UM ESTUDO SOBRE O ABANDONO ESTUDANTIL NUMA UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA BRASILEIRA
Factores asociados al abandono. Tipos y perfiles de abandono.

MOROSINI, Marilia Costa
SANTOS, Bettina Steren dos
SANTOS, Pricila Kohls dos
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
PUCRS - BRASIL
e-mail: [email protected], [email protected], [email protected]

Resumo. No Brasil, um país emergente, a Educação Superior figura-se como uma possibilidade de promoção da qualidade de vida da sua população, bem como a ampliação das relações internacionais com vistas ao avanço social, cultural e econômico. Nesse sentido,o presente estudo integra pesquisa internacional desenvolvida pelo projeto Alfa-guia “Gestão Universitária Integral do Abandono”, financiado pela Comunidade Européia. A pesquisa envolve 20 países, 16 latino-americano e 4 europeus. O presente estudo apresenta resultados parciais sobre o perfil demográfico dos estudantes de uma Universidade Comunitária Privada brasileira considerada referência de qualidade e inovação no país. O instrumento de coleta de dados foi umquestionário pré-testado e aplicado com estudantes evadidos nos anos de 2008 a 2010 objetivando verificar o perfil desses estudantes e algumas causas pelas quais os mesmos abandonaram seus estudos antes de concluí-los, bem como apontar possíveis soluções para a questão da evasão estudantil na educação superior.Ametodologia adotada nesse estudo é de caráter misto, quantitativo e qualitativo exploratório, pautado na pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. O instrumento de coletaabarca os seguintes eixos: bloco 1, perguntas gerais, que envolvem dados demográficos e institucionaisdos estudantes, características do meio acadêmico, trajetória escolar; bloco 2, perguntas de posicionamento e o bloco 3 perguntas por perfis, que envolvem questões relacionadas ao abandono. A partir dos dados analisados busca-se encontrar elementos para melhor conhecer os estudantes e os motivos que os levaram a evadir da Universidade com o intuito fomentar ações para qualificar a permanência dos estudantes. Recomenda-se que os resultados desta pesquisa sejam comparados com outras realidades considerando a necessidade urgente de qualificar as universidades em países em desenvolvimento. Recomenda-se também uma sistemática coleta de dados, com o fito de promover estudos científicos longitudinais.

Palavras Chave: Abandono. Permanência. Educação Superior. Brasil

Introdução

A educação das pessoas é fator essencial para o desenvolvimento e fortalecimento de um país. Assim, as iniciativas de acesso, ampliação e qualificação da Educação devem ser priorizadas nos diferentes níveis de ensino. Sendo que a qualificação da educação básica pode implicar na qualificação da educação superior e vice-versa, ambas fazendo girar a roda e assumindo as consequências das ações imbricadas em cada etapa da Educação como um todo.

A Educação Superior, por sua vez, pode estar no cerne se for vista sob a ótica da formação dos sujeitos que atuarão na educação básica, uma vez que prioriza a qualificação do desenvolvimento de estudantes para atuarem em diferentes carreiras, incluindo professor, os quais auxiliarão para a constituição da sociedade. Nesse cenário encontra-se a instituição pesquisada nesse estudo, a qual está entre as mais tradicionais de educação superior do Brasil, fundada em 1934.

Desde então, novos cursos e faculdades foram criadas, sendo que hoje a instituição conta com 22 faculdades, 10 institutos, 8 órgãos suplementares. São oferecidas 55 opções de cursos na graduação. O Centro de Educação Continuada oferece mais de 100 opções de cursos, entre extensão, certificação adicional e pós-graduação lato sensu (especialização). Opós-graduação stricto sensu tem 41 cursos: 23 de mestrado e 19 de doutorado, além do Centro de Inovação, Hospital São Lucas, Parque Científico e Tecnológico, Parque Esportivo, Projeto Logos – Aprendizagem sem Fronteiras, Centro da Atenção Psicossocial, e uma das maior biblioteca da America latina.

