A qualidade da educacao superior e suas relacoes Qualidades da educacao superior e suas relacoes com o ingresso, a motivacao e a permanencia: uma Análise comparativa.BRASIL-URUGUAI.
LÍnea TemÁtica: Posibles causas y factores influyentes en el abandono. PredicciÓn del riesgo de abandono.
SANTOS, Bettina Steren dos
DICONCA, Beatriz
COLLAZO, Mercedes
UDELAR- URUGUAY
PUCRS - BRASIL
Resumo. Apresenta-se uma proposta de investigação comparada de Educação Superior entre Brasil e Uruguai, que focaliza aspectos relacionados com o ingresso, motivação e a permanência dos estudantes. Ambos os países têm definido estratégias para expandir o acesso e estimular a permanência. No entanto, registram grandes diferenças nos modelos de acesso. Nesse sentido, dois casos paradigmáticos são a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS-Brasil) e da Universidade da República (UDELAR-Uruguai). No primeiro caso, é uma universidade privada, paga, com acesso seletivo e a segunda é uma universidade pública, com o acesso livre, aberta e possibilidade de matrículas múltiplas. Além das formas de acesso e os seus impactos, entre os vários fatores que influenciam a retenção de alunos da Universidade e que compreende aspectos econômicos, institucionais, culturais e de mercado, se indagará sobre variáveis motivacionais. A pesquisa utiliza uma categorização de indicadores e variáveis motivacionais organizados em seis dimensões, considerando a perspectiva do estudante: o sucesso na faculdade, a percepção de si mesmo, hábitos e estratégias de aprendizagem, expectativas de futuro, o papel do professor e da estrutura institucional. As informações serão captadas por instrumentos padronizados, complementados com entrevistas semiestruturadas. Aplicar-se-ão a estudantes de carreiras selecionadas utilizando-se dois critérios: campo disciplinar (Exatas, Humanas e Saúde) e que respondam a situação de quantidade em presença de alunos. Assim, dessa forma se propõe contribuir com conhecimento para adequar as práticas e ajustar as políticas educativas que promovam uma maior permanência de alunos. Essa pesquisa está em andamento e é parte de um intercâmbio CAPES / UDELAR na qual as duas universidades participam. Cabe ressaltar que é um estudo que está em sua fase inicial, portanto, apresenta-se a proposta de investigação que estamos desenvolvendo.
Palavras-chave: Abandono, Motivação dos Alunos, Investigação Comparativa.
1. Introdução
Com o intuito de fomentar a qualificação na formação de recursos humanos de alto nível e centrada na excelência da educação superior, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, juntamente com a Universidad de la República – UDELAR vem apostando no estabelecimento de parcerias com diversas instituições de ensino superior em nível local, nacional e internacional, como forma de superar os desafios provenientes da educação superior e do emergente papel da universidade frente ao desenvolvimento econômico e às dificuldades sociais.
Essas parcerias vêm consolidando a construção de redes internacionais e interinstitucionais que, em ações cooperativas, tem produzido conhecimentos, recursos, estratégias e planos voltados à superação dos desafios relacionados à qualidade, ao acesso e à permanência na educação superior, além de promover avanços qualitativos na formação de recursos humanos na área educacional.
Assim como a PUCRS, as metas institucionais da UDELAR e dos programas de pós-graduação envolvidos, incluem a superação de problemas relacionados ao acesso, à equidade e à qualidade da educação superior nos contextos uruguaio e brasileiro. Como mecanismos de enfrentamento dessas fortes dificuldades, ambas as instituições buscam potencializar a Formação dos recursos humanos, em especial a qualificação dos docentes formadores, buscando possibilitar a análise da realidade e a investigação de alto nível, apostando na construção do conhecimento e inovação.
Nesse sentido, o presente artigo expõe a pesquisa que está sendo realizado em parceria entre as duas instituições. O objetivo gral do estudo é analisar a qualidade da Educação Superior e suas relações com o ingresso, a motivação e a permanência dos estudantes nas duas instituições. È um estudo comparativo, com duração de dois anos e no qual participam docentes e discentes das duas instituições.
2. Fundamentação teórica
A garantia da qualidade da educação superior compreende uma das principais metas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, uma vez que a produção do conhecimento tem sido diretamente associada ao desenvolvimento humano, econômico e social. Inúmeros conceitos de qualidade têm sido propostos para esse nível educacional, desde as concepções isomórficas que objetivam a padronização de processos centrados predominantemente na avaliação, até aquelas que primam pela busca da qualidade com respeito à diversidade e às especificidades ou, ainda, as concepções de qualidade com equidade, alicerçadas nos princípios da justiça, da inclusão e da igualdade étnica e social (MOROSINI, 2009).
