EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: UM ESTUDO SOBRE O CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
Factores asociados al abandono. Tipos y perfiles de abandono.
SANTOS, Pricila Kohls dos
GIRAFFA, Lucia Maria Martins
PUCRS - BRASIL
e-mail:[email protected]; [email protected]
Resumo. Partindo-se do pressuposto que a Educação Formal, além de um direito de todas as pessoas, é fator essencial para o desenvolvimento e fortalecimento de um país, as iniciativas de acesso, ampliação e qualificação da Educação devem ser garantidas nos diferentes níveis de ensino, desde a Educação Infantil até a Pós-Graduação. No Brasil diferentes ações governamentais estão sendo implementadas com vistas a ampliação da oferta de vagas gratuitas no ensino superior, dentre elas destaca-se a criação do consórcio denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB), que oferece cursos de graduação e pós-graduação a distância através de convênios com Universidades Federais. A evasão estudantil configura-se num tema complexo e ao mesmo tempo imprescindível para a qualidade das ações de permanência dos estudantes na educação superior, tendo em vista a expansão desse setor da educação e por consequência os eminentes desafios que acompanham tal expansão universitária. A oferta de cursos na modalidade de Educação a Distância (EAD) é considerada alta se comparada com os cursos presenciais e impacta o resultado esperado da formação, especialmente no que tange a formação de professores. Logo, conhecer os motivos pelos quais os estudantes abandonam seus estudos representa o primeiro passo para a qualificação das ações de permanência e retenção de estudantes. Os dados existentes sobre a evasão na EAD mais utilizados em pesquisas e relatórios, são oriundos do Censo Nacional de Educação a Distância no Brasil, realizado pela ABED (iniciativa privada) e do Censo Nacional da Educação Superior, realizado pelo INEP (órgão governamental). Uma análise dos resultados e dos procedimentos utilizados em ambos os censos apontam causas que são obtidas a partir da percepção de docentes e coordenadores dos cursos, em função de avaliações e acompanhamentos das avaliações formais. Esta pesquisa de caráter exploratório/qualitativo, com levantamento bibliográfico, busca conhecer e melhor entender as variáveis relacionadas ao estudo sobre o abandono na Educação Superior na EAD a partir da interlocução com os alunos. Como resultado desta investigação pretende-se apresentar uma proposta para realização de um censo integrado que contemple, além de dados quantitativos das universidades, também informações coletadas junto aos estudantes que abandonaram os estudos na EAD.
Palavras-chave: Abandono, Permanência, Censo, Educação Superior, Educação a Distância.
Introdução
A Educação Superior figura-se como meio potencial para o desenvolvimento pessoal e, por conseguinte, social. Nesse sentido, o acesso à Educação e a qualidade da mesma devem ser primadas nos planos de políticas governamentais.
No Brasil, diversas são as ações que objetivam viabilizar o acesso à Educação Superior, sejam essas voltadas a Educação presencial ou a distância. Em se tratando de Educação a Distância (EAD), as iniciativas públicas são realizadas no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB)1 e no setor privado as iniciativas são desenvolvidas de forma independente por cada instituição e regulamentadas pelo Ministério da Educação (MEC).
Neste cenário estão inseridas as ações de EAD, que envolvem tanto instituições públicas, como privadas. De acordo com o Ministério da Educação no Decreto nº 5.622 de 19/12/2005 do art. 80 da Lei nº 9.394 de 20/12/ 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a EAD caracteriza-se como, “modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios tecnológicos de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversas”.
Para encontrar espaço à execução de ações da Educação Superior, houve uma ampliação do acesso e da oferta do número de vagas através da oferta de cursos de graduação a distância pelo consórcio da UAB, bem como a ampliação do número de instituições privadas que ofertam cursos de graduação na modalidade EAD.
No entanto, a medida que o acesso à Educação Superior aumenta, crescem também os problemas relacionados a evasão e a permanência dos estudantes nas instituições de ensino superior. Para podermos discutir estas questões relacionadas à saída de alunos do sistema educacional superior necessitamos estabelecer o entendimento sobre o que estamos considerando por “evasão”, uma vez que é possível considerar esta situação em três contextos diferentes: em relação a Educação Superior, em relação a Instituição de Educação Superior (IES) e em relação ao curso escolhido.
