Formacao humana e inclusao digital dos professores que atuam na educasao digital dos professores que atuam na educacao a distancia: aspectos relacionados ao abandono academico do ensino superior.
LÍnea TemÁtica: Posibles causas y factores influyentes en el abandono. PredicciÓn del riesgo de abandono
ARRUDA, Marina Patrício
Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC - BRASIL
e-mail:[email protected]
SCHNEIDER, Eliane Cristina Araujo
Faculdade Cenecista de Osório FACOS - BRASIL
e-mail: [email protected]
Resumo: A disseminação de computadores traz mudanças fundamentais para a sala de aula onde, possivelmente, iremos encontrar professores como excluídos digitais que assumem, mesmo despreparados, o desafio da Educação à Distância (EAD). Esse artigo tem por objetivo discutir a formação humana e a inclusão digital dos professores que atuam na EAD como aspectos relacionados ao abandono acadêmico do ensino superior. A discussão é pertinente tendo em vista que no cenário educacional do país, cursos de EAD são desenvolvidos e implantados cada vez mais. Nesse contexto, professores terão de redobrar sua atenção e começar por aprender a trabalhar com multimídia e equipamentos especiais, desenvolvendo melhor sua comunicação escrita, criando nova sensibilidade para os espaços virtuais, para interagir em rede em diferentes condições e, com diferentes subjetividades. A falta de discussões sobre a questão da inclusão digital do professor no processo da EAD de forma articulada à formação humana é de grande relevância considerando que pesquisas apontam que a tradicional falta de estrutura para a EAD já é superada pela falta de preparo desses profissionais em lidar com as novas tecnologias. Entretanto, a formação dos professores para atuarem nos ambientes de aprendizagem informatizados não pode se reduzir ao desenvolvimento da técnica, é preciso investir num trabalho capaz de fortalecer a relação pedagógica como um todo pois aluno e professor seguem aprendendo. A formação humana como foco da prática educativa, implica em favorecer o crescimento do professor como um ser humano integral. O abandono acadêmico no ensino superior pode estar relacionado à prática pedagógica do professor cuja formação não integra conhecimento técnico e conhecimento significativo, razão e emoção. A EAD como um novo espaço de construção de conhecimento além de significar uma mudança paradigmática para a Educação, também indica um tempo de insegurança e incertezas pela falta de referência para essa nova prática. Espera-se com esse artigo contribuir na reflexão sobre o papel do professor como sujeito histórico a ser levado em conta em toda a sua dimensão complexa.
Palavras Chave: Formação humana, Inclusão digital dos professores, Educação à distancia, processos socioculturais virtuais.
Introdução
São poucos os estudos sobre o abandono acadêmico no Ensino Superior no Brasil, entretanto a literatura internacional vem dando maior destaque ao assunto (Soares, 2003; Tinto, 1993).
Alguns estudos tratam da necessidade das instituições “reterem” os seus alunos mas tendem a ignorar o papel da própria instituição de ensino quanto às situações e formas de abandono. De certa forma, as reflexões ou apresentam fragilidades na sua fundamentação teórica (Tinto, 1993) ou sobrevalorizam variáveis psicológicas (vocação, motivação, capacidades) associando o abandono a fracasso pessoal (Rossman & Kirk, 1970). Essa reflexão procura ampliar essa discussão destacando a formação humana e a dificuldade de inclusão digital dos professores que atuam na educação à distancia como aspectos relacionados ao abandono acadêmico do ensino superior.
O século XXI promoveu um encontro entre culturas distintas marcadas umas pelas outras tendo em vista o processo de globalização e a discussão de hibridização cultural possibilitadas pela globalização. Segundo Eagleton (2005) as culturas não são mais puras e diferenciadas, todas levam de certa forma a marca do modo de vida capitalista.
Bauman (1998, 1999, 2005) e Hall (2005)destacam que o processo de globalização coloca novas características temporais e espaciais no mundo cultural. Os espaços estão mais híbridos e as pessoas ao retroalimentarem a troca de idéias e valores transformam identidades estabelecendo novos procesos socioculturais na contemporaneidade com ênfase às tecnologias e seus artefatos.