Diante dessas concepções e, em especial, pautados pelos conceitos de diversidade e equidade, diversos organismos internacionais, tais como o Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e Caribe (UNESCO-IELSAC), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Global University Network for Innovation (GUNI), entre outros, têm procurado disseminar políticas direcionadas à garantia de acesso e qualidade do sistema universitário. Nesse contexto, também se inserem as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), estipuladas para o decênio 2011-2020, que especificam as estratégias para a ampliação do acesso, estímulo à permanência, ampliação do financiamento estudantil e intensificação das estratégias de avaliação voltadas à elevação da qualidade da educação superior.
Dentre os principais problemas relacionados à educação superior em nível mundial, a questão da permanência na universidade passa a ser um tema de extrema relevância. De acordo com Silva Filho et al. (2007) a evasão anual nas IES brasileiras tem oscilado em torno de 22%, dados que não diferem muito das médias internacionais. Essas taxas são menores nas IES públicas, as quais variam entre 9 e 15%, ao passo que nas IES privadas, esses valores oscilam na faixa de 26%. Apesar da importante variabilidade percebida no setor público/privado, percebe-se que o aspecto financeiro não é o único fator desencadeante da evasão estudantil, visto que ela também ocorre em grandes proporções nas universidades públicas. Na Universidad de la República - UDELAR, apesar das dificuldades de medição, as taxas de abandono estudantil estima-se entre um 25% a 50% segundo as opções disciplinares.
Trata-se, portanto, de um problema multifatorial, que envolve inúmeros aspectos econômicos, institucionais, mercadológicos, culturais, entre outros. Dentre esses, acredita- se que as diferentes formas de acesso à universidade representem um dos fatores que podem gerar impacto sobre a persistência aos estudos. Enquanto que no Brasil se tem o acesso seletivo, por meio de aprovação em concursos específicos, na maioria dos países da América Latina vigora o sistema de ingresso irrestrito à universidade, em que a principal exigência formal para ingressar na educação superior passa a ser o diploma de conclusão do curso secundário.
As diferentes formas de acesso produzem distintos mecanismos de preparação para a carreira profissional. No modelo seletivo, encontra-se uma maior formação que implica numa preparação em cursos oferecido por institutos particulares para concorrer ao vestibular, ou seja, a seleção tem um componente econômico que leva a um acesso diferencial baseado em desigualdades sociais.
Em contrapartida, a formação previa também implica numa reflexão sobre a futura carreira por parte do candidato, enquanto que no modelo de acesso irrestrito, é mais democrático, a dinâmica do processo de ingresso não estimula uma preparação prévia do estudante e pode acentuar a tomada de decisões precipitadas ou equivocadas quanto ao curso de escolha para a futura carreira profissional. Esses diferentes mecanismos de ingresso, supomos que impactam de formas distintas sobre os índices de permanência e evasão nas universidades.
Além da forma de acesso e seus impactos, diversas variáveis motivacionais interferem na permanência dos estudantes na universidade. As teorias motivacionais contemporâneas oferecem subsídios para compreender esta questão. A perspectiva de Tempo Futuro (Future Time Perspective) preconiza que quando os estudantes possuem perspectivas quanto à carreira profissional, os mesmos tendem a desenvolver projetos de ação e passam a nutrir valores positivos com relação às tarefas e desafios pertinentes à trajetória de estudos na universidade. De acordo com Nuttin e Lens (1985) e DeVolder e Lens (1982) na existência de metas, objetivos e perspectivas futuras, os estudantes tendem a realizar as tarefas com maior envolvimento, atribuindo um valor mais elevado em relação aos comportamentos que possam estar relacionados com o objetivo alvo.
A teoria do envolvimento de Astin (1985) e as pesquisas realizadas por Tinto (2000) enfatizam que o envolvimento e o engajamento consistem no mais importante argumento para a persistência nos estudos. Esses conceitos também encontram relação com a Teoria da Autodeterminação (Self Determination Theory) que fundamenta que as necessidades básicas de autonomia, competência e pertencimento constituem aspectos indispensáveis para o comportamento autônomo e motivado (Deci, Ryan, 1985, 2000).
