ACADÊMICOS QUE FREQUENTAM A MONITORIA:
comprometimento e aprovação
LÍnea 2. PrÁcticas para reducir el abandono: acceso a la educaciÓn superior, integraciÓn a las instituciones e intervenciones curriculares

Vera Lucia Felicetti
Kelly Amorim Gomes
Paulo Fossatti
Mestrado em Educação/UNILASALLE – BRASIL
[email protected]

Resumo O Centro Universitário La Salle – Unilasalle, visando o sucesso para a permanência dos alunos na Instituição de Ensino Superior (IES) vem dedicando esforços que envolvem gestores, funcionários e professores no desenvolvimento de estratégias e práticas com foco na aprendizagem do aluno. Para tanto, desde 2006 com a implantação da ferramenta de gestão Balanced Scorecard (BSC) com o objetivo de alinhar o planejamento estratégico com as ações operacionais da instituição e posteriormente em 2011 com a criação do Núcleo de Apoio ao Estudante – NAE, setor com a finalidade de acompanhar os acadêmicos em sua jornada na IES, foram criadas e ampliadas algumas estratégias que buscam maior compreensão das situações individuais e coletivas capazes de influenciar no desempenho e na permanência do acadêmico na IES. O presente artigo tem por foco o trabalho realizado nas Monitorias, com enfoque na Monitoria Agendada que teve início no primeiro semestre de 2013. A abordagem metodológica usada neste artigo foi quantitativa com objetivo descritivo comparativo. Os dados analisados envolveram 129 alunos da graduação, que frequentaram os atendimentos de monitoria no primeiro semestre de 2013. As análises apontam o sucesso, ou seja, a aprovação da maioria dos alunos que frequentaram a monitoria. Os resultados indicam que a quantidade de atendimentos reflete no sucesso do aluno, pois a relação entre o número de atendimentos e a aprovação foi estatisticamente significativa com p=0,048. Tais resultados reforçam a necessidade de o estudante ter um contínuo nos estudos, de esforço e de tempo dedicado para a aprendizagem, ou seja, do comprometimento do aluno com a sua aprendizagem. Além disso, este trabalho evidencia a relevância do trabalho preventivo envolvendo o corpo docente e discente e de séria política institucional com vistas à permanência do estudante na instituição com foco em sua aprendizagem.

Palavras-chave: Monitoria, Comprometimento, Aprovação.

Introdução

O sucesso para a permanência dos alunos na Instituição de Educação Superior (IES) depende de uma política institucional que envolva o apoio inequívoco dos gestores, o envolvimento de funcionários e professores na formação de operações e práticas com foco no aluno.

Sob tal viés o Centro Universitário La Salle (UNILASALLE) da cidade de Canoas no Rio Grande do Sul – Brasil tem oferecido, mais do que atividades isoladas, um programa de acompanhamento ao aluno, que compreende: nivelamento, monitorias, contatos, aconselhamentos entre outros. Destacamos aqui a monitoria desenvolvida na área das exatas, ou seja, voltadas às disciplinas que envolvem a matemática. Tal escolha pelas exatas justifica-se pelo baixo rendimento de muitos alunos em disciplinas que envolvem conteúdos matemáticos, o que pode ser caracterizado pela grande dificuldade de entendimento dos mesmos (Pereira; Maciel, 2013).

De acordo com Felicetti e Giraffa, ”O ensino de Matemática está estruturado numa cadeia de pré-requisitos do Ensino Fundamental ao Ensino Superior. Um elo desta cadeia estando frágil compromete todo o sistema.” (2012, p.143). Muitas vezes o alunado chega ao ensino superior sem os pré-requisistos necessários ao entendimento dos conteúdos matemáticos pertinentes a esse nível de ensino. Nesta direção, o serviço de monitoria, além de dar atendimento específico às dificuldades apresentadas nas disciplinas correspondentes ao ensino superior, também retoma conteúdos pertinentes à educação básica de modo a proporcionar o entendimento dos conteúdos subsequentes.