Nesse sentido, a Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras conceitua evasão como “saída definitiva do aluno de seu curso de origem, sem concluí-lo.” (Brasil, 1996). Outra abordagem expõe que a evasão corresponde ao aluno que ingressou na educação superior, mas em algum momento do curso não efetivou sua matrícula. Todavia, mesmo desligando-se do ensino requer uma postura ativa, pois se pressupõe que o mesmo decide desligar-se por sua própria responsabilidade. Outra concepção pode ser analisada sob a ótica de Dilvo Ristoff quando afirma que Parcela significativa do que chamamos evasão, no entanto, não é exclusão mas mobilidade, não é fuga, não é desperdício mas investimento, não é fracasso - nem do aluno nem do professor, nem do curso ou da Instituição – mas tentativa de buscar o sucesso ou a felicidade, aproveitando as revelações que o processo natural de crescimento do indivíduo faz sobre suas reais potencialidades. (Ristoff, 1999, p.125)
Ainda é possível mencionar outra definição em Ribeiro ao desmembrar a evasão em:
Evasão do curso: desligamento do curso superior em função de abandono (não matrícula), transferência ou nova escolha, trancamento e/ou exclusão por norma institucional; evasão da instituição na qual está matriculado; evasão do sistema: abandono definitivo ou temporário do ensino superior. (Ribeiro, 2005, p. 56)
A complexidade inerente ao tema escolhido – evasão – para essa investigação possui diferentes nuances. Pois, não há consenso na literatura de uma definição única sobre o que seja evasão, logo é importante que toda pesquisa delimite o escopo do objeto de estudo considerando aspectos como, mobilidade do estudante na mesma IES, mobilidade dentro sistema de oferta de Educação Superior do município, estado ou federação. Aspectos esses dificilmente contemplados em sistemas de rastreamento das matrículas dos estudantes. Ou seja, as informações existem, mas não são cruzadas com a granularidade necessária para ofertar um conjunto de dados mais credíveis para que possamos realmente traçar um acurado perfil dessa migração quando ela ocorre.
Nesse estudo considera-se como evasão a situação em que aluno que ingressa na Educação Superior deixa de realizar sua matrícula, sem comunicar a instituição os motivos do seu afastamento ou ainda cancela definitivamente a mesma. Ressalta-se que o estudante que realizou transferência de instituição ou re-opção de curso não se enquadra, a nosso ver, nessa definição de evasão.
Para verificar o estado corrente da Educação Superior no Brasil são realizados dois Censos que envolvem a Educação a Distância, sendo um deles realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED)2 e outro pelo governo federal através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)3. Os dois Censos são realizados anualmente e seu preenchimento é realizado pelas instituições via sistema eletrônico. O Censo da ABED é exclusivamente sobre EAD e o Censo do INEP envolve a Educação Superior como um todo (presencial e a distância).
Nesse sentido o presente estudo visa apresentar algumas características do Censo da EAD realizado no Brasil, iniciativa pública e privada, com fins de analisar a metodologia adotada, as principais características e principalmente se este documento busca auxiliar qualitativamente as IES no tocante aos motivos pelos quais os estudantes evadem da Educação Superior e com isso antecipar ações que privilegiem a permanência dos estudantes na instituição. Para tal, apresenta os Censos e como são realizados e posteriormente realiza um estudo comparativo entre eles prospectando pontos positivos, negativos e complementações entre os dois estudos realizados no âmbito da Educação Superior a Distância no Brasil sob a ótica da evasão e correlações com a permanência estudantil.
Ao final apresentamos algumas considerações, bem como propomos uma reestruturação no sistema de coleta de dados do Censo da Educação Superior no Brasil.
2. O Censo do INEP
O Censo realizado pelo INEP, denominado Censo da Educação Superior, envolve todas as instituições de Educação Superior do Brasil, independente da modalidade, ou seja, inclui cursos presenciais e a distância. O mesmo é realizado anualmente a partir da coleta de dados de cada instituição credenciada, tendo como principal objetivo fornecer informações detalhadas à comunidade sobre o estado e perspectivas da Educação Superior no Brasil.
A participação no Censo é obrigatória, sendo que para o fornecimento dos dados, cada instituição possui acesso, através de login e senha, ao Portal do Censo e responde a questões relacionadas a instituição, cursos, estudantes e docentes. As informações dos estudantes são vinculadas ao número de CPF (Cadastro de Pessoa Física) para inibir a duplicidade de dados da instituição respondente.