Revisando essas teorias, Santos, Antunes e Schmitt (2011) categorizaram diferentes aspectos relacionadas com a motivação acadêmica. Nesse estudo, apresentaram em caráter propositivo, uma categorização dos indicadores e variáveis motivacionais, organizados em 6 dimensões, considerando a perspectiva do estudante univeristário: (1)
Êxito na universidade; (2) Percepções de si; (3) Hábitos e estratégias de aprendizagem; (4) Perspectivas futuras; (5) Papel do docente; e (6) Estrutura institucional.
O Êxito na Universidade se refere às variáveis tais como o rendimento acadêmico, a freqüência às aulas, a obtenção das metas pessoais, entre outros aspectos. Os teóricos são consensuais em apontar que o desempenho e o rendimento estão intimamente associados com a motivação e com a persistência aos estudos (Ames, 1992; Anderman e Maehr, 1994; Boruchovitch, 2008).
As Percepções de si compreendem aspectos relacionados à maneira como o aluno percebe suas próprias competências e capacidades. Pode-se destacar a percepção de competência, a percepção de autonomia, a percepção de pertencimento (Deci e Ryan, 2000), a percepção do esforço empregado, as percepções de utilidade/instrumentalidade das tarefas (De volder e Lens, 1982), e as expectativas de êxito e o autoconceito, dentre os principais aspectos.
Com relação aos Hábitos e estratégias de aprendizagem, a quantidade de tempo dedicado, o esforço empregado, os estilos de aprendizagem, as estratégias cognitivas, metacognitivas e autorreguladoras, representam variáveis motivacionais importantes.
As Perspectivas futuras desenvolvidas pelos estudantes são fundamentais para os comportamentos, atitudes e ações empregadas durante o período universitário (Lens, 1993; De volder e Lens, 1982; Simons et al., 2004; Vansteenkiste et al., 2009). Nesse aspecto, pode-se situar as metas estabelecidas a curto e a longo prazo quanto à carreira profissional, o valor atribuído às próprias metas e a articulação dessas com o momento presente.
Já os fatores relacionados com o Papel do docente exercem fortes influências sobre a motivação do aluno (Ames, 1990; Anderman e Maehr, 1994; Guimarães, 2004; Boruchovitch, 2008). Dentre os aspectos é possível situar a metodologia empregada pelo docente, a planificação realizada, a flexibilidade no andamento do curso, os valores e pensamentos do professor e, especialmente, o clima da aula e as relações afetivas estabelecidas.
E, por fim, a Estrutura Institucional também impacta, através da qualidade e funcionalidade da estrutura física, dos recursos tecnológicos, do acesso à informação, do apoio institucional, entre tantos outros aspectos ligados à universidade.
O conjunto das dimensões apresentadas e suas respectivas variáveis, relacionam-se com o interesse pelos estudos, na medida em que estão contemplados segundo a percepção dos estudantes. Em contrapartida, quando alguma dessas dimensões não é alcançada ou não atinge níveis satisfatórios, podem estar relacionadas com o abandono aos estudos e a evasão da universidade. Diante disso, compreender essas variáveis e suas associações com a permanência e com a evasão, passa a ser uma necessidade para a melhoria da eficácia do sistema universitário.
Nesse sentido, com a presente proposta de cooperação internacional, pretende-se, além de subsidiar o fortalecimento da pós- graduação no MERCOSUL, avançar qualitativamente no tema da qualidade e permanência na educação superior, a partir de aspectos relacionados às diferentes formas de ingresso e aos processos motivacionais de estudantes universitários.
3. Caracterização diferencial do ingresso
3.1 Ingresso nas Universidades Brasileiras
Em pleno século XXI podemos dizer que a Universidade deveria ser para todos, ou pelo menos, para aqueles que consideram importante essa formação profissional. No que tange ao acesso, essa afirmação torna-se consolidada por meio das diferentes formas de acessibilidade ao Ensino Superior. Sendo assim, encontramos diferentes processos de ingresso às Instituições, entre eles: o tradicional concurso Vestibular, o ENEM e o SiSU. Há também, programas do governo como ProUni, UAB, ReUni, Fies, que facilitam o ingresso e a permanência nas instituições de educação superior.
O concurso Vestibular tradicional é um processo seletivo, no qual os vestibulandos que obtiverem a maior pontuação ficam com a vaga. Cada instituição aplica um tipo de prova. Algumas instituições dividem o vestibular em fases, podendo ser a primeira eliminatória com perguntas de múltipla escolha, e a segunda discursiva para testar se o vestibulando está claro em suas colocações. Ressalta-se que todas as universidades consideram de suma importância a realização de uma redação em alguma das fases de seu processo seletivo.