As novas tecnologias interativas (computador, multimeios, Internet) por seu caráter versátil, transformam os modos de aprender por se apresentarem como co-estruturadoras das formas de saber (ASSMANN, Hugo & MO SUNG, Jung, 2000). Perturbadas pelas reviravoltas desse mundo que funciona em rede, buscamos nesse artigo problematizar questões relativas ao processo de inclusão digital do professor.
O objetivo desse artigo é discutir a formação humana e a inclusão digital dos professores que atuam na EAD como aspectos relacionados ao abandono acadêmico do ensino superior. A discussão é pertinente tendo em vista que no cenário educacional do país, cursos de EAD são desenvolvidos e implantados cada vez mais. Nesse contexto, professores terão de redobrar sua atenção e começar por aprender a trabalhar com multimídia e equipamentos especiais, desenvolvendo melhor sua comunicação escrita, criando nova sensibilidade para os espaços virtuais para interagir em rede em diferentes condições e com diferentes subjetividades. A falta de discussões sobre a questão da inclusão digital do professor no processo da EAD de forma articulada à formação humana é de grande relevância considerando que pesquisas apontam que a tradicional falta de estrutura para a EAD já é superada pela falta de preparo desses profissionais em lidar com as novas tecnologias.
A disseminação cada vez mais rápida de computadores traz mudanças fundamentais para vários setores inclusive para os professores que podem, muitas vezes, ser considerados como excluídos digitais conforme aponta Silveira (2003). A complexidade da EAD digital amplia a cognição humana propiciando novas possibilidades de criação por meio dos processos de simulação, hipertextos e multimídias, mas, por outro lado, força os professores a refletirem sobre a sua própria inclusão digital e seu processo de formação. Ao professor cabe então avaliar o progresso tecnológico, os valores da sociedade contemporânea, os fenômenos sociais em constante mudança para refletir sobre esse novo espaço de construção de conhecimento. Trata-se de uma mudança paradigmática para a Educação por trazer avanços rumo a possibilidades mais democráticas, mas também indica um tempo de insegurança e incertezas pela falta de referências para essa nova caminhada.
A formação humana e a inclusão digital dos profesores
Na cultura ocidental, a educação foi sempre vista como processo de formação humana (SEVERINO, 2006). Essa formação diz respeito à humanização do homem como um ente que não nasce pronto, e que está em contínuo desenvolvimento. Nessa perspectiva, “é bom lembrar que o sentido dessa categoria envolve um complexo conjunto de dimensões que o verbo formar tenta expressar: constituir, compor, ordenar, fundar, criar, instruir-se, colocar-se ao lado de, desenvolver-se, dar-se um ser ( p. 621).”
Assim, a idéia de formação vem caracterizada por uma qualidade existencial marcada pela emancipação, condição de sujeito autônomo. A educação não é considerada apenas como um processo institucional e instrucional, mas, principalmente, um investimento formativo do humano.
Como afirma Severino, “Quando se fala, pois, em educação para além de qualquer processo de qualificação técnica, o que está em pauta é uma autêntica Bildung, uma paidéia, formação de uma personalidade integral (2006, p. 621).
O momento histórico vivido nos permite refletir sobre a formação humana numa perspectiva diferenciada do que a Filosofía Contemporânea da Educação fez até então. Sem perder as imprescindíveis referências éticas e políticas, busca-se hoje o processo de formação de um sujeito ético, cidadão e político, pessoa-habitante de um universo coletivo. Por certo, os educadores envolvidos no processo de EAD terão de redobrar sua atenção e começar por aprender a trabalhar com multimídia e equipamentos especiais, desenvolver melhor sua comunicação escrita, criar nova sensibilidade para os espaços virtuais para perceber o desenvolvimento da diversidade de alunos que passam a interagir em rede e, em diferentes condições (GATTI, 2005).