O trabalho de monitoria objetiva atender os alunos resgatando suas dificuldades, quer sejam do conteúdo desenvolvido em sala de aula ou de pré-requisitos de modo a propor estratégias capazes de amenizá-las ou até mesmo resolvê-las. De acordo com Schneider (2003) a monitoria sob esse enfoque caracterizá-se como atividade de apoio ao estudante em seu processo de ensino e aprendizagem.

A monitoria pode ser entendida não somente como um momento de resgate de conteúdos, mas sim, como uma forma de atendimento continuo ao estudante, desenvolvendo nele o hábito de estudar constantemente, não somente em véspera de prova. O hábito de não estudar continuamente é um aspecto cultural na realidade educacional brasileira. Se o aluno estudar para cada aula, ou seja, se ele fizer, ou pelo menos tentar fazer os exercícios para a aula, ele tem condições de melhor participar da mesma, fazendo perguntas, pode perceber seus erros e acertos, ele tem um contínuo no conteúdo e consequentemente na sua aprendizagem, pois ele vai se autoavaliando, percebendo suas fraquezas e necessidades em relação ao conteúdo desenvolvido, bem como para com a sua aprendizagem.

Sem dúvida inúmeros estudos evidenciam a importância e eficácia do desenvolvimento de tutorias, monitorias e programas de nivelamento, em especial na área das exatas (Mkumbo; Amani, 2012). O UNILASALLE os oferece, no entanto, o número de alunos que tem frequentado não é relevante se comparado com o total de matriculados nas disciplinas que envolvem matemática, embora tem-se monitores em diferentes horários organizados pelo Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE) da instituição, bem como a possibilidade de agendamento de horário pelo aluno, ou seja, o aluno pode programar-se de acordo com a sua disponibilidade, visto que a instituição tem uma professora graduada em Matemática atuando como monitora.

Pode-se relacionar a pouca procura pela monitoria a diversos fatores, entre eles o fato da maioria do alunado da instituição em foco trabalhar e sair deste direto para a instituição de ensino; outro fator é o hábito de estudar somente em véspera de prova, ou seja, a cultura da última hora e a falta de organização entre tempo, estudo e trabalho. Para Felicetti:

Somente dispor de tempo para se dedicar aos estudos não é suficiente como explicação, mas o que realmente importa é como melhor investir esse tempo. Dispor de tempo é variável central para um acadêmico, entretanto, saber onde, como e com o que empregá-lo constitui-se um fator importantíssimo. (Felicetti, 2011, p. 212).

Nesta direção, não basta a instituição ou os professores se empenharem para que o aluno tenha sucesso em sua aprendizagem, o comprometimento do aluno é fundamental para que isso ocorra, pois ele é o protagonista, e como afirma Tardif (2002, p. 132), “nada nem ninguém pode forçar um aluno a aprender se ele mesmo não se empenhar no processo de aprendizagem.”. Portanto, o estudar, o preparar-se para as aulas, o realizar as tarefas solicitadas pelo professor, bem como ir além do exigido em sala de aula são aspectos essenciais para a aprendizagem.

Com o intuito, não somente de resgatar conteúdos, mas também de desenvolver no alunado o hábito de estudo, a conscientização da necessidade de realmente aprender e compreender os conteúdos para poder solucionar problemas para além da sala de aula, o trabalho de monitoria desenvolvido pela instituição busca um acompanhamento longitudinal dos alunos que frequentam o serviço.

Neste artigo será apresentada a dinâmica desenvolvida pela instituição através do NAE, a qual segue na parte dois deste artigo; na sequência consta a metodologia usada neste estudo; a análise dos dados; as considerações finais e por fim as referências.