Assim, o Censo reúne informações sobre as instituições de ensino superior, cursos de graduação presencial ou a distância, cursos sequenciais (voltados mais especificamente para um campo do saber, com viés profissionalizante), vagas, inscrições, matrículas, ingressantes e concluintes, informações sobre docentes. Informações essas apresentadas por organização acadêmica e categoria administrativa.
A coleta de dados é realizada a partir do preenchimento, por parte das instituições, de questionários eletrônicos e também pela importação de dados do Sistema e-MEC 4. As instituições tem um período determinado para o preenchimento dos dados eletronicamente e posteriormente os mesmos são analisados de acordo com as informações descritas anteriormente.
A divulgação das informações se dá por meio de publicação de Resumo Técnico, disponibilizado no Portal do INEP, com gráficos, tabelas e dados comparativos, bem como são disponibilizados arquivos contendo algumas tabelas de divulgação e micro dados em formato ASCII, e contêm inputs (canais de entrada) para leitura utilizando os softwares SAS e SPSS.
3. Censo EAD.Br (ABED)
O Censo da ABED, denominado CENSO EAD.BR Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil, é realizado por instituições que ofertam cursos a distância, professores independentes e empresas que prestam serviços na área. Para a elaboração da pesquisa e processamento dos dados a ABED seleciona uma variável de estudo, que para o ano de 2012 foi metodologia dos cursos de EAD.
Assim, o processo de coleta de dados para compor o Censo visa envolver as instituições educacionais, empresas prestadoras de serviços e profissionais que desenvolveram atividades de EAD. Conforme informações contidas no Censo de 2012, “os dados se referem a uma amostra disponível (portanto não probabilística) composta por 252 instituições/empresas e 32 professores independentes”. (ABED, p. 19, 2013)
Os respondentes são convidados de acordo com sua atividade fim, sejam estes associados da ABED ou não, empresas públicas e privadas e desenvolvedores de EAD no Brasil. Para cada categoria é aplicado um questionário diferente e o mesmo é respondido eletronicamente, sendo facultativa a participação no Censo. As informações envolvem, dados da instituição, tipo de cursos ofertados, dados dos alunos, informações referente a matriculas, conclusões e desistência de cursos, materiais e recursos, etc.
Os dados coletados são analisados qualitativa e quantitativamente levando em consideração a variável estabelecida a priori, metodologia dos cursos de EAD. Dessa análise surge a publicação do relatório de pesquisa que subdivide-se em cinco partes, a saber: Informações gerais, composição e base de dados do Censo, A EAD no Brasil em 2012, Metodologia de EAD e Fornecedores de produtos e serviços de EAD e professores independentes. Sendo que ao final da apresentação de cada item, é apresentada a síntese dos resultados do mesmo.
O Censo é publicado anualmente nos idiomas português e inglês e disponibilizado no portal da ABED, bem como realizada distribuição gratuita de tiragem impressa aos participantes da edição anual do Congresso Internacional ABED de Educação a Distância.
4. Metodologia desta investigação
O presente estudo foi realizado empregando a abordagem qualitativa de pesquisa com objetivo exploratório a partir de pesquisa bibliográfica. Para a análise dos dados utilizou-se a Análise de Conteúdo para ser possível elaborar novos achados e conhecimento acerca do fenômeno ora investigado, a saber: Evasão na Educação Superior a Distância.
Sendo que o corpus dessa pesquisa é composto por 2 Censos da Educação Superior dos anos de 2011 e 2012, realizados pela iniciativa pública e privada. O recorte temporal foi delimitado nos dois últimos anos para que fosse possível analisar quais aspectos são analisados e questionados para compor o Censo.
A análise dos Censos foi realizada a partir categorias escolhidas a priori, a saber: Vagas na EAD, Instituições de EAD, Estudantes da EAD e Crescimento e Perspectiva para EAD dos quais os resultados são apresentados na próxima seção.
5. Alguns dados apresentados no Censo
Para fins de caracterização apresentamos algumas especificidades e a metodologia utilizada para coleta dos dados em ambos os instrumentos. Salientamos que alguns dados e características são distintas em cada uma das publicações, todavia percebemos como importante a comparação para aprofundar a discussão, uma vez que as informações de um podem complementam a do outro.