Se aceitarmos como plausível o cenário desenhado para o mundo no terceiro milênio, seremos levados a concluir que uma reflexão sobre a inclusão digital do professor no processo da Educação à Distância é de grande relevância e ainda pouco discutida no cenário educacional. Entretanto, sempre foi objeto de preocupação de estudiosos as condições reais da educação, tais como se desenham a cada momento histórico, os contextos e suas manifestações que atualmente nos permitem problematizar a prática dos professores frente ao desafio da Educação à Distância.
A complexidade da vida profissional do professor, na contemporaneidade mostra que a tradicional falta de estrutura para a EAD já é superada pela falta de preparo dos mesmos em lidar com as novas tecnologías. Nosso desconforto é ainda maior quando observarmos os currículos escolares ainda marcado pelo saber fragmentado, disperso em disciplinas. A educação tem sido uma grande aliada desse processo massificante na medida em que se ocupa cada vez mais em transmitir conhecimentos a respeito de coisas e verdades científicas em detrimento da educação integral do ser humano.
A utilização cada vez mais intensa das tecnologias da informação faz com que o ato de ensinar passe a ser problematizado por diferentes teorias na tentativa de compreender e explicar o ato de aprender; “a construção do conhecimento já não é mais produto unilateral de seres humanos isolados, mas de uma vasta cooperação cognitiva distribuída, na qual participam aprendentes humanos e sistemas cognitivos artificiais”(ASSMANN, Hugo & MO SUNG, Jung, 2000, p. 273), o que implica em modificações profundas na forma criativa das atividades intelectuais permitindo que a aprendizagem passiva ceda lugar aos propósitos de uma aprendizagem ativa e auto-organizável. Mas de que forma atuam os profesores de EAD?
Nossas inquietações são resultantes do fato de que ainda hoje nos deparamos com profissionais capazes de ler receitas, pessoas que cumprem competentemente tarefas relacionadas à reprodução de conhecimento. Entretanto, em meio a reorganização dos processos de trabalho, torna-se necessário educar o homem para que ele possa apreender e assimilar o mundo em que vivemos em condições de transformá-lo e não de reproduzi-lo.
O avanço das ciências cognitivas permitiu-nos reexaminar a maneira como o conhecimento é aprendido sem que seja ensinado tendo em vista que esse fenômeno sociocultural possibilita a construção de uma inteligência coletiva (LÉVY,1993) ou seja, o espaço ideal para conexão das inteligências. A idéia é que uma rede formada por múltiplos grupos permitiria a experimentação de novas formas de utilização dos potenciais individuais em cooperação (FRANCO, 1997).
Nesse novo paradigma “Educar é, fundamentalmente, criar condições para e acessos a experiências de aprendizagem” (ASSMANN, Hugo & MO SUNG, Jung,2000, p. 286). Mas como os professores podem usufruir das potencialidades que os recursos dos virtuais criando oportunidades de aprendizagem?
Nesse sentido, é importante reconhecer a influência de determinados paradigmas nas práticas docentes e a necessidade de mudar a atitude de quem ensina, porque nela estão condensados os valores que sustentam as práticas educativas. Como nos diz Morin “temos o sentimento de que algo envelheceu irremediavelmente nos métodos que conheceram o sucesso, mas que hoje não podem mais responder ao desafio global – diversificado, multiplicado – da complexidade” (2003, p.7). Assim, nosso desafio como profesores de EAD está em aprender para ensinar e, ensinar para seguir aprendendo. Considerando que as práticas pedagógicas são complexas e imprecisas impõe-se a necessidade de um pensamento problematizante capaz de incorporar mudanças paradigmáticas no modo de educar.