O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é um programa que surgiu em 1998 com a finalidade de medir o desempenho dos estudantes do ensino médio, tornando-se hoje, uma das formas mais utilizadas para o ingresso em instituições públicas e/ou federais. Segundo o portal do MEC (BRASIL, 2012) “o Ministério da Educação apresentou uma proposta de reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e sua utilização como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais. A proposta tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. As universidades possuem autonomia e podem optar entre quatro possibilidades de utilização do novo exame como processo seletivo:
Como fase única, com o sistema de seleção unificada, informatizado e on-line;
Como primeira fase;
Combinado com o vestibular da instituição;
Como fase única para as vagas remanescentes do vestibular.
Ainda dentro das possibilidades de ingresso, destaca-se o SiSU (Sistema de Seleção Unificada), criado e organizado pelo Ministério da Educação (MEC) cujo programa em seu objetivo, conforme o portal do MEC (BRASIL, 2012) visa “selecionar os candidatos às vagas das instituições públicas de ensino superior através da nota obtida no ENEM”. E seu destaque está na vantagem de unificar todos os testes em um só.
O PROUNI (Programa Universidade para Todos), conforme o Portal do MEC (BRASIL, 2012) é um programa criado pelo Governo Federal em 2004, e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005, cuja finalidade é a concessão de bolsas de estudos integrais e privada na condição de bolsistas integrais, esse processo conta com um sistema de seleção informatizado e impessoal no qual, os candidatos/estudantes são selecionados pelas notas obtidas no ENEM, conjugando-se desse modo, inclusão à qualidade e mérito dos estudantes. De acordo com o Ministério da Educação “As instituições que aderem ao programa recebem isenção de tributos” (BRASIL, 2012).
O UAB (Universidade Aberta do Brasil), de acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2012) é um programa que foi instituído pelo Decreto 5.800 de 8 de junho de 2006, para o desenvolvimento da modalidade de educação à distância, com a finalidade de expandir a oferta de cursos e programas de educação superior no País. O ingresso dos estudantes a essa modalidade ocorre: pelo Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, no qual o interessado, necessariamente professor da educação básica das redes públicas, estadual ou municipal, ainda sem graduação, deve preencher os dados constantes da Plataforma Freire, candidatar-se a um curso específico e ser aprovado em processo seletivo, considerando que apenas os cursos de licenciatura e de especialização para professores são ofertados nessa modalidade de ingresso, e pela candidatura às vagas destinadas à demanda social. O acesso aos cursos ofertados no Sistema UAB é aberto a qualquer candidato que atenda aos pré-requisitos do curso e tenha sido aprovado em processo seletivo organizado pela instituição de ensino ofertante. Todos os cursos do sistema UAB podem ter vagas ofertadas nessa modalidade de ingresso. O site do Ministério da Educação (BRASIL, 2012), diz que a proposta “também pretende ofertar cursos a dirigentes, gestores e outros profissionais da educação básica da rede pública”.
O REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), conforme Portal do MEC (BRASIL, 2012), que tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência no ensino superior utiliza como meio de ingresso, o vestibular e as ações do programa contemplam o aumento de vagas nos cursos de graduação, ampliação da oferta de cursos noturnos, promoção de inovações pedagógicas no combate a evasão, entre outras metas que tem o propósito de diminuir as desigualdades sociais no Brasil.
Já o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), de acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2012) é um programa do Ministério da Educação destinado a financiamentos da graduação na educação superior para estudantes matriculados em instituições não públicas, em cursos com avaliação positiva no SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) o que proporciona a permanência do estudante na universidade, mesmo que esse, não tenha condições econômicas de manter o curso. Declara BRASIL (2012) que “o Fies é operacionalizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE. Todas as operações de adesão das instituições de ensino, bem como de inscrição dos estudantes são realizadas pela internet, o que traz comodidade e facilidade para os participantes, assim como garante a confiabilidade de todo o processo”.
Programas como PROUNI, FIES, REUNI, UAB, SiSU, VESTIBULAR e ENEM possibilitam aos interessados, candidatos às vagas no ensino superior, diferentes formas de ingresso, bem como suporte financeiro à permanência desses nas universidades.
No caso da PUCRS a forma de acesso é o vestibular, que acontece duas vezes por ano. Quanto ao financiamento, no ano de 2012, 20% dos estudantes são alunos PROUNI.
3.2 Ingresso nas Universidades Uruguaias
No Uruguai, o conjunto de instituições universitárias se compõe de 4 universidades privadas e uma única universidade pública, a UDELAR.
Trata-se de uma instituição de caráter autônoma, que é responsável pelo ensino público superior em todo o território nacional, co-dirigida por representantes dos três níveis (professores, alunos e ex-alunos) eleitos por votação. É composto por diferentes serviços:
14 faculdades, 2 institutos, 2 escolas, 3 centros universitários no interior, uma regional.
Em resumo, pode-se dizer que nos localizamos em uma instituição educativa de caráter macro universidade. (Didrickson, 2002)
Uma macro universidade, no sentido proposto pelo Instituto Internacional da UNESCO para a Educação Superior na América Latina (IESALC-UNESCO), isto é, uma universidade pública que:
responde por 90% do total de matrículas, atualmente superior a 80.000 alunos de graduação;
conta com uma estrutura organizacional que abrange todas as áreas do conhecimento, as mais variadas disciplinas e todos os níveis de ensino superior: terciário (tecnólogos), graduação, pós-graduação e de graduação contínua;
desenvolve de forma quase exclusiva a investigação científica nacional;
recebe 100% de financiamento estatal destinado ao nível universitário;
É inteiramente gratuita para os estudantes de graduação em sua totalidade e de pós- graduação em sua maioria. Tem sob sua responsabilidade o mais amplo desenvolvimento e difusão da cultura nacional.
Segundo o Censo Estudantil tem 81.774 estudantes nos Serviços. Sendo que 82,7% encontram-se nas faculdades, 15,7% em escolas universitárias e 1,6% em novas incorporações (...). Entre os censos de 1999 e 2007, a população estudantil aumentou 23%, o que supõe uma taxa de crescimento médio anual de 2,6% (Departamento de Planejamento, Censo 2007). Por outro lado, o II Censo docente do ano de 2000, registrou um total de 6.130 professores.
A Universidade da República desenvolve pesquisa, ensino e extensão em uma ampla gama de áreas disciplinares, abrigando em seu interior desenvolvimento desigual que nos coloca em uma instituição, sem dúvida, complexa.
O modelo de acesso à Universidade da República é aberto, com forte característica democrática não apresentando restrições para o ingresso dos estudantes na instituição, exceto se não tiver completado o ciclo secundário. Ou seja, não há restrições econômicas, é gratuita, não tem custo de matrícula, nem de inscrição a exames, e ainda os alunos têm bolsas de estudo da Universidade e do Fundo de Solidariedade (financiado pelo profissional graduado UDELAR), em que o aluno recebe auxílio para se manter total ou parcialmente (alimentação, transporte), enquanto estuda. Não apresenta mecanismos de seleção com base no conhecimento dos estudantes, não requer exame de admissão, ou levam em conta os resultados da escolaridade anterior para a inscrição nas várias orientações disciplinares, a escolha da carreira fica a critério exclusivo do aluno.
Além disso, a Universidade da República não restringe o tempo de permanência dos alunos na instituição.
As características desse modelo mostra que o aluno tem uma ampla margem de liberdade para a mobilidade dentro do sistema. Por exemplo, a multiinscrição. Muitas vezes os alunos registram uma inscrição prévia em outras carreiras e até mesmo simultaneamente (mais de uma carreira). Também constata-se que o modelo não limita o acesso por meio de cotas.
Em suma, o modelo de educação pública uruguaio é caracterizado por uma orientação para a equidade no acesso. Essa afirmação não implica desconhecer que com o mesmo modelo, quando de sua fundação, apenas uma elite da população ingressava no ensino superior, devido à persistência de desigualdades sociais. Como na América Latina em que as instituições de ensino superior registram uma expansão e um crescimento importantes. No entanto, a atual massificação é acompanhada por um abandono precoce. Nesse sentido, um dos objetivos da UDELAR é sintetizada nas palavras do Reitor ensinar a mais pessoas, a mais alto nível, durante mais tempo (Arocena, 2010, P.7).
4. Objetivo geral
Realizar um estudo comparado sobre a qualidade da Educação Superior no Brasil e Uruguai focalizando aspectos relacionados com o ingresso, motivação, permanência e desvinculação dos estudantes.