5.1 Vagas
De acordo com o Censo da Educação Superior, no ano de 2012, 7.037.688 de estudantes efetuaram matrícula na Educação Superior, sendo que destes, 5.923.838 na Educação presencial e 1.113.850 em cursos a distância. Destes 1.113.850 matriculados na EAD apenas 181.624 matriculados estão em instituições públicas, sendo que quase 85% da oferta está no setor privado, esse fenômeno também pode ser observado na educação presencial.
Já os dados do Censo EAD.Br, ABED, o total de matrículas efetuados na EAD em 2012 foi de 5.772.466, sendo 5,8% em disciplinas de EAD nos cursos presenciais, 74,4% em cursos livres e 19,8% em cursos autorizados. Aprofundando um pouco mais a análise, constatamos que apenas 62% das matrículas dos cursos autorizados são de nível superior. Ou seja, o número efetivo de matrículas em nível superior é de: 707.581.
Em relação ao número de estudantes concluintes em cursos de graduação a distância, o INEP apresenta o valor de 174.322 estudantes, enquanto que o Censo da ABED aponta que apenas 75.697 estudantes concluíram seus estudos de graduação a distância. Ou seja, os dados, mesmo referindo-se a mesma categoria, não são os mesmos, o que denota que as informações são contraditórias.
5.2 Instituições de EAD
Em ambos os Censos as Instituições são apresentadas em categorias administrativas pelo número de cursos ofertados. Os dados do INEP apresentam o número de 2.416 instituições, sendo 304 públicas e 2.112 privadas, contando com 32.627 matrículas na EAD pública e 179.619 em instituições privadas.
Em relação a EAD, no ano de 2012 as matrículas representaram 15,8% da Educação Superior brasileira, sendo que no período de 2011 - 2012 as matrículas cresceram 12,2% nos cursos a distância. Dos estudantes que optaram pela modalidade a distância, 72% estão matriculados em universidades. Os centros universitários detêm 23%. Sendo que 40,4% cursa licenciatura, 32,3% bacharelado e 27,3% tecnólogo.
O Censo EAD.Br informa os resultados de 231 instituições, sendo 49% privadas e 26% públicas, as demais enquadram-se entre instituições corporativas e fundações. Porém esses dados são informados a partir das instituições participantes do Censo, assim não podem expressar a realidade da modalidade uma vez que as instituições podem diferir de um ano ao outro.
Porém o Censo da ABED apresenta um dado interessante em relação ao investimento das instituições de acordo com áreas específicas. Sendo que a maior área de investimento é a produção de novos produtos para EAD com 32%, seguido de capacitação de pessoal com 20%.
5.3 Estudantes de EAD
Os dados informados pelo INEP caracteriza os estudantes somente pelo critério de gênero, não especificando outras informações que pudessem caracterizar os estudantes. Mesmo os estudantes da Educação presencial não são caracterizados em relação a condições de estudo, acompanhamento do curso ou mesmo se participa de algum tipo de financiamento estudantil. Todavia também não especificam as informações de acordo com a modalidade de ensino, portanto acabam por não contribuir para o fenômeno ora estudado.
O Censo da ABED trabalha com dados adicionais em relação aos estudantes, mas que também não o retratam de maneira significativa. Os dados apresentados mostram que 44,6% dos estudantes são do sexo masculino e 55,39% feminino, já a média de idade fica em torno de 50% de estudantes matriculados em cursos de graduação está na faixa de 18 a 30 anos e 43% tem idade de 31 a 40 anos. Outro dado apresentado é em relação a situação laboral que indica que 12,73% dos estudantes somente estuda e 75,83% estuda e trabalha.
Ao analisar as informações disponibilizadas evidenciamos que não é possível conhecer a realidade do estudante de EAD, uma vez que os dados apresentados mostram-se generalistas e pouco específicos em relação a visão do estudante sobre o curso, instituição ou EAD como um todo.
5.4 Crescimento e Perspectivas da EAD
Os dados fornecidos pelo Censo referem-se ao número de matrículas efetuadas, destacando o número de ingressos e egressos do sistema de Educação Superior. Ao comparar os resultados de um ano ao outro, obtemos a possível relação do crescimento da modalidade. Em relação a EAD, a Tabela 1 apresenta um panorama da modalidade nos últimos 10 anos, a partir dos dados fornecidos pelo INEP.
Tabela 1 - Proporção entre expectativa de matrículas na EAD e crescimento da modalidade – Brasil 2001/2012
Ano | Graduação a distância | ||||
Matrículas | Ingressos | Concluintes | Expectativa | Crescimento | |
2001 | 5.359 | 6.618 | 131 | - | |
2002 | 40.714 | 20.685 | 1.712 | 5.228 | 87,20% |
2003 | 49.911 | 14.233 | 4.005 | 39.002 | 21,85% |
2004 | 59.611 | 25.006 | 6.746 | 45.906 | 23% |
2005 | 114.642 | 127.014 | 12.626 | 52.865 | 53,88% |
2006 | 207.206 | 212.246 | 25.804 | 102.016 | 50,76% |
2007 | 369.766 | 329.271 | 29.812 | 181.402 | 50,94% |
2008 | 727.961 | 463.093 | 70.068 | 339.954 | 53,30% |
2009 | 838.125 | 332.469 | 132.269 | 657.893 | 21,50% |
2010 | 930.179 | 380.328 | 144.553 | 705.856 | 24,11% |
2011 | 992.927 | 431.597 | 151.552 | 785.626 | 20,87% |
2012 | 1.113.850 | 542.633 | 174.322 | 841.375 | 24,46% |
Fonte: Mec/Inep; Tabela elaborada por Inep/Deed |
Fonte: adaptado de MEC (2013).
A partir dos dados informados é possível apenas evidenciar o percentual de crescimento da modalidade, que é bastante significativa para o cenário da Educação Superior brasileira. Salientamos que essa é uma afirmação baseada no cálculo a partir das informações de matrículas, ingressos e concluintes fornecidas pelo INEP, uma vez que o Censo não apresenta essa informação.
Considerando as informações referentes ao último ano, apresentamos um dado hipotético do número de estudantes que não retomaram seus estudos do ano de 2011 para o ano de 2012. Para realizar esse cálculo utilizou-se como base os dados da expectativa de matrículas do ano de 2012, subtraindo o número de ingressantes. Esse cálculo resultou em um percentual de 32% que poderiam indicar que 270 mil estudantes deixaram de realizar sua rematrícula no ano de 2012, conforma ilustrado na Figura 1.
Fig. 1 – Matrículas e estimativa de evasão – Brasil 2011-2012
Fonte: as autoras
O Censo da ABED apresenta a informação da evolução e expectativa de crescimento explicitamente na publicação, porém não apresenta os dados em números ou percentual, apenas o número de instituições que afirma haver crescimento da EAD em 2012 e expectativa para 2013. Por exemplo: 73 instituições afirmaram ter havido crescimento de 2011 para 21012 e 103 afirmam acreditar no crescimento de 2012 para 2013. Nesse sentido, 65% afirmaram terem crescimento em 2012 e 92% acreditam que haverá em 2013 crescimento em relação a 2012, conforme apresentado na Tabela 2.
Tabela 2 – Evolução do volume de matrículas em cursos autorizados no período 2011-2012 e perspectivas para 2013
Fonte: ABED (2013).
Salientamos que a Tabela 2 informa o número de instituições participantes do Censo da ABED que responderam as informações em relação a matrículas. Podendo observar-se que, pelo menos 40 instituições não informaram se houve aumento ou diminuição no número de matrículas e 44 não informaram sua expectativa para o ano de 2013.
Embora esses sejam dados interessantes para compor o cenário da EAD do Brasil, não é possível perceber ou mensurar o percentual de evasão dos estudantes de um ano à outro, pois os dados não convergem para essa informação. Pelos dados informados não é possível realizar o cálculo da evasão, tendo em vista que diferentes fatores devem ser observados para obtenção desse número.
No Censo do INEP não é informado o dado da evasão dos cursos superiores, sendo que no Censo da ABED essa informação é apresentada sob dados da evasão de acordo com o que cada instituição relata. Nesse sentido, apresenta que em 2010 o índice de evasão nos cursos autorizados era de 18,6%, em 2011 esse percentual aumentou para 20,5 e em 2012 diminuiu para 11,74%. Porém esses percentuais não retratam a realidade global da EAD do Brasil.