Para tanto, Cunha destaca que “ainda é muito forte a influência do paradigma da ciência moderna – calcada na compreensão positivista– sobre as concepções que presidem a prática pedagógica” (1998, p.109). Assim, entendemos que os professores também precisam de um ambiente propício à essa formação para a mudança. Espaço favorável a novos conhecimentos que inclua políticas, trabalho em grupo, apoio da equipe ligada ao Projeto Pedagógico, a possibilidade de experiência planejada de forma interdisciplinar e de reflexões constantes para a aprendizagem do novo. A tecnologia passa a exigir cada vez mais respostas rápidas e precisas, propondo desafios diferenciados que não podem ficar à espera de amanhã. Esse é um dos problemas a ser enfrentado pelos professores e motivo pelo qual ele precisa assumir sua inclusão digital. Trata-se de uma construção individual que só se concretiza na prática docente, seria essa uma das dimensões do profissionalismo. A profissionalização se constitui em meio às lutas por melhores condições de trabalho, pela melhoria da qualidade da educação, pela ampliação da formação humana de cada um.
O conhecimento, como a inteligência, se constrói. O professor não é mais um transmissor de conhecimentos, mas um mediador de saberes e emoções (ARRUDA, 2008), aprendendo a atuar na complexidade das redes digitais. Preocupa-nos, enquanto professoras universitárias, o modo como devemos viver a prática educativa nessa era digital que impõe rupturas inimagináveis há um tempo atrás:
(…) uma nova era em que o momento presente é mais importante. Um mundo difícil para aqueles cuja formação sempre privilegiou a aquisição de informações e experiências do passado em detrimento do que é atual e pontual. (...) Acumular informações na memória humana não parece ser uma boa estratégia nos nossos dias, pois os computadores fazem isso com muita eficiência. Por isso, a cada dia são delegadas aos computadores as tarefas de guardar, de registrar, de calcular e de manipular dados, ficando para o homem as atividades que não podem ser programadas. As atividades repetitivas vão desaparecendo como trabalho humano (FRANCO, 1997, p. 13).
O autor acima ainda destaca que o domínio das novas interfaces tecnológicas acaba por delinear um novo homem cujas habilidades precisam ser constantemente atualizadas e, é através da lida com a internet que ele vai permitir a ruptura com a tradicional tecnologia de mais de 500 anos: a impressão. Se a humanidade evoluiu passando por certas técnicas fundamentais de comunicação; oral e escrita chegando hoje aos computadores, essas redes de interfaces abertas a novas e imprevisíveis conexões, é porque construiu saberes apoiando-se em tecnologias revolucionárias. Na era digital, a internet apresenta-se como a nova tecnologia da inteligencia. Lévy (1999, p. 28) ao explicitar o conceito de Novas Tecnologias ressalta que estas incluem o esforço do trabalho de várias gerações ou seja, o valor agregado inestimável que muitas vezes fica esquecido. Acrescenta também que é preciso reconhecer que uma técnica não é neutra importa o uso que fazemos dela.
Na interação com o texto digitalizado, pela característica hipertextual das redes telemáticas que se caracterizam sobretudo por permitir conexões on line e interativas, se estabelece uma lógica dinâmica e não-linear capaz de potencializar formas de aprendizado cada vez mais complexas. É dessa forma, o hipertexto (LÉVY,1993) possibilita a ruptura com o pensamento fechado e com as formas de escrita até então conhecidas pois inclui uma outra lógica de construção. Além disso, na navegação digital experimentamos uma relação intensa de troca de saberes. Embora isso também seja possível nas relações presenciais, o que muda é que na interação com certas linguagens de programação, as pessoas, simultaneamente, lêem, ouvem, praticam e discutem o que aprenderam. Mas como podemos integrar o processo sociocultural virtual cuidando de nossa própria inclusão digital?
Aspectos relacionados ao abandono acadêmico no ensino superior
Para Suaiden (2003) a Inclusão Digital pode ser levada a bom termo quando se tem o que ele denomina “mediadores de informação” que primeiro trabalham o conceito de “alfabetização da informação” para que se possa utilizar o computador, acessar a internet e retirar informações, conceitos e conteúdos que empreendem melhoria no processo de ensino aprendizagem. Assim, estar incluído digitalmente significa saber selecionar e analisar o que se tem e com o que se pretende trabalhar. Entretanto, nem sempre os professores universitários têm tido tempo e oportunidades suficiente de atualização e aprendizado. Fato que o faz sentir-se despreparado para o desafio da EAD. Sabemos que em cursos e disciplinas nas instituições de ensino a atuação de professores nas modalidades à distância se dá a partir das normatizações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96. Esta lei define EAD em seu art. 1º como “uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem com a mediação de recursos didáticos sistemáticamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação”.