Tal contextualização é importante para que possamos apresentar possíveis ações já desenvolvidas na instituição ao apontar aspectos relacionados com a permanência estudantil. Cabe salientar que o índice de evasão na universidade atualmente é baixo. Porém, considera-se que conhecer o perfil dos estudantes que abandonaram seus cursos é fundamental para poder conhecer as características desses estudantes, bem como alguns motivos pelos quais se evadiram da instituição.

Nesse sentido, o presente estudo objetiva descrever o perfil dos estudantes e verificar as possíveis causas pelas quais os mesmos abandonaram seus estudos antes de concluí- los, bem como apontar possíveis soluções para a questão da evasão estudantil na Educação Superior.

2. Referencial teórico

Inúmeros conceitos de evasão foram encontrados nas produções analisadas. Em contextos mais abrangentes destaca-se o definido por Gaioso (2005), como sendo a interrupção no ciclo de estudos, em qualquer nível de ensino. Especificamente na Educação Superior o termo evasão é frequentemente utilizado para referir a “perda” ou “fuga” de alunos da universidade (Kira, 2002). Baggi e Lopes (2011) também definem a evasão como a saída do aluno da instituição antes da conclusão de seu curso.

Polydoro (2000) chama a atenção para a distinção entre dois conceitos: a evasão do curso – que consiste no abandono do curso sem a sua conclusão – e a evasão do sistema – que reflete o abandono do aluno do sistema universitário. Cardoso (2008) refere-se aos conceitos acima a partir de diferentes nomenclaturas: a evasão aparente – enquanto a mobilidade do aluno de um curso para o outro – e a evasão real – que se refere à desistência do aluno em cursar o ensino superior.

Silva Filho e colaboradores (2007) definem dois aspectos sob os quais a evasão pode ser analisada. A evasão anual média e a evasão total. A evasão anual média corresponde à porcentagem de alunos que, não tendo se formado, não realizaram matrícula no ano seguinte. Esse índice demonstra as perdas médias anuais em determinado curso, instituição ou conjunto de instituições. A evasão total corresponde à quantidade de alunos que, tendo entrando em determinado curso, IES ou sistema de ensino, não obtiveram diploma, considerando um determinado período.

Portanto, a evasão corresponde ao aluno que ingressou na educação superior, mas em algum momento do curso não efetivou sua matrícula. Todavia, mesmo desligando-se do ensino requer uma postura ativa, pois pressupõe-se que o mesmo decide desligar-se por sua própria responsabilidade. Outra concepção pode ser analisada sob a ótica de DilvoRistoff quando afirma que:

Parcela significativa do que chamamos evasão, no entanto, não é exclusão mas mobilidade, não é fuga, não é desperdício mas investimento, não é fracasso - nem do aluno nem do professor, nem do curso ou da Instituição – mas tentativa de buscar o sucesso ou a felicidade, aproveitando as revelações que o processo natural de crescimento do indivíduo faz sobre suas reais potencialidades. (Ristoff, 1999, p.125)

Outro aspecto relacionado à evasão é apontado por Silva Filho:

A evasão pode ser medida em uma instituição de ensino superior, emum curso, em uma área de conhecimento, em um período de oferta de cursos e em qualquer outro universo, desde que tenhamos acesso a dados e informações pertinentes. Em princípio, pode-se estudar a evasão no âmbito deuma IES, ou em um sistema, ou seja, um conjunto de instituições. (Silva Filhoatall, 2007, p. 644)

Assim, podemos constatar que, além de não haver um conceito único sobre a evasão, a mesma necessita ser analisada de acordo com critérios específicos que precisam ser explicitados para que fique claro a real fonte de informação e a métrica de medição da evasão, seja a nível institucional, de curso ou do sistema de Educação Superior como um todo.