2. O Núcleo de Apoio ao Estudante Resulta do Balanced Scorecard

O NAE nasce do modelo de gestão estratégica que se utiliza do Balanced Scorecard. O Balanced Scorecard (BSC) é uma ferramenta gerencial que vem da área empresarial (Kaplan; Norton, 2004 que a cada dia mais, está sendo adotada por instituições educativas. Costa (2006, p. 7) explica que:

O BSC, diferentemente das ferramentas gerenciais tradicionais, explicita a ligação do planejamento estratégico com o planejamento operacional, ao detalhar os passos do desdobramento da vantagem competitiva em ações. Essas ações demandam recursos operacionais e financeiros que deverão estar contemplados no planejamento operacional e, consequentemente, no orçamento.

O BSC também é concebido como um Sistema de Gestão Estratégica que utiliza de modo balanceado indicadores financeiros e não financeiros. Da mesma forma, ele estabelece as relações de causa e efeito entre esses indicadores e as descreve em mapas estratégicos.

Kaplan e Norton (2004) destacam que as organizações inovadoras usam o BSC para administrar a estratégia em longo prazo, bem como viabilizar os processos gerenciais críticos. Esta ferramenta foi implantada pela gestão do Unilasalle no ano de 2006.

O BSC articula dimensões e medidas fundamentadas em quatro perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento. Em cada uma destas perspectivas são monitorados indicadores que representam os principais resultados da Instituição com as seguintes informações: nome do indicador, unidade de medida utilizada, tendência para análise e período de análise. Na perspectiva dos clientes, é que foi criado o NAE. Kaplan e Norton (1997) dizem que a empresa deve determinar seu segmento-alvo de clientes e negócios e dispor de um conjunto de medidas essenciais que envolvem os seguintes aspectos: participação, permanência, captação, satisfação e sustentabilidade. Além disso, é preciso identificar o que os clientes do segmento-alvo valorizam e elaborar uma proposta de valor a esses clientes. Os objetivos traçados, bem como as metas definidas, ensejam cuidados especiais e constante monitoramento no sentido de priorizar ações e foco no negócio, voltados para o atendimento dos diferentes públicos. Nesta perspectiva de Clientes encontram-se as ações voltadas para a diminuição do índice de evasão, a diminuição do índice de reclamações (ouvidoria) e as ações de monitoria da IES em estudo.

O sistema BSC é avaliado mensalmente e tem como principais tópicos a apresentação das ações, indicadores e metas do BSC juntamente com a Reitoria, Diretorias e Responsáveis por ações e indicadores, ou seja, se traça um paralelo entre o que está sendo feito e o objetivado, possibilitando desse modo avançar e retomar o que não está alinhado aos objetivos.

Com relação às perspectivas preconizadas, cada uma tem um setor responsável. Acerca do cliente, por exemplo, criou-se o grupo da evasão, responsável pela análise e acompanhamento do indicador que mede o índice de evasão. Desde então várias ações foram criadas para redução desse índice, o que culminou com o projeto de implantação em 2011 do NAE.

Este núcleo caracteriza-se por acompanhar os acadêmicos em seu percurso na instituição, visando maior compreensão das situações individuais e coletivas, que possam vir a influenciar no seu desempenho acadêmico, de modo a garantir que nela permaneça até a integralização do curso.

Para tanto, oferece gratuitamente aos alunos os seguintes serviços:

Adaptação ao Ambiente Universitário (palestras e oficinas de integração);
-Alternativas para conduzir a permanência do acadêmico (aspectos financeiros, relação professor x aluno);
-Programa de Nivelamento (revisão dos conteúdos do Ensino Médio);
-Programa de Monitoria (aulas de reforço);
-Orientação Profissional (acadêmicos que estejam em dúvida quanto ao curso escolhido);
-Assistência Psicossocial (situações emocionais que estejam dificultando o desempenho acadêmico).
-Projeto de voluntariado no Brasil e no exterior.
-Laboratório de Informática 24h, inclusive aos domingos e feriados.