6. Análise comparativa INEP – ABED
Ao analisar o conteúdo e informações sobre a Educação Superior a Distância apresentados nos Censos do INEP e ABED encontramos algumas relações, porém aspectos que diferem não apenas as informações, mas também a forma como os dados são apresentados.
Nesse sentido apresentamos aspectos que consideramos como positivos e como negativos em ambas as publicações.
6.1 Pontos Positivos dos censos realizados
A partir da análise realizada destacamos alguns pontos considerados positivos nas publicações do Censo do INEP (Censo da Educação Superior) e da ABED (Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil).
Em relação ao Censo da ABED destacamos como pontos positivos:
O esforço para congregar a comunidade que trabalha e pesquisa sobre Educação a Distância no Brasil;
Auxiliar a divulgação da EAD como possibilidade de formação, através dos números e das estatísticas;
Sistematização e organização dos dados para facilitar estudos sobre EAD;
Distribuição em larga escala do Censo e sua disponibilização no site da ABED;
Preocupação em somar dados qualitativos aos quantitativos;
Presença de dados relacionados aos motivos pelos quais os alunos evadem da EAD;Em relação ao Censo do INEP destacamos como pontos positivos:
Obrigatoriedade de participação das instituições;
Inserção de informações sobre tecnologias assistivas no questionário do curso;
Vinculação do estudante ao CPF como forma de inibir duplicidade de dados;
Presença de dados relacionados que permitem gerar correlações importantes sobre docentes, relação docente – cursos – estudantes.6.2 Aspectos de possível melhoria dos censos analisados
Após análise e levantamento dos dados informados no Censo, percebemos alguns aspectos de possível melhoria, tanto do Censo da Educação Superior, quanto do Censo.BR Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil.
No Censo da ABED destacamos como aspectos de possível melhoria:
A publicação possui patrocinadores que são empresas privadas ligadas a Associação e todas possuem fins lucrativos, o que pode gerar certo desconforto e perda de credibilidade, visto que as informações não possuem caráter exaustivo, ou seja, nem todas as instituições que ofertam e trabalham com EAD estão elencadas no Censo.
O baixo número de pesquisadores e professores que respondem a pesquisa do Censo, os colaboradores são identificados por nome, estado e e-mail, e em muitos casos existem apenas 1 ou 2 representantes de cada estado, onde se sabe que há muita atividade que envolve EAD, o que leva a questionar o critério de seleção dos respondentes;
Dificuldade de verificação dos dados sobre a evasão;
Não obrigatoriedade de participação.Já no Censo do INEP destacamos como aspectos de possível melhoria:
O Brasil não estabilizou um sistema de avaliação da oferta de EAD na Educação Superior da mesma forma que na Educação Presencial, esta falta de definição dos critérios para balizar a qualidade da oferta tem deixado margem para que situações, a falta de um sistema estabilizado de avaliação e o baixo número de avaliadores disponíveis para avaliar a EAD;
Falta de um documento sistematizado de divulgação compilado para o acesso da comunidade;
Dificuldade de acesso aos dados na íntegra;
Publicação de apenas um Resumo Técnico das informações;
Análise quantitativa das informações coletadas;
O questionário dos alunos refere-se apenas a características socioeconômicas;
O questionário dos docentes limita-se a formação e a vinculação do mesmo na instituição;
Falta de informações especificas sobre os dados relacionados à evasão. As informações são geradas por interpretação indireta dos dados.
7. Evasão x Permanência: questionamentos importantes
Partimos do pressuposto que a evasão e a permanência são conceitos intimamente ligados e possuem elementos complementares. Ao buscarmos elucidar as causas da evasão estudantil, temos condições de avaliar os motivos pelos quais os estudantes desistem de sua carreira universitária contribuindo para a elaboração e planejamento de ações que privilegiem a permanência dos estudantes a partir de ações que qualifiquem o período que os estudantes estejam na IES. Contribuindo, desta forma, a compor um conjunto de ações que possam auxiliar na permanência a partir da mitigação das causas da evasão.
Acredita-se que privilegiar ações que auxiliem na permanência dos alunos nos cursos seja uma ação preventiva para o combate da evasão e, neste sentido, acreditamos que ouvir o egresso seja um ponto diferencial para qualificar não só a permanência desse estudante, mas a Universidade como um todo como possibilidade de qualificar os cursos e, por consequência, ofertar maior qualidade à novos ingressantes na Educação Superior.