5. Procedimentos
A pesquisa envolve uma série de procedimentos organizados para alcançar os objetivos propostos pelo estudo. São eles:
Levantamento do estado da arte sobre a evasão no Brasil e Uruguai;
Levantamento das diferentes formas de ingresso nos dois países e especificamente nas duas universidades participantes do estudo;
Elaboração e validação do questionário para avaliar a motivação discente;
Aplicação do questionário nos discentes da PUCRS e da UDELAR;
Realização de entrevistas com estudantes das duas universidades;
Levantamento dos índices de evasão nas duas universidade.
6. Metodologia
A investigação está sendo desenvolvida através de uma abordagem quanti-qualitativa, a qual se orienta em diferentes fases. Na pesquisa qualitativa, segundo Lüdke e André (1986) os pesquisadores, através de estudos aprofundados e do contato direto com o objeto de pesquisa, ampliam seus conhecimentos e buscam assegurar novos caminhos apontando indicadores, variáveis e critérios para o levantamento de dados quantitativos.
O levantamento do estado da arte sobre o tema de pesquisa é importante para poder mapear as diferentes formas de acesso na universidade bem como os números que ilustram o acesso e abandono nas duas instituições. Nesse sentido, o trabalho aqui apresentado centra-se na primeira parte da pesquisa, na qual procuramos conhecer as duas realidades, no que se refere ao ingresso dos estudantes nas universidades nos dois contextos.
A pesquisa quantitativa, por sua vez, pretende ser utilizada como instrumento para ampliação dos fenômenos observados, possibilitando capturar realidades de difícil detecção.
Para Falcão e Régnier (2000, p. 232),
[...] a ideia de quantificação abrange um conjunto de procedimentos, técnicas e algoritmos destinados a auxiliar o pesquisador a extrair de seus dados subsídios
para responder à(s) pergunta(s) que o mesmo estabeleceu como objetivo(s) de trabalho.1
Esses autores destacam que a justificativa básica para a eleição e utilização desse método de pesquisa relaciona-se com a natureza do problema e com as características das informações selecionadas pelo pesquisador. Para eles, “a informação que não pode ser diretamente “visualizada” a partir de uma massa de dados, poderá sê-la se tais dados sofrerem algum tipo de transformação que permita uma observação de outro ponto de vista”. (Falcão e Régnier, 2000, p. 232).
Dessa forma, tendo em vista a utilização de diferentes metodologias, busca-se sincronizá- las em distintas etapas, de forma que uma possa fornecer subsídios para a outra, possibilitando aprofundamento e precisão quanto aos fenômenos investigados.
Em uma fase mais avançada da pesquisa, pretende-se utilizar a metodologia do estudo de caso, procurando selecionar um grupo seleto de sujeitos (n=15). Interessa, particularmente, aqueles sujeitos que demonstrarem elevados níveis de motivação e satisfação, a partir dos resultados das etapas anteriores. Nesse momento, pretende-se proceder a partir de entrevistas em profundidade, realizadas a partir de narrativas de vida, onde se analisarão aspectos significativos da historia de vida dos sujeitos investigados, procurando estabelecer relações desses com os níveis de motivação, satisfação e permanência na educação superior.
Segundo Cunha (1997), o sujeito, ao organizar suas idéias para um relato escrito ou oral reconstrói sua vivência de maneira reflexiva e realiza uma auto-análise, o que possibilita criar novas formas de entendimento de sua própria prática. Quando a metodologia da narrativa é utilizada na pesquisa, ocorre uma relação entre os participantes, há um processo coletivo, imbricando a vivência do investigador na do investigado. Devido a esta simbiose entre investigador e investigado e, ao mesmo tempo, ao necessário distanciamento reflexivo do objeto de pesquisa, o pesquisador que trabalha com narrativas precisa garantir o rigor, sem esquecer o entrelaçado de relações.
1Grifo dos autores.
7. Considerações
Esse artigo se propõe expor a fase inicial da pesquisa na qual fazemos um comparativo entre as diferentes formas de acesso nas duas universidades participantes do estudo. Constata-se que existe uma significativa diferença no que se refere à forma de acesso, na PUCRS o mesmo é restrito, via sistema seletivo, vestibular e na UDELAR é irrestrito com possibilidade de multi entrada.
As implicações das características do modelo de acesso irrestrito alcançam distintos níveis de impacto social, institucional e pessoal que nos propomos a identificar e comparar com o caso da PUCRS no Brasil.
Sendo assim, observa-se que esse fato faz com que as taxas de evasão sejam bem diferentes, porém, em ambos casos percebe-se que o acesso à educação superior ainda apresenta um perfil elitista, característica essa que com as novas políticas de ações afirmativas e os programas governamentais estão mudando esse panorama.
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