Neste artigo nosso foco é falar do Programa de monitorias que é oferecido em diferentes horários disponibilizadas pelo NAE. Este, permite melhor organização do aluno no que compete a associação entre tempo, trabalho e estudo. Tal Programa têm como monitores acadêmicos da instituição que se sobressaíram em diferentes disciplinas e que foram indicados pelos professores para atuarem como monitores. Também faz parte desse grupo uma monitora contratada pelo NAE. Essa monitora corresponde a uma licenciada em Matemática que atua 40h, atendendo os alunos inclusive com horários agendados. Além dos monitores acadêmicos e da monitora contratada, que denominaremos neste texto como monitora titular, há a participação de um aluno do mestrado em Educação, graduado em Licenciatura Matemática, que atua como monitor voluntário em dois horários semanais.

As atividades de monitoria realizadas pelos acadêmicos da graduação são classificadas em duas categorias. São estas: remunerada ou voluntária. Na primeira, o acadêmico recebe um desconto na mensalidade por quatro meses, proporcional às horas que atua como monitor e um certificado de horas complementares; a segunda é voluntária e o aluno recebe o certificado de horas complementares.

O papel dos monitores é auxiliar os acadêmicos com suas dúvidas, pertinentes aos conteúdos trabalhados em sala de aula pelo professor da disciplina. Os acadêmicos podem esclarecer dúvidas, obter explicações de conteúdo quando faltaram aula e solicitar auxílio para resolver os exercícios propostos pelo professor. As monitorias são realizadas em um espaço denominado Sala de Aprendizagem, local que os alunos podem utilizar para os estudos mesmo quando não estão recebendo o serviço de monitoria. Os monitores contam com o auxilio dos professores, que disponibilizam o material trabalhado em aula para os monitores e em algumas situações liberam o acesso ao ambiente virtual da disciplina para que o monitor amplie sua participação na mesma.

O trabalho desenvolvido pelos monitores foi acompanhado, bem como o registro dos estudantes participantes durante seu primeiro semestre de efetivação. Desse modo montou- se um banco de dados e pôde-se analisar o trabalho de monitorias realizado, associado ao desempenho dos estudantes. A seguir apresenta-se a metodologia usada na análise dos dados.

3. Metodologia

Este trabalho teve enfoque quantitativo como abordagem metodológica com objetivo descritivo comparativo. Para Booth, Colomb e Willians (2000) o enfoque quantitativo possibilita identificar o perfil do grupo de indivíduos envolvidos no estudo. Quanto ao objetivo descritivo, que assume em geral a forma de levantamento, visa descrever as características da população ou fenômeno em foco e/ou o estabelecimento de relações entre as varáveis, em questão neste estudo alunos que frequentaram a monitoria e foram aprovados e reprovados (Silva; Menezes, 2001, p. 21).

Os critérios de significância estatística adotados neste estudo, de acordo com Bós (2004), consideraram: os valores para p menores que 0,05 foram estatisticamente significativos e p entre 0,1 e 0,05 como indicativos de significância. A comparação da distribuição dos alunos reprovados e os aprovados que frequentaram a monitoria apenas uma vez e os que frequentaram mais de uma vez foi testada pelo Qui-quadrado.

A coleta dos dados foi feita a partir de uma ata de presenças que os alunos assinavam toda vez que participavam das atividades de monitoria. Nessa ata os alunos preenchiam seu número de matrícula, a disciplina que solicitaram monitoria e o nome do monitor que os auxíliou. A partir destas informações foram elaboradas tabelas contendo as informações necessárias a cada aluno que procurou a monitoria e a disciplina. Posterior a isto acessamos as Estatísticas de Aproveitamento de Alunos da Graduação e verificamos o aproveitamento desses alunos nas disciplinas que utilizaram monitoria.

4. Análise e Discussão dos Dados

No Gráfico 1 pode-se observar o aproveitamento dos alunos atendidos nas monitorias realizadas pela monitora titular.