É nesse aspecto, em especial, que relacionamos a evasão como complementar a permanência, e vice-versa, pois as ações para inibir a evasão podem contribuir para a permanência e ainda investir na permanência é estar atento para a possibilidade de não- evasão.
Fig. 2 – Evasão e Permanência Fonte: as autoras
Conforme ilustrado na Fig. 1, uma parcela de permanência pode ser percebida na evasão, enquanto que parcela da evasão pode estar presente em ações de permanência.
8. Considerações finais
Ao realizar o presente estudo, percebemos como urgente a necessidade de um olhar mais criterioso e atento para com a evasão através de estudos que permitam viabilizar ações futuras de permanência a partir do olhar do estudante, pois é esse o sujeito mais indicado para informar o que pode ser melhorado e o que é esperado do sistema de Educação Superior.
Além disso, ações especificas devem ser pensadas para que as vozes dos estudantes que abandonam seus estudos tornem-se fonte para novos fazeres em prol da qualidade, seja institucional ou do sistema como um todo. A exemplo de algumas instituições que quando o aluno deixa de realizar sua matricula algumas IES possuem mecanismos de rastreamento que detectam essa situação para identificar o que está acontecendo. Geralmente, o estudante acolhe o convite da IES e justifica o motivo da não realização da matrícula, o que denota a possibilidade de uma ação proativa por parte dos estudantes, desde que a eles seja facultada a possibilidade de informar suas razões e opiniões.
Para tal, propomos um sistema integrado para realização do Censo da Educação Superior, incluindo uma parcela desse para olhar a Educação a Distância. Esse sistema envolveria o olhar da instituição, dos docentes e também dos estudantes ativos e que abandonaram seus estudos.
Esse sistema integrado se caracterizaria como híbrido no que tange as informações já existes nos Censos realizados atualmente no Brasil, mas além disso, privilegiando, além de dados quantitativos, aspectos qualitativos em relação a instituição, cursos, metodologia, dificuldades encontradas, enfim, informações que possam apresentar claramente quem são os atores da EAD no Brasil, quais são seus anseios e o que dizem suas vozes.
Como resultado da análise ora apresentada, destacamos a proposta de Censo, conforme a Tabela 3.
Tabela 3 - Comparativo INEP – ABED
COMPARATIVO INEP - ABED | |||
- | INEP | ABED | PROPOSTA |
Categoria | Governo | Privada | Hibrida |
Objetivo | Avaliar | Divulgar | Qualificar |
Finalidade | Acreditar | Propaganda direcionada | Indicadores |
Garantir | Qualidade mínima p/ funcionamen to | Amp liação do mercado | Conhecer movimentos de alunos e cursos na EAD |
Fonte: as autoras
Tal proposta objetiva, a partir de um sistema híbrido, qualificar o Censo a fim de fornecer indicadores que possibilitem conhecer movimentos de alunos e de cursos na Educação a Distância Brasileira.
Referências
ABED. (2013) Censo EAD.BR: Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil 2012. Curitiba: Ibpex.
BRASIL. (1996) Ministério de Educação e Cultura. Secretaria de Ensino Superior. Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras. ANDIFES/ABRUEM, SESu, MEC, Brasília.
BRASIL. (1996) Lei Nº. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases Nacionais. Diário Oficial da União. Brasília: Gráfica do Senado, ano CXXXIV, nº. 248, 23/12/96, 27833-27841.
INEP. (2013) Censo da educação superior: 2011 – resumo técnico. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2013. Extraído em: 10 de junho 2013 de: http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/resumo_tecnico/resumo_tecnico_censo_educacao_superior_2011.pdf.
INEP. (2013) Censo da educação superior: 2012 – resumo técnico. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2013. Extraído em: 19 de setembro 2013 de: http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/resumo_tecnico/resumo_tecnico_censo_educacao_superior_2011.pdf.
RIBEIRO, Marcelo Afonso. (2005) O Projeto Profissional Familiar como Determinante da Evasão Universitária: um estudo preliminar. Revista Brasileira de Orientação Profissional. São Paulo. Extraído em: 15 de gosto de 2013 de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1679-33902005000200006&script=sci_arttext.
RISTOFF, Dilvo. (1999) Universidade em foco: reflexões sobre a educação superior. Florianópolis: Insular.