Um estudo sobre evasao no ensimo superior do Brasil nos últimos dez anos.

As possíveis causas e fatores que influenciam no abandono. Prevendo o risco do abandono

SOUZA, Clair Teresinha de1

PETRÓ, Caroline da Silva2

GESSINGEr, Rosana Maria 3

PUCRS-BRASIL

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Resumo: A evasão no ensino superior tem sido tema de pesquisas acadêmicas que, na sua maioria, buscam compreender as causas do aumento significativo do número de alunos que entram no Ensino Superior e evadem, muitas vezes após o primeiro semestre do curso. Neste trabalho é apresentada uma revisão bibliográfica sobre o tema evasão escolar no Brasil nos últimos 10 anos, tomando como referência a produção acadêmica durante este período. Para isso foi realizada uma busca no site da Capes, nos resumos de dissertações e teses sobre o assunto, com o objetivo de identificar o foco das pesquisas que foram realizadas ao longo dos anos de 2000 a 2011. A análise realizada até o momento evidenciou que 64% das pesquisas visam compreender os fatores que levam o aluno à evasão numa determinada Instituição de Ensino Superior (IES); 6% analisam historicamente o processo da evasão; 6% analisam a relação entre os indicadores de satisfação dos alunos com relação à determinada IES e a evasão; 12% estudam o perfil do aluno que evade; 3% analisam quais cursos apresentam o maior índice de evasão; 9% desenvolvem e analisam propostas de trabalho relacionadas à tecnologia com a intenção de diminuir os índices de reprovação e de evasão. Por meio desse estudo foi possível identificar alguns fatores que levam os alunos a evadirem, sendo que aparecem com maior frequência: a falta de condições financeiras para manter- se num programa de Ensino Superior, a influência familiar, a falta de vocação para a profissão, a repetência em disciplinas que envolvem o conhecimento matemático, a qualidade do curso escolhido, a localização da IES, as condições relacionadas ao trabalho, à idade do aluno (quanto maior a idade, mais fácil do aluno evadir). Também aparecem fatores como a insatisfação com o projeto pedagógico, professores, infraestrutura, recursos disponíveis, o excesso de oferta de vagas, o desemprego, e as dificuldades na aprendizagem. Cabe mencionar, ainda, que uma das pesquisas evidenciou que nos cursos em que a exigência relacionada à nota mínima para ingresso é mais baixa, o índice de evasão é maior.

Palavras Chave: Evasão, Causas da Evasão, Ensino Superior

1rofessora de Matemática em escolas públicas de Viamão-RS, Licenciada em Matemática, pela FAPA, Especialista em Geometria Análitica e Espacia,l pela CESUCA, Mestranda em Educação em Ciências e Matemática, pela PUCRS.

2Professora de Matemática em escola privada de Porto Alegre, Licenciada em Matemática pela ULBRA, Mestranda em Educação em Ciências e Matemática pela PUCRS.

3Graduada em Licenciatura em Matemática, pela UFRGS, Mestra em Educação, pela PUCRS, e Doutora em Educação, pela PUCRS. Atualmente, é professora adjunta da PUCRS.

1. INTRODUÇÃO

A evasão no Ensino Superior tem sido tema de pesquisas acadêmicas que, na sua maioria, buscam compreender as causas do aumento significativo do número de alunos que entram no Ensino Superior e evadem, muitas vezes após o primeiro semestre do curso.

Segundo dados do MEC/SESU (1997), por meio da Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Brasileiras, existem três tipos de evasão: o desligamento do curso superior (abandono), a transferência, trancamento ou exclusão pela Instituição de Ensino, e a evasão do sistema, podendo ser definitiva ou temporária. Para Ristoff (1995), a evasão do Ensino Superior refere-se ao abandono definitivo ou temporário das Instituições de Ensino Superior.

Neste trabalho é apresentada uma revisão bibliográfica sobre o tema evasão no ensino superior no Brasil nos últimos 10 anos, tomando como referência pesquisas realizadas sobre o tema em nível de mestrado e de doutorado. Com o objetivo de identificar o foco das investigações, foi realizado um levantamento no site da Capes, nos resumos de dissertações e teses sobre o assunto, no período de 2000 a 2011. Para isso foi lançada a expressão “evasão no ensino superior”, e foram obtidos 28 resumos de dissertações e 4 de teses no período considerado. Foi feito uma listagem dos resumos de 32 trabalhos encontrados. Os resumos foram analisados por meio da metodologia denominada Análise Textual Discursiva, proposta por Moraes e Galliazi (2007), de onde emergiram seis categorias: a) Compreensão dos fatores que levam o aluno à evasão; b) Análise histórica do processo da evasão; c) Análise da relação entre indicadores de satisfação e evasão; d) Identificação do perfil do aluno que evade; e) Identificação de cursos com maior índice de evasão; f) Propostas de trabalho relacionadas às tecnologias, com vistas à redução do índice de evasão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Silva Filho e Lobo (2012) argumentam que para medirmos a evasão seria necessário acompanhar o histórico escolar de cada aluno, pois assim poderíamos identificar quando ele abandonou ou se transferiu de curso. Os autores salientam que os pesquisadores dessa área precisam estudar dados referentes à evasão nas diferentes Instituições de Ensino Superior, tais como, total de matrículas e número de ingressantes e de concluintes.

Para calcular os índices de evasão sem recorrer a históricos escolares individuais, os autores definem duas fórmulas. A primeira fornece a taxa de titulação e consiste na razão entre o número de alunos que entraram em algum curso ou instituição, e o número de alunos que se formaram após o tempo de conclusão do curso em questão. A segunda informa a evasão anual, ou seja, a evasão dos alunos que não se matricularam após o término do ano letivo. O cálculo é realizado, conforme Silva Filho e Lobo (2007, p.2),

[...] tomando a razão entre o número de alunos veteranos, isto é, que estavam matriculados no ano anterior e não se formaram (dado pela diferença entre as matrículas totais menos os concluintes do ano anterior) e o número de veteranos que se rematricularam (dado pela diferença entre as matrículas totais menos os ingressantes do ano em questão).

Para Lobo (2011), não importa qual o método adotado, para sabernos a evolução do índice de evasão no ensino superior, o importante é definir tendência e políticas sobre o tema.

As Pesquisas de Ferretti e Madeira (1992) apontam que nos últimos dez anos os estudantes precisam trabalhar para conseguir manter-se no ensino superior e ajudar na receita familiar, sendo esse um novo perfil do estudante brasileiro. A classe menos favorecida da sociedade passou a estudar em Instituições de Ensino Superior da rede privada, já que as instituições públicas, com seus horários de cursos que se alternam durante o dia, impossibilitam esse aluno de cursá-la, mostrando com isso que a universidade pública não está acompanhando o novo perfil de aluno.

Segundo o Censo da Educação Superior, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), as matrículas no curso de graduação aumentaram 110,6% no período de 2001 a 2010, passando de 143.595 a 302.359. Esse aumento pode ter ocorrido devido a incentivos à permanência na Educação Superior como, por exemplo, o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), que é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar estudos em nível de graduação de alunos que estão em universidades privadas. Outro fator a ser considerado são as bolsas do Programa Universidade para Todos (Pro Uni). Criado em 2005, esse programa já concedeu bolsas para 893.102 alunos.

Conforme dados do censo da Educação de Ensino Superior, no ano de 2000 o percentual de evadidos nas instituições públicas foi de 13%, sendo que nas instituições privadas foi de 22,1%. No ano de 2004 o percentual de evasão nas instituições públicas, atingiu 15,2% e nas privadas, 28%. Em 2009 esses percentuais sofrem uma queda, passando a 10,5% nas instituições públicas e 24,5% nas privadas.

Estudos realizados pelo MEC apontam que alunos beneficiados com as bolsas do Programa Universidade para Todos evadem menos do que os alunos sem bolsa. Tomando como referência os anos de 2009 e 2010, constata-se que o percentual de alunos que evadiram do sistema superior de ensino foi de 15,6%, enquanto que entre os bolsistas beneficiados pelo programa, a evasão foi de 4%.

A seguir é apresentada a Fig. 1, com os índices de evasão nas Universidades públicas e privadas no Brasil, no período de 2000 a 2009.

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Fig. 1, Dados do Censo da Educação Superior 2009, Ministério da Educação.

Existem outras iniciativas governamentais para promover a permanência dos alunos de baixa renda nas instituições federais, tais como o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que auxilia alunos de baixa renda que cursam graduação presencial com moradia estudantil, alimentação, transporte, saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico. Conforme Silva Filho et al. (2007, p.642), “a evasão estudantil no ensino superior é um problema internacional que afeta o resultado dos sistemas educacionais. As perdas de estudantes que iniciaram, mas não terminaram seus cursos são desperdícios sociais, acadêmicos e econômicos”. Mesmo assim, são escassos os estudos nessa área. Para Lobo (2012, p.8), “todos perdem com isso: além do próprio aluno, a IES e todos os que nela trabalham, quem o financia e a sociedade como um todo”.

Dados do censo 2011, divulgados pelo Ministério da Educação em outubro de 2012, mostram que houve um aumento de 4,3% no número de concluintes nos cursos de graduação. Este percentual evidencia que um aumento na permanência dos alunos nas IES, conforme mostra a Fig. 2.

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Fig. 2 – Dados do Censo de Educação 2012, Ministério da Educação.

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A análise dos resumos evidenciou que 64% das pesquisas visam compreender os fatores que levam o aluno à evasão numa determinada Instituição de Ensino Superior (IES); 6% analisam historicamente o processo da evasão; 6% analisam a relação entre os indicadores de satisfação dos alunos com relação à determinada Instituição de Ensino Superior (IES) e a evasão; 12% estudam o perfil do aluno que evade; 3% analisam quais cursos apresentam o maior índice de evasão; 9% desenvolvem e analisam propostas de trabalho relacionadas à tecnologia com a intenção de diminuir os índices de reprovação e de evasão.

Dentre as pesquisas que tiveram como objetivo compreender os fatores que levam o aluno à evasão escolar numa determinada IES, destaca-se a dissertação de Borges (2011), que buscou identificar os fatores relacionados à evasão escolar no ensino superior, por meio da análise da conjuntura educacional do ensino superior no Brasil. Com o mesmo foco em sua pesquisa, Martins (2007) teve como objetivo verificar os fatores que mais contribuíram para a evasão escolar no ensino superior, as principais causas, o perfil do aluno, os cursos e períodos em que mais acontece esse fenômeno. Os autores concluíram que alguns dos fatores que levam os alunos a evadirem são as baixas condições financeiras, a falta da intervenção dos gestores em ações de permanência, a não criação de um diferencial nos cursos, a influência familiar, a falta de vocação para a profissão, a qualidade do curso escolhido, a localização da IES, as condições relacionadas ao trabalho, a idade do aluno, e a repetência em disciplinas que envolvem o conhecimento matemático.

Segundo Silva Filho et al. (2007), nas disciplinas da área de exatas, é comum muitos alunos, de todos os níveis de ensino, enfrentarem dificuldades no acesso ao conhecimento. Possivelmente isso esteja relacionado à falta de pré-requisitos para acompanhar as disciplinas, dentre as quais destacam-se as disciplinas da área de matemática. A pesquisa aponta que em 2005 o índice de abandono nos cursos de ciências exatas chegou a 44%.

Analisando historicamente o processo da evasão no ensino superior, Lima (2008) e Baggi (2010) contextualizam as mudanças no ensino superior no Brasil, a partir da década de 90, com a expansão das IES nas diversas áreas de ensino. Dentre as conclusões, os autores destacam que houve um significativo aumento de alunos no ensino superior pós anos 90, mas ao mesmo tempo em que houve o crescimento, foi perceptível o grande número de alunos evadidos, por inúmeros fatores. Além disso, os autores constataram que embora poucas instituições possuem programas para enfrentar o problema da evasão, há evidências de que com programas específicos é possível reduzir o número de alunos evadidos.

A renda familiar é outro agravante que se apresenta historicamente como uma das principais causas da evasão. No artigo de Gois (2006), fica clara a visão de Oscar Hipólito sobre evasão em Instituições de Ensino Superior:

“Acreditava-se muito que a questão financeira era a vilã da história, mas percebemos em vários estudos que há várias outras razões. A principal delas talvez seja o desestímulo com o curso ou a falta de conhecimento prévio sobre a carreira escolhida no vestibular. Se o ensino for de qualidade e houver bons professores, no entanto, ele fará de tudo para continuar estudando”

As pesquisas de Oliveira (2004) e de Andrade (2005) tiveram como objetivo analisar a evasão escolar e conhecer o nível de satisfação e as intenções de lealdade por parte do educando com relação a uma determinada IES, respectivamente. Os estudos evidenciaram que muitas vezes o aluno abandona seu curso por insatisfação com o mesmo. Para reduzir a evasão nas IES é necessário que haja uma interação entre a instituição de ensino e o aluno. Para aumentar o nível de satisfação do aluno é necessário, inicialmente, o engajamento dos dirigentes, proporcionando a qualificação do projeto pedagógico, professores qualificados, infraestrutura e recursos disponíveis, pois o número de IES está aumentando, o que proporciona ao estudante a possibilidade de recorrer a novos cursos e instituições.

Em suas pesquisas de mestrado, Gurgel (2011) e Sá (2005) buscaram traçar o perfil do aluno de curso superior, interpretar o processo de evasão e propor alternativas para evitá-la. Quanto ao perfil do aluno, concluíram que há problemas relativos à escolha da profissão, à condição socioeconômica e a influência familiar. O fato de não terem vocação para o curso desejado faz com que se desmotivem e acabem evadindo. As variáveis identificadas independem do sexo, escolaridade e estado civil.

As pesquisas de Reid (2009) e Palma (2007) tiveram como objetivo identificar as principais causas da evasão nos cursos de Ciências Exatas e no curso de Psicologia, respectivamente, de uma determinada (IES). Os autores concluíram que as principais causas são: falta de vocação para o curso escolhido, aprovação em novos vestibulares, problemas relativos à estrutura do curso, metodologia de ensino inadequada, descontentamento com professores e com disciplinas básicas.

Lacerda (2010), em sua pesquisa, apresenta alguns aspectos que podem colaborar com a criação de uma rede temática, por meio da tecnologia colaborativa da informação e comunicação, com o intuito de compartilhar conhecimentos sobre evasão e retenção dos alunos e conclui que, a criação da aplicação Rede Temática sobre Evasão e Retenção (REvRe), pode ser considerado aspecto inovador da pesquisa.

Torres (2007) detectou, a falta de conteúdos, em termos de pré-requisitos de matemática, em alunos ingressantes no ensino superior. A fim de minimizar os índices de reprovação ou evasão em determinada disciplina, criou uma proposta de ações, desenvolvida por meio do ambiente moodle, e monitorias virtuais para servirem de apoio aos alunos nos momentos de estudo, o que auxiliou na aquisição de pré- requisitos, proporcionando segurança e motivação ao aluno para continuar no curso e na instituição desejada.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu identificar os principais focos das pesquisas sobre evasão no ensino superior nos últimos dez anos no Brasil, em nível de mestrado e de doutorado. Dentre eles, os que aparecem com maior frequência são estudos que buscam identificar fatores que levam os alunos a evadirem. As conclusões desses estudos apontam como principais fatores, a falta de condições financeiras para manter-se num programa de Ensino Superior, a influência familiar, a falta de vocação para a profissão, a repetência em disciplinas que envolvem o conhecimento matemático, a qualidade do curso escolhido, a localização da IES, as condições relacionadas ao trabalho, a idade do aluno (quanto maior a idade, mais fácil do aluno evadir). Também aparecem fatores como a insatisfação com o projeto pedagógico, com os professores, com a infraestrutura e recursos disponíveis, o excesso de oferta de vagas, os problemas financeiros, o desemprego, e as dificuldades na aprendizagem. Cabe mencionar, ainda, que uma das pesquisas evidenciou que nos cursos em que a exigência relacionada à nota mínima para ingresso é mais baixa, o índice de evasão é maior.

Concluímos que estudos nessa área ainda são escassos, sendo que a maioria se limita a identificar as causas da evasão, sem apontar caminhos para enfrentar o problema. Fica evidente a necessidade de ampliação e de aprofundamento de estudos nessa área, preferencialmente com foco na proposição e análise de alternativas para reduzir os índices de evasão.

REFERÊNCIAS

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