Os dados analisados envolveram 129 alunos da graduação, que frequentaram os atendimentos de monitoria no primeiro semestre de 2013. O total de atendimentos foi de 337.

Gráfico 1 – Aproveitamento das Monitorias Agendadas 2013/1. Total de alunos atendidos: 93. Total de atendimentos: 220. Monitora titular.

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1

Os resultados evidenciam que com excessão da disciplina de Física, todas as demais tiveram resultado positivo, ou seja, do total de alunos atendidos, o percentual de aprovados foi maior que o de reprovados. Observa-se aqui que a monitora em questão não tem formação na área de Física, mas sim, formação na área de Matemática. Isso reforça a necessidade da formação para a área de atuação.

Fazendo o índice geral de aprovação e reprovação dos percentuais apresentados no gráfico 1 podemos concluir que houve 74,2% (69) de aprovações e 25,8% (24) de reprovações.

No gráfico 2 consta o percentual correspondente aos alunos atendidos pelos demais monitores. Pode-se observar que o índice de aprovação foi maior que o de reprovação em todas as disciplinas. Também destacamos a falta de monitores em Física, Álgebra, Cálculo II e Matemática Financeira. Nem sempre é possível indicar alunos capazes de realizarem esta tarefa ou muitas vezes os que têm condições para isso não possuem a disponibilidade tempo.

Do total dos índices apresentados no gráfico 2, tem-se 66,7% (24) de aprovações e 33,3% (12) de reprovações.

Gráfico 2 – Aproveitamento de Monitorias 2013/1. Total de alunos atendidos:36. Total de atendimentos:117. Outros monitores.

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1

No Gráfico 3, podemos observar o percentual de alunos aprovados nas disciplinas de Matemática Elementar. O qual corresponde a 52,8% dos 284 matriculados; o de reprovados 14,1%; o percentual dos cancelados que corresponde àqueles alunos que fizeram a matrícula e cancelaram em seguida, sem frequentar, foi de 9,5%; os 23,6% restantes, caracterizados como excesso de faltas, trancamentos e desistências. Estes dados nos dão indicativos de algo a se fazer de modo a manter esses alunos na disciplina até o final da mesma, pois estes desistem ou trancam sem irem até o final de seus cursos. Este comportamento evidencia a falta de comprometimento para o ser e fazer enquanto estudante. Esses alunos muitas vezes tendem à evasão. O comprometimento do aluno contribui para que o mesmo permaneça na IES.

Gráfico 3– Estatística de aproveitamento geral de Matemática Elementar 2013/1 (Total de matrículas 284).

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1

Na disciplina de Cálculo I, Gráfico 4, o percentual de aprovados (39,6%) e reprovados (32,7%) são próximos o que justifica um acompanhamento aos alunos egressos da Matemática Elementar (2013/1) que estarão matriculados em Cálculo I. Esse acompanhamento poderá nos dar indicativos de maiores exigências na Matemática Elementar. Da mesma forma, poderá gerar novas formas de acompanhamento e auxílio aos alunos, uma vez que um bom desempenho em Cálculo I é fundamental para o contínuo de muitos cursos que têm essa disciplina como pré-requisito. Estas disciplinas participam do sucesso do aluno e por extensão uma formação de qualidade. Quanto aos percentuais (27,8%) das demais situações, esses nos dão os mesmos indicativos já mencionadas para a Matemática Elementar.

Gráfico 4– Estatística de aproveitamento geral de Cálculo I 2013/1 (Total de matrículas 101)

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1

Comparando os dados do Gráfico 1 com os dos Gráficos 3 e 4 destacamos o índice de aprovação dos alunos que utilizaram monitoria nas disciplinas de Matemática Elementar e Cálculo I e o índice de aprovação nas disciplinas. O índice de aprovação nas disciplinas de Matemática Elementar ficou em 52,82%, já o índice de aprovação dos alunos de Matemática Elementar que utilizaram monitoria agendada ficou em 68,2%. Na disciplina de Cálculo I esta diferença foi ainda maior; o índice de aprovação na disciplina ficou em 39,6% já o índice dos alunos que utilizaram o serviço de monitoria agendada ficou em 71,4%.

Os dados apresentados nos Gráficos acima evidenciam a relevância dos trabalhos de monitoria. Desse modo, é positivo o investimento e aprimoramente nesse trabalho. Destaca-se a presença da monitora titular na instituição, o que proporciona um leque maior de horários de atendimento, bem como melhor organização no trabalho das monitorias.

Acreditamos que devam ser dedicados esforços no que diz respeito a divulgação destas atividades de reforço oferecidas pela instituição. Quando comparamos o total de atendimentos ao número de alunos matriculados por disciplina observa-se que ainda é muito baixo o percentual de alunos atendidos no programa de Monitoria. Isso pode ser melhor observado no Gráfico 5.

Gráfico 5– Percentual de alunos atendidos na monitoria agendada 2013/1. Monitora titular.

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1

Outro dado importante pode ser observado quando comparamos o total de atendimentos de cada aluno, ou seja, mais de 60% dos alunos atendidos que foram reprovados, utilizaram o serviço de monitoria apenas uma vez, como pode ser observado no Gráfico 6. Isso representa a procura em véspera de prova e não um contínuo nos estudos. O que vai ao encontro de estudos que nos indicam a importância do tempo e do esforço investidos nos estudos para o sucesso na aprendizagem (Pace, 1984). Os alunos que encaram a monitoria como um suporte a ser usado apenas no dia que antecede ou no próprio dia de suas avaliações acabam não obtendo sucesso no processo avaliativo. A aprendizagem é um processo, é um contínuo, sendo assim não se pode pensar que estudando em véspera de prova ela ocorra.

Analisando e comparando os dados apresentados nos Gráficos 6 e 7 podemos observar o índice de alunos reprovados (62,5%) e aprovados (39,1%) que tiveram apenas um atendimento de monitoria e os reprovados (37,5%) e aprovados (60,9%) que tiveram mais de 1 atendimento. Os resultados indicam que a quantidade de atendimentos reflete no sucesso do aluno, pois a relação entre o número de atendimentos e a aprovação foi estatisticamente significativa com p=0,047.

Gráfico 6– Monitoria agendada 2013/1.

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1 Fonte: Registros do NAE – 2013/1

Gráfico 7– Monitoria agendada 2013/1.

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Fonte: Registros do NAE – 2013/1 Fonte: Registros do NAE – 2013/1

Os resultados reforçam a necessidade de um contínuo nos estudos, ou seja, do comprometimento do aluno para com a sua aprendizagem. De acordo com Mkumbo e Amani (2012), a maioria dos alunos que são bem sucedidos na universidade atribuem seu sucesso a fatores internos, como o esforço, a preparação, a capacidade natural e o foco. Nesta direção, Felicetti e Morosini reforçam que o comprometimento do aluno para com a sua aprendizagem está na “variedade e intensidade de meios utilizados para tal, como também o tempo disponibilizado para esse fim” (2008, p. 2).

Diante dos resultados estatísticos aqui apresentados e de acordo com pesquisas voltadas ao comprometimento do aluno podemos destacar que o esforço e dedicação do aluno são fundamentais para o seu sucesso (Astin, 1984; Tinto, 1987; Pascarella, Terenzini, 2005). “O fato inevitável é que para a conclusão universitária requer-se algum esforço” (Tinto, 1987, p. 44).

5 Considerações Finais

A cultura de um aluno que estuda, de uma comunidade que estuda, de uma universidade que estuda ainda é muito incipiente em nosso país. Na maioria das vezes estuda-se em função de uma nota, de uma aprovação na disciplina, em cima da hora. O gosto pelