático- metodológica embasada no referencial teórico e legal.
A aprendizagem ocorre em redes de cooperação mediadas pelas modernas Tecnologias Digitais (TDs) com autoria compartilhada o que muda a tradicional relação de propriedade da informação e por consequência do conhecimento.
Logo, faz-se necessário acrescentar uma 5ª dimensão a reflexão proposta por Fiorina: do individual para o coletivo (comunitário-solidário). A educação passa a ser um processo da sociedade e não mais apenas responsabilidade da escola. Aprende-se na sala de aula, na LANHOUSE, no Orkut, no Facebook, no Twitter, no MSN, no Second Life, em livros impressos e/ou digitais, na televisão, no cinema, no teatro, aprende- se em qualquer lugar e de diversas formas, uma vez que se amplia o espaço pedagógico.
A sociedade contemporânea está marcada pela mudança de paradigma na qual o processo produtivo está baseado no domínio e produção do conhecimento, fato este que permite que a chamemos de Sociedade do Conhecimento. Ela é intimamente influenciada pelos meios de comunicação e pelas tecnologias digitais, as quais permitem a configuração e promoção de novos espaços interativos, onde o indivíduo pode aprender e adquirir novas competências. Aretio (2007) salienta que a sociedade contemporânea, na realidade deve ser denominada de Sociedade da Aprendizagem, uma vez que a produção do conhecimento está tão suportada e acelerada pelas TDs de tal forma que é imperioso que repensemos urgentemente o papel da escola e, principalmente, as formas de ensinar em face de tantas mudanças. De acordo com Giraffa e Faria (2010), as pesquisas e os estudos, constantemente incentivados, orientarão a EAD para a obtenção de maior credibilidade, pelo aprimoramento desta modalidade de ensino, quebrando o mito de cursos fáceis e de qualidade duvidosa, pela construção de alternativas de formação permanente e qualificada, acessíveis a todos os cidadãos e pela constante avaliação dos órgãos governamentais sobre o cumprimento da legislação nas instituições educacionais. A fim de evitar a evasão dos alunos é importante observar algumas questões prévias ao inicio do curso:
Divulgação cuidadosa e clara dos objetivos do curso e público-alvo a que se destina;
Explicitar os pré-requisitos necessários para acompanhar as aulas e realizar tarefas vinculadas às competências técnicas para uso do ferramental de EAD. Muitos cursos colocam apenas “saber usar computadores” não dando a devida descrição do que sejam estas habilidades. Caso isto não seja observado o aluno poderá atribuir ao curso a sua falta de aptidão para trabalhar com a complexidade inerente nestas plataformas virtuais. As quais não são triviais para manuseio daqueles que não possuem familiaridade com uso de softwares e ferramental vinculado à Internet e seus serviços;
Explicar que quem fica a disposição 24 horas, sete dias por semana é a plataforma e não a equipe. Os profissionais que atuam nos cursos virtuais e no setor de EAD possuem vínculos empregatícios e obrigações regidas por contratos de trabalho com horário definido e dias estipulados, tal qual no presencial. Postar uma mensagem na madrugada esperando acorda com a reposta é uma situação irreal. Mas, que acontece frequentemente nos cursos, especialmente no inicio. Os alunos mais exaltados colocam no fórum mensagens demonstrando que a equipe do curso não possui rapidez e agilidade no atendimento e suas duvidas. Quando estas situações acontecem (e elas sempre acontecem em todos os cursos) imediatamente se explica a situação se busca educar o aluno para trabalhar no virtual
De acordo com Netto et al (2011), os baixos índices de evasão dos cursos virtuais da PUCRS também se explicam pela observação de alguns aspectos importantes e que levam a qualificação dos cursos, conforme mencionado por quando abordam a questão da qualidade em cursos de EAD:
Definição clara dos objetivos do curso;
Definição e explicitação da proposta metodológica do curso, sendo esta fundamentada na mediação e acompanhamento do aluno;
Explicitação dos pré-requisitos para acompanhar o curso;
Equipe preparada para atuar em EAD;
Rápida realimentação para as questões tecnológicas e pedagógicas postadas pelos alunos nos fóruns de discussão.
Todas estas observações e recomendações aqui explicitadas devem ser acompanhadas de outra reflexão importante: os três mitos que envolvem a escolha de um curso na modalidade EAD:
O curso na modalidade EAD é mais fácil: o aluno para fazer um curso nesta modalidade deve ser muito organizado, disciplinado e saber usar muito bem o seu tempo “livre”. Ou seja, a falta de compromisso em estar num determinado local e horário para receber informações e interagir com professores e colegas é substituído pela liberdade de escolher quando e onde deseja estudar. É muito fácil o aluno se perder no tempo e no ciberespaço. Além do fato de que o volume de material, leituras e discussões nos fóruns pode surpreender aqueles que acham que estudar na modalidade EAD é passar de vez em quando pelo ambiente, responder algumas perguntas e ler pequenos textos.
O curso é mais rápido: um curso na modalidade EAD se for de graduação ou especialização (Lato Senso) tem a mesma duração do presencial. No Brasil esta questão é regulada pelo Ministério da Educação (MEC) 5 e pela CAPES6.
O curso é mais barato: esse é o único dos três mitos que é parcialmente verdadeiro. Para quem oferece o curso existe uma redução orçamentária relacionada ao espaço físico, limpeza, material de consumo iluminação e pessoal de apoio para ações presenciais (segurança, limpeza, manutenção e outros). No entanto, deverá haver investimentos na infraestrutura física a lógica para manter a plataforma no ar e o custo de pessoal aumenta devido a estrutura necessária para dar conta do volume de informações relacionadas ao atendimento dos alunos.
Para o aluno que faz o curso virtual ele economiza em transporte, alimentação e ainda pode compatibilizar seus estudos com trabalho e outros compromissos. No entanto, o custo de infraestrutura (computador com acessos a Internet, impressora e outros periféricos) corre por conta do aluno. Caso seu sistema pessoal falhe, cabe ao aluno buscar uma alternativa para solução. Não é de responsabilidade do curso prover esta solução e nem flexibilizar prazos de entrega de avaliações e tarefas por problemas particulares dos alunos. E, neste caso, a solução pode ser onerosa e vinculada ao uso de uma Lan House ou aluguel temporário de equipamento. Os custos se diluem e se distribuem de forma mais explicita
5www.mec.gov.br
6www.capes.gov.br
entre o fornecedor do curso e o contratante. No modelo presencial a maioria do custo recai no contratante que o repassa de forma indireta ao aluno.
Os desafios para se propor e realizar um curso na modalidade EAD são grandes. Porém, acredita-se que ela possui um potencial para atender as demandas de um país continental como o Brasil, plural e com realidades econômico-geográficas tão diversificadas, a ED pode ser o caminho para promover inclusão e auxiliar na equidade de acesso à educação.
Referências
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