No âmbito do Projeto Alfa GUIA (Gestão Universitária Integral do Abandono), a evasão é definida como:

O abandono ou deserção pode ser definido como o processo voluntário ou obrigatório pelo qual o aluno não continua os estudos no curso em que está matriculado, por influência positiva ou negativa de circunstâncias internas ou externas a ele ou ela. (Arriaga, 2012, p. 83)

Segundo Lobo e Lobo (2012), ao falar sobre evasão, afirmam que de nada adianta atrair mais alunos, quando não se consegue mantê- los. Os mesmos apresentam como possíveis causas da evasão no Brasil:

Inadaptação do ingressante ao estilo do Ensino Superior e falta de maturidade; Formação básica deficiente;
Dificuldade financeira;
Irritação com a precariedade dos serviços oferecidos pela IES;
Decepção com a pouca motivação e atenção dos professores;
Dificuldades com transporte, alimentação e ambientação na IES;
Mudança de curso; e
Mudança de residência.

Muitos desses fatores apareceram na pesquisa aqui apresentada e vamos aprofundar alguns deles para tratar de compreender melhor a evasão na instituição aqui estudada.

No que se refere a falta de motivação tanto dos professores como dos discentes, percebe- se como um fator importante a ser resgatado apresentado.

A motivação constitui-se como um elemento imprescindível para a qualidade nos diversos níveis e modalidades de ensino, assumindo um papel especial na Educação Superior, principalmente pela grande expansão do ensino universitário brasileiro e os emergentes desafios impostos à Universidade. Dentre eles, o compromisso da inovação e da responsabilidade social, as quais configuram um desafio ainda maior: manter uma comunidade acadêmica permanentemente motivada, produtiva e, ainda, orientada pelo pressuposto da excelência. Nesse contexto em que estar motivado representa o primeiro passo para qualquer prática exitosa, abordar, discutir, refletir sobre a motivação, suas variáveis e indicadores, consolida-se, também, como um tema emergente.

A produção de conhecimento relacionada à motivação tem crescido consideravelmente, sobretudo em nível internacional, ao passo que no contexto educacional brasileiro essa tendência é, ainda, discreta.

3. Metodologia

O presente estudo pautou-se na pesquisa com o método misto, quali-quanti de caráter exploratório.

A pesquisa de métodos mistos é uma abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa. Envolve suposições filosóficas, o uso de abordagens qualitativas e quantitativas e a mistura das duas abordagens em um estudo. Por isso, é mais do que uma simples coleta e análise dos dois tipos de dados; envolve também o uso das duas abordagens em conjunto, de modo que a força geral de um estudo seja maior do que a da pesquisa qualitativa ou quantitativa isolada. (Creswell, 2010, p. 24)

A pesquisa quantitativa, por sua vez, pretende ser utilizada como instrumento de ampliação dos fenômenos observados, possibilitando capturar realidades de difícil detecção.

Para Falcão e Régnier (2000, p. 232),

[...] a ideia de quantificação abrange um conjunto de procedimentos, técnicas e algoritmos destinados a auxiliar o pesquisador a extrair de seus dados subsídios para responder à(s) pergunta(s) que o mesmo estabeleceu como objetivo(s) de trabalho.

Esses autores destacam que a justificativa básica para a eleição e utilização desse método de pesquisa relaciona-se com a natureza do problema e com as características das informações selecionadas pelo pesquisador. Para eles, “a informação que não pode ser diretamente “visualizada” a partir de uma massa de dados poderá sê-la se tais dados sofrerem algum tipo de transformação que permita uma observação de outro ponto de vista”. (Falcão;Régnier, 2000, p. 232)

Assim, o corpus dessa pesquisa é composto por 1 questionário elaborado no âmbito do Projeto Alfa GUIA. Participaram da pesquisa 553 estudantes que evadiram de cursos da Educação Superior da PUCRS. O recorte temporal para seleção dos estudantes, foi delimitado entre os anos 2008 a 2010.

O questionário, ora analisado, foi elaborado no âmbito do Projeto Alfa GUIA de acordo com os estudos realizados sobre evasão desde a implantação do projeto em 2011. Sendo que a aplicação dos questionários foi realizada por empresa especializada chamada, Análisis e Investigación, e os mesmos foram realizados por telefone.

A análise dos questionários foi realizada a partir de categorias elencadas a priori, a saber: Perfil do Estudante, Caracterização familiar do Estudante, Aspectos relacionados a Universidade e Aspectos relacionados aos estudos, dos quais os resultados parciais da análise são apresentados na próxima seção.

4. Análise e resultados encontrados

A análise realizada partiu dos dados coletado sobre os estudantes evadidos Numa instituição comunitária brasileira no período de (2008-2010). Buscou-se caracterizar os estudantes para poder realizar algumas inferências sobre os motivos pelos quais os levaram a abandonar seus estudos.

4.1 Perfil do Estudante

Ao analisar o perfil dos estudantes faz-se importante saber a área do conhecimento, de acordo com a organização da UNESCO. A maioria dos participantes esteve inserido na área de Cienciassociales, educación comercial y derecho (Ciências Sociais, Psicologia, Geografia, Direito, Administração, Contábeis, Economia), totalizando 40,7%. Em segundo lugar está a área de Humanidades y Artes (Teologia, Letras, História, Filosofia, Comunicação, Relações Públicas) 15,9%, seguida de Ingeniería, industria y construcción(Engenharias Arquitetura)com 15,6%, Ciências (Ciências Biológicas, Física, Química, Matemática, Sistemas de Informação, Ciências da Computação, Ed. Física) com 14,5%, Salud y serviciossociales(Odontologia, Medicina, Serviço Social, Fisioterapia, Farmácia, Nutrição, Enfermagem)contabilizam 7,1%, Educación (Pedagogia) 3,6% e a área de Servicios (Turismo, Hotelaria, Ciências aeronáuticas) com o menor índice 2,7%.

Percebeu-se que a maioria dos estudantes, 49% vive com os pais, 23,5% vive com cônjuge, 18% sozinhos, os demais vivem com amigos ou em residência de estudantes. Analisando a situação anterior de educação, 52,3% afirmaram terem concluído os estudos de ensino médio em instituição privada e 47,6% em instituição pública.

Em consideração ao lugar de procedência, 89,1% provem da mesma região que a IES e 10,5% diz ser proveniente de outra região do país. Isto acontece já que a instituição está localizada numa região central, além de ser a capital do estado do Rio Grande do Sul.

Em relação a minoria étnica ou religiosa, 6,6% diz considerar-se parte de minoria étnica, enquanto 93,4% afirmam que não. Ao mencionar a questão do financiamento para realização dos estudos, 51,7% diz ter dependido da ajuda dos pais, 39,1% dependiam apenas de si mesmo e os demais dependiam de outros familiares ou cônjuge. Sendo que 84,4% dos respondentes afirmam ter obtido recursos suficientes para seu sustento durante o período que permaneceu na Universidade, contra 15% que afirma não terem recursos suficientes.

Tal aspecto financeiro denota que na maioria dos casos, a motivação que levou o abandono do curso não foi financeira, uma vez que grande parte dos participante afirma ter tido condições de manter-se nos estudos.

Quanto à escolha do curso, os estudantes foram questionados se acreditam que a escolha pelo curso tenha se dado por vocação, 53,9% afirma que não e 46,1% diz ter realizado sua escolha por vocação.

Esses dados apontam para uma distribuição quase similar entre o percentual de estudantes que escolheram o curso por vocação e os que não levaram este fator em consideração.Portanto, a evasão não estaria relacionada com este aspecto vocacional.

Analisar o perfil do estudante contribui para elaborar um melhor entendimento da falta de motivação dos estudantes para continuar na universidade. Constata-se que para muitos o fator de abandono está relacionado a aspectos sociais e externos a sua vontade, mas para muitos, está ligado a falta de motivação.

Compreendendo a motivação como um construto multifatorial, conforme salientam Boruchovitch (2008), Santos e Antunes (2007), Santos Antunes e Schmitt (2010), Anderman e Maehr (1994) e Lens, Matos e Vansteenkiste (2008), entre outros autores, múltiplas são as variáveis a ela relacionadas. Apesar disso, carece na literatura produções que tratem especificamente dos indicadores e variáveis motivacionais, fato que dificulta obter uma visão abrangente sobre os principais aspectos que interferem na instauração dos processos motivacionais.

Na tentativa de evidenciá-las, Boza (2010) realizou recentemente uma importante revisão da bibliografia, sobretudo no entorno acadêmico espanhol, tendo encontrado mais de vinte variáveis para a motivação no ensino superior. O autor ressalta aspectos relacionados ao desempenho acadêmico, aos fatores afetivos, ao clima da aula e às competências do docente.

Gonzáles Cabanach et al. (2007) propuseram uma classificação dos principais fatores associados à motivação. Os autores apresentam três componentes, conforme seguem:

1) componente de valor – contemplando aspectos ligados à razões e metas de realização das tarefas (por que realizo essa tarefa?);
2) componente de expectativa – agrupando fatores ligados à auto-percepção e crenças pessoais (sou capaz de realizar essa tarefa?); e
3) componente afetivo, que agrupa aspectos associados às reações emocionais (como me sinto ao realizar essa tarefa?)

Compreendendo a realidade dos alunos pesquisados, a escolha e a evasão do curso estão relacionado principalmente aos aspectos de preferência pessoal, em que os fatores envolvendo realização pessoal, motivação e as relações intrapessoais parecem ser mais evidentes mediante fatores de características socioeconômicas. Ou seja, a necessidade de pertencimento é uma variável que interfere diretamente na permanência ou desistência do acadêmico.

4.2 Caracterização familiar

Dos respondentes do questionário, 12% afirmaram serem filhos únicos, 37% possuem apenas 1 irmão, 25,8% 2 irmãos, 10% 3 irmãos, 5,5% 4 irmãos, 4.1% 5 irmãos e 4,5% mais de 5 irmãos. Desses, 56,4% afirmaram que alguns de seus irmãos concluíram ou frequentam curso superior, contra 30,6% que afirmam que não, sendo que 9% dos estudantes não forneceram essa informação.

Em relação a ordem de nascimento em relação aos irmãos, 31,2% afirmam ser o primeiro filho, 29,9% o segundo, 14,1% o terceiro, 6,2% o quarto, 3% o quinto, 2,3% acima do quinto e 12% não se aplica por ser único filho.

Esses dados possibilitam identificar a mobilidade social ocorrida na Educação superior, ou seja, 31% dos estudantes que abandonaram seus estudos não possuem tradição familiar na vida acadêmica universitária. Por outro lado, é importante considerar que 56% dos que abandonaram são oriundos de famílias com inserção na educação superior, o que nos leva a inferir que a evasão universitária estudantil está associada a multifatores, não estando restrito a tradição familiar.

Corroborando com essas informações, estudos anteriores de Saenz, Hurtano, Barrera, Wolf, Yeung (2007) afirmam que estudantes sem tradição acadêmica tendem a ter aspirações educacionais baixas quando comparados com os estudantes que possuem tradição familiar. Isso pode ser explicado pela falta de informações sobre as fontes de disponibilidades de recursos, suportes institucionais, bem como a sua preparação acadêmica.

Não foi possível realizar um aprofundamento sobre as ações afirmativas, já que não foi uma questão priorizada no questionário.

Já em relação à escolaridade dos pais, os dados subdividem-se entre, pai, mãe e tutor. De acordo com os estudantes 36,3% diz que o pai tem escolaridade em nível de Ensino Secundário, 20,5% possuem curso de licenciatura, 13,5% bacharelado, sendo que os demais se encontram entre Educação Básica, Formação Profissional e ainda 2% afirma que o pai não possui escolaridade formal, nem é alfabetizado e 8% diz ser alfabetizado, porém não ter escolaridade formal.

A escolaridade da mãe acompanha a mesma tendência dos dados do pai, sendo 38% Ensino Secundário, 20,1% Licenciatura e 12,6% possuem bacharelado, as demais se encontram entre Educação Básica, Formação Profissional.

Em relação ao tutor, a questão se aplica a apenas 4% dos participantes, sendo que os mesmos responderam que esses 4% possuem curso de bacharelado.Tais aspectos reforçam a inferência anterior, sobre a tradição. Porém, 87,3% dos participantes afirmam que seu meio familiar promove e facilita hábitos de estudo adequados, contra 9% que apontam que o ambiente familiar não é propício para os estudos.