Surgem então vários desafios! Como se estabelecem as relações pedagógicas dentro deste novo contexto de auto-aprendizagem?
Em tempos de EAD digital, a tarefa do educador ainda é a de continuar estabelecendo relações de aprendizagem, mas com um desafio maior pois é preciso dotar a informação de sentido, visando a expansão do conhecimento e a utilização do mesmo de forma competente. Para Lévy as metáforas centrais da relação com o saber e que caracterizam nosso tempo “são a navegação e o surfe, que implicam uma capacidade de enfrentar as ondas, os turbilhões, as correntes e os ventos contrários numa extensão plana, sem fronteiras e sempre mutante” (1999, p.161).
Novos espaços de formação implicam a adoção de um novo paradigma educacional configurado pela colaboração e construção conjunta, atividade criativa, exploração da informação, aprendizagem por descoberta, as singularidades nos itinerários de aprendizagens, a possibilidade de manifestar - se de diferentes formas através de diversas ferramentas e outros. Uma nova pedagogia que favoreça, ao mesmo tempo, as aprendizagens personalizadas e as aprendizagens criativas em rede. O docente torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos dos quais se encarregou. Sua atividade terá como centro o acompanhamento e o gerenciamento de aprendizados: incitação ao intercâmbio de saberes, mediação relacional e simbólica, pilotagem personalizada do percurso de aprendizado, etc. (LEVY, 1999, p. 71.) Mas não basta o aprendizado da técnica é preciso vivenciar a situação de EAD e formar uma base para as ações docentes. Essa vivência no ambiente virtual possivelmente teria um efeito de virtualização, no sentido de Levy (1997). Professores, quando atuam como alunos e/ou se inserem em procesos de EAD, aprendem a problematizar a relação educativa, presencial e virtual. Essas reflexões podem então, suscitar condições de ruptura epistemológica, conforme Cunha (1996, 1998, 2005). Assim, o abandono acadêmico no ensino superior pode estar relacionado à prática pedagógica do professor cuja formação não integra conhecimento técnico e conhecimento significativo, razão e emoção no incentivo ao diálogo virtual, apoio à auto-aprendizagem lembrando que o processo de inclusão digital dos alunos é diretamente proporcional à nossa própria inclusão ao meio digital.
À medida que nos tornamos mais seguros para a navegação no espaço virtual assumindo nosso papel de mediadores do conhecimento maior a chance de aprendizado para os envolvidos.
Segundo Ramal (2001), a EAD propõe um currículo sem limites no qual os saberes que até então excluídos do ensino “invadem a cabeça dos alunos e convidam os mesmos a fazer links e ousar abrir janelas que trazem luzes inusitadas para os ambientes educativos” (p.13). Neste percurso, o desconforto de ouvir um professor durante algumas horas, é substituído pela comodidade de aprender junto ao computador e outros materiais através de um clicar do mouse em tempo real. Até o problema do tempo de estudo é superado, pois a navegação continua sempre que se desejar.
Apesar dessa conquista, alguns desafios ainda estão presentes: como estabelecer relações de proximidade entre professores e alunos na educação à distância? Como não tornar tão solitário este processo de aprendizagem? Como lidar com caminhos hipertextuais que podem implicar em desorientação? Como fazer-se presente transformando as exposições massantes em aulas em multimídia interativas, em hipertextos interessantes? Questionamentos que dizem respeito à nossa inclusão e à desconfiança que ainda temos quanto a EAD.