Diante de o exposto nos inquieta saber como em um ambiente familiar propício para o estudo, os estudantes abandonam os mesmos. Uma possível inferência nos leva para a questão de falta de estímulo para os estudos, uma vez que grande parte dos pais não possui formação em nível de educação superior. Porém essa é apenas uma possível causa que auxiliou a evasão, não sendo possível afirmar com exatidão essa afirmação.

4.3 Aspectos relacionados à Universidade

Em se tratando dos aspectos relacionados à Instituição, acreditamos ser importante conhecer o sentimento dos estudantes em relação ao ambiente social da Universidade. Sendo que tal aspecto é expresso graficamente na Figura 1.

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Fig. 1 – Ambiente social da instituição Fonte: as autoras

De acordo com os dados, grande parte dos estudantes afirmou que o ambiente social na instituição é bom ou muito bom e apenas 0,4% considera o ambiente muito ruim. Ou seja, socialmente a instituição possui um ambiente social favorável.

Nesse sentido Guimarães aponta que,

O sucesso escolar, definido principalmente pelos resultados de aprendizagem, em parte depende das atitudes e crenças por ele desenvolvidas sobre, por exemplo, a percepção de si mesmo, suas crenças sobre a eficácia pessoal, as metas que assume, entre outras. No entanto, os fatores sociais, representados pelos relacionamentos com os pais, irmãos, professores e colegas, são centrais na dinâmica do envolvimento dos alunos com a escola. (Guimarães, 2004, p. 180)

A instituição estudada apresenta um suporte importante para combater a evasão e promover a permanências dos seus estudantes. Entre elas:

A Coordenadoria de Ensino e Desenvolvimento Acadêmico (CEDA) presta assessoria às Faculdades e outras instâncias universitárias sobre questões pedagógicas. Envolvendo ações de proposição de políticas institucionais e orientações para a elaboração, implantação e acompanhamento dos Projetos Pedagógicos de Curso, promoção de atividades que visam à atualização permanente dos professores, tais como seminários, cursos aos novos docentes, cursos envolvendo Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), modalidade semipresencial e temas específicos, elaboração de projetos que visam à inovação curricular e à qualificação do ensino de graduação;

O Stand Calouros, recepção oficial aos calouros que ingressam na Universidade, com vistas à integração com a comunidade universitária;

As atividades de diagnóstico escolar fazem parte da política institucional definida em sua filosofia, princípios evalores. Os resultados estão orientados a melhorar a relação dos estudantes com a instituiçãoe, consequentemente, estimular a permanência;

As Faculdades proporcionam aos estudantes, durante todo ano, informações sobre cursos, vida acadêmica, mercado de trabalho através de conferencias e práticas que ficam a cargo de diretores, professores e alunos da instituição;

Existe a preocupação de apoiar os alunos com dificuldades, para isso, a instituição conta com o Laboratório de Aprendizagem (LAPREN) e o Núcleo de Apoio a Estudiantes com Necessidades Específicas (LEPNEE).O LAPREN é um laboratório no qual o aluno tem a oportunidade de ampliar seus conhecimentos com o auxílio de materiais didáticos – objetos de aprendizagem – disponíveis em meio digital. Os graduandos podem realizar atividades com acompanhamento de bolsistas de iniciação científica, supervisionados por professores. Além de oferecer apoio na superação de dificuldades de aprendizagem, o LAPREN propicia a realização de pesquisas relacionadas à produção de materiais didáticos e à capacitação dos bolsistas como futuros professores.

O LEPNEE (Laboratório de Ensino Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas), é o espaço que acolhe alunos com algum tipo de necessidade especial, oferecendo-lhes ferramentas de apoio e acompanhamento diferenciado, de modo a possibilitar sua acessibilidade – física, atitudinal e pedagógica –, ampliar seu bem-estar na Instituição e, assim, promover seu desempenho acadêmico.

Sobre a convivência com os colegas, 46,1% diz que a mesma foi muito boa, contra 1,2% que relatam ter sido má e muito má. Na teoria da auto-determinação, ao estudar o que motiva os estudantes, apresenta o conceito de pertencimento como fator determinante no processo motivacional. O relacionamento refere-se à necessidade de estabelecer relações interpessoais significativas em contextos específicos, gerando percepção de pertencimento e apoio a um grupo determinado (Deci e Ryan, 2000). Juntamente com a percepção de autonomia e competência, a necessidade de relacionamento constitui-se como elemente determinante do comportamento intrinsecamente motivado.

Já em relação aos professores, 43% afirmaram ter uma convivência muito boa com os mesmos e 1,2% afirmaram que a convivência era muito má.

Sendo assim, percebe-se que mesmo o estudante tendo evadido da universidade, a experiência de ter frequentado a instituição foi uma experiencia positiva de vida e de convivência, o que denota a característica de pertencimento positiva nessas estudantes em relação a isntitução. Nesse sentido Guimarães (2004) afirma que “a necessidade de pertencer é apontada como essencial para o desenvolvimento saudável de todos os indivíduos”.

Em relação a metodologia predominante nas aulas, 72,2% afirmam que as aulas eram ativas e que o estudante participa com perguntas, trabalhos individuais ou em grupo e 27,3% dizem que as aulas eram passivas, nas quais o professor explicava a matéria de forma expositiva nas aulas teóricas e práticas, ou seja, uma aula que segue os métodos tradicionais de ensino.Isso denota o olhar da universidade para os aspectos metodológicos dos cursos e a preocupação constate com o envolvimento dos estudantes de forma ativa e participativa nas aulas.

4.4 Aspectos relacionados aos estudos

Para ser possível analisar as questões relacionadas ao abandono, acreditamos ser imprescindível olhar para as condições em que o estudante permaneceu na instituição, bem como a sua percepção sobre a sua dedicação aos estudos. Para atender esse aspecto do estudo, apresentamos no gráfico representado pela Figura 1, que apresenta a visão do estudante sobre sua frequência nas aulas.

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Fig. 2 – Frequência nas aulas
Fonte: as autoras

Esse gráfico apresenta uma configuração que nos leva a refletir sobre a frequência dos estudantes em sala de aula. Uma vez que a mesma é alta, o que levou esses estudantes a abandonarem seu curso?

Essa é uma questão que procuraremos responder a partir da triangulação dos dadoscom as informações sobre os motivos que levaram os estudantes a abandonarem seus estudos. Já que o fato de frequentar as aulas não foi suficiente para mantê-los na Universidade.

Ao questionar os estudantes sobre o que os levou a abandonar os estudos, foram elencados diferentes possíveis motivos, dentre esses: questões financeiras, conhecimentos estudados, permanência na Universidade e experiência frustrante ao realizar o curso de graduação. No aspecto financeiro 32,5% afirmaram que teve relação com o abandono dos estudos a economia pessoal e familiar e 24,8% disseram não ter forte relação econômica com o abandono. Este percentual que corrobora com a ideia mencionada anteriormente que o abando pode não ter como causa prioritária a dificuldade financeira.

Essa resposta deve ser entendida dentro do escopo de Políticas Públicas de Inclusão. O Brasil a partir de 2003 vem aperfeiçoando tais políticas em diversos níveis: em nível de acesso através do PROUNI, em nível de permanência através do FIES, bolsas de Iniciação Científica e, mais recentemente, com o projeto Ciências Sem Fronteiras. Essas iniciativas estão incentivando estudantes de diferentes níveis sociais e econômicos a ingressarem e permanecerem na Universidade.

Em relação aos conhecimentos trabalhados em aula durante o curso,cerca de 70% dos estudantes afirmam ter levado em consideração a funcionalidade dos conteúdos expressos pela variável “Os estudos realizados proporcionaram conhecimentos úteis”, para decidirem abandonar seus estudos. Ou seja, para a grande maioria, é muito importante o significado prático dos conteúdos.Esse dado, nos leva a pensar na importância de realizar um estudo aprofundado sobre os cursos e componentes curriculares e sua aplicabilidade, principalmente, no mercado de trabalho, já que os estudantes fazem uma análise comprometida dessa questão.

Ao questionar os estudantes sobre a permanência na Universidade 42% afirmaram ter levado em consideração a variável: “No geral, avalio positivamente a minha permanência na universidade de ensino superior”, ao decidir abandonar seus estudos, sendo que apenas 1,9% diz não estar de acordo com esse dado para a tomada de decisão.

Sobre a experiência, 52,9% não “consideramque foi uma experiência frustrante” e 17,5% afirmaram estar muito de acordo com o motivo pelo qual abandonaram os estudos. Nessa perspectiva, mesmo os estudantes tendo abandonado a universidade, consideram que ter passado por ela foi uma experiência significativa.

Ora, se temos um bom percentual que afirma não ter relação entre abandono e dificuldade econômica, do mesmo modo que indicam levar em consideração a relevância dos conhecimentos estudados e ainda avaliaram que a permanência na instituição foi positiva, podemos mensurar que temos um ponto convergente para o aspecto da evasão na Instituição.

Todavia, ao verificar se os estudantes tem intenção de retornar os estudos de mesmo nível educativo, 48,5% dos estudantes afirmam ter a intenção de retomar os estudos imediatamente e apenas 3,4% dos estudantes diz que não pretende retomar nunca seus estudos no mesmo nível, ou seja, na Educação Superior.

Ao serem questionados se retornariam a estudar em um nível inferior, 63,1% afirma que não, nunca retornaria em nível inferior e 2,9% afirmam que pretendem iniciar esses estudos imediatamente.

5. Considerações

O presente estudo evidenciou que analisar os aspectos relacionados à evasão é uma atividade complexa e necessita de estudos que levem os dados a exaustão a partir da triangulação de questões com características diversas, mas que podem complementar o sentido e o valor empírico de cada aspecto.

Ao analisar os dados relacionados a evasão na Instituição pesquisada, percebemos que os estudantes consideram o ambiente universitário acolhedor, porém levam em consideração a aplicabilidade dos conhecimentos construídos para continuar na carreira/curso escolhido. Tal aspecto nos leva a inferir que aspectos metodológicos devem ser reconsiderados, bem como a atualização do currículo pode ser um viés interessante para mudar o cenário de evasão ora apresentado.

Também devemos analisar as boas práticas oferecidas pelas instituições como fator importante para a diminuição do abandono estudantil. Nesse sentido, constatamos que a universidade em questão promove uma série de políticas que buscam qualificar a permanência dos estudantes na instituição.

A partir desses pressupostos teóricos percebe- se que muitos foram os elementos encontrados além dos contrapontos destacados entre as teorias abordadas. Embora os estudos estejam evoluindo, acredita-se que uma teoria que responda a tantas questões no que se refere ao próprio desenvolvimento humano necessita de muito mais estudo e investigação. No entanto, esses primeiros referenciais acerca dos indicadores motivacionais, aqui apresentados apontam para a necessidade de, permanentemente, refletir sobre os estudantes universitários, seus processos de ensino e de aprendizagem, e nesses, seus processos motivacionais.

Contudo, afirma-se que a motivação e seus entendimentos, concepções e ativações, tornam-se subsídios imprescindíveis para melhorar a qualidade do ensino superior em suas interfaces e subjetividades, de docentes à discentes. Nesse sentido, parece fundamental que todos os prováveis indicadores e suas variáveis motivacionais, acima destacados, configuram-se como elementos socioculturais que interferem em cada processo motivacional.

Nisso tudo, afirma-se a necessidade e possibilidade de fomento de novos estudos e pesquisas que possam abarcar tantas dúvidas e certezas sobre os processos motivacionais no desenvolvimento e na vida de cada pessoa. Nesse sentido, pretende-se ratificar os referenciais motivacionais, visando a construção de instrumentos, quer seja com docentes e/ou discentes, que possibilitem a constante busca pela necessidade da qualidade no ensino superior, através de pesquisas sólidas no espaço acadêmico vinculadas ao contexto da realidade social.

Referências

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