É comum encontrarmos o discurso de que a EAD favorece e democratiza a Educação na medida que alcança comunidades bem afastadas dos centros académicos. A distância física é encurtada pelas tecnologias de comunicação que aos poucos podem conectar professores, alunos e tutores fisicamente distantes. Dessa forma, ocorre a “quebra” da temporalidade, e o aluno pode acessar o material em diversos momentos, os contatos são ininterruptos e permite a flexibilidade do estudo. Entretanto, essa vantagem da Educação a Distância também pode levar o aluno ao insucesso e desorientação. A flexibilidade que atrai, acaba por tornar-se um obstáculo no desenvolvimento da aprendizagem frente a necessidade de compreensão espaço-tempo categorias que fundamentam à vida humana. Harvey (1989) já sinalizava o impacto dessas mudanças, “A comprensão do tempo-espaço sempre cobra o seu preço da nossa capacidade de lidar com as realidades que se revelam à nossa volta”(HARVEY, 1989, p.275). Se não temos clareza sobre o paradigma que permeia essas mudanças podemos deixar de aproveitar essa oportunidade como deveríamos.
A evasão já tem sido considerada como o maior problema na Educação a Distância, independente do segmento ou tipo de curso implementado e varios são os aspectos que a ela se relacionam. Uma delas é a dificuldade de construção da autonomia no processo de aprendizagem. Muitas vezes os profesores não conseguem argumentos e metodologías suficientes para reverter a imobilidade dos alunos e segurar a evasão dos cursos. O aluno busca na flexibilidade da Educação a Distância para solucionar problemas de qualificação e ainda para conciliar seu trabalho e demais afazeres com o estudo. Entretanto, não entendem que a mudança de paradigma é de fundamental importancia para o bom andamento do Curso que se propõem. Sua formação e também a do professor, cunhadas em espaços presenciais de ensino com forte ênfase aos processos mecânicos de memorização e repetição inibem o auto- aprendizado e a construção de seu conhecimento. Portanto as inovações no processo educacional exigem mudanças, implicam a renovação de paradigmas e conceitos.
Estudos sobre o abandono acadêmico no Ensino Superior em Portugal (SOARES e ALMEIDA, 2002), descrevem algumas características dos alunos que abandonaram e as razões que apontaram como justificativa não indicam os problemas de relacionamento com os profesores e entre alunos mas destacam que a permanência na instituição requer uma adequada integração. Esta integração se associa a determinados níveis de realização acadêmica e requer certos níveis de satisfação pessoal e interpessoal.
A complexidade imposta por esses processos socioculturais contemporâneos desafia-nos a integrar, a estabelecer parcerias, a trocar informações, e aprender com os nossos alunos reformulando também nossos paradigmas educacionais ainda pautados na idéia de passividade e de educação bancária que impedem a criatividade e a construção de sentido.
Considerações finais
Sabemos que o abandono acontece de diversas formas e razões e nesse artigo problematizamos a formação humana e a dificuldade de inclusão digital dos professores como aspectos relacionados ao abandono acadêmico do ensino superior. Isso porque refletimos sobre a necessidade de transição paradigmática em educação como forma de favorecer a permanencia na academia.
A EAD, coloca-se como uma alternativa de democratização da educação e do saber. E, no que diz respeito a nós professores, é provável que vários esforços sejam despendidos em busca de nossa própria inclusão digital porque temos muito que aprender e mudar. Assim, melhor do que reclamar dessa dificuldade aberta pelo avanço tecnológico seria enfrentarmos o desafio de ser professor numa era digital e investir numa formação humana e autônoma.
A Educação à Distância tem uma potencialidade de socialização e produção ainda pouco explorada, é muito diferente do ensino presencial pois possibilita aos sujeitos o enriquecimento das suas práticas pedagógicas e o reconhecimento de suas possibilidades como ser humano. Entretanto, essa prática não linear ainda não é bem compreendida e muitos se perdem no emaranhado do hipertexto conforme enfatiza Fachinetto (2005, p. 4): “A enxurrada de apelos visuais que recebemos nos arrasta por trilhas e caminhos possíveis, mas nem sempre planejados [...]”. O caótico mundo virtual ainda nos assusta e ainda levaremos algum tempo para acomodar tanta mudança e tornar atrativa a escola do século XXI. A EAD como um novo espaço de construção de conhecimento além de significar uma mudança paradigmática para a Educação, também indica um tempo de insegurança e incertezas pela falta de referência para essa nova prática. Espera-se com esse artigo contribuir na reflexão sobre o papel do professor como sujeito histórico que evolui e aprende, e por essa particularidade, deve ser levado em conta em toda a sua dimensão complexa.
Referencias
ARRUDA, M. P. O mediador de emoções,(re) significando a prática da Mediação Social. Pelotas: Editora Livraria Mundial, 2008.
ASSMANN, Hugo, SUNG, Jung Mo.
Competência e sensibilidade solidária - educar para a esperança. Petrópolis: Vozes, 2000.
BAUMAN, Z. 1998. O mal estar da pós- modernidade. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 1998.
BAUMAN, Zigmunt. A Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
BAUMANN. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 2001.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de dezembro de 1996. LDB 9.9394/96. Brasília: DF, MEC, 1996.
FACHINETTO. Eliane Arbusti. O hipertexto e as práticas de leitura. Revista Letra Magna. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura - Ano 02- n.03 - 2º Semestre de 2005 ISSN 1807-5193. Disponível em http://www.letramagna.com/Eliane_Arbusti_ Fachinetto.pdf . Acesso em 6/03/2010.
FRANCO, Marcelo Araújo. Ensaio sobre as Tecnologias Digitais da Inteligência. São Paulo/Campinas: Papirus, 1997.
GATTI, Bernardete A. Critérios de Qualidade. In: ALMEIDA, M.E; MORAN, J.
M. (Org). Integração das Tecnologias na Educação. Série Salto para o Futuro, Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, Seed, 2005. P.143- 145. 17.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós- modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva; Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.
LEVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34, 1997. LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu Costa. São Paulo: Ed. 34, 1993.
A Inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Edições Loyola: São Paulo, 1999.
CUNHA Maria Isabel da. O Professor . A Conexão Planetária: o
Universitário na transição de paradigmas. Campinas, SP: Papirus, 1998. . Relação Ensino e Pesquisa. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Didática: o ensino e suas relações. Campinas, SP: Papirus, 1996.
. Aprendizagens significativas na formação inicial de professores: um estudo no espaço dos Cursos de Licenciatura. Interface: Comunicação, Saúde e Educação, v.5, n.9, p.103- 116, 2001. Disponível em http://www.interface.org.br/revista9/artigo1.p df EAGLETON, T. A Idéia de Cultura. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
mercado, o ciberespaço, a consciência. São Paulo: Editora 34, 2001.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de CatarinaEleonora F.da Silva e Jeanne Sawaya.8. ed.São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2003.
RAMAL, Andréa Cecília. Entre mitos e desafios. Pátio. Revista Pedagógica. Porto Alegre: Artmed. Ano V, nº 18, ago/out 2001, p. 12 -16.
ROSSMAN, J., & KIRK, B. (1970). Factors related to persistence and withdrawal among university students. Journal of Counseling Psychology, 17, 55-62. V. (1975). Dropout from higher education: A theoretical synthesis of recent research. Review of Educational Research, 45,89-125.
SANTOS, L. & ALMEIDA, L. S. (2002). Vivências e rendimento académicos: A integração dos alunos na universidade. In A.
S. Pouzada, L. S. Almeida & R. M. Vasconcelos (Eds.), Contextos e dinâmicas da vida académica. Guimarães: Universidade do Minho.
SEVERINO., Antonio J.A busca do sentido da formação humana. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.3, p. 619-634, set./dez. 2006.
SILVEIRA, Sergio Amado. (Org.) Políticas de Inclusão Digital. São Paulo: Conrad, 2003.
SOARES, A. (2003). Transição e adaptação ao Ensino Superior: Construção e validação de um modelo multidimensional de ajustamento de jovens ao contexto universitário. Dissertação de doutoramento. Braga: Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho. Soares, A. P. C. & Almeida, L. S. (2002).
SUAIDEN, E. Inclusão Digital em debate na UnB. Educar, Brasília, nov. 2003.
TINTO, V. (1993). Leaving College. Chicago:The University of Chicago Press. Análise Psicológica, XIX (2), 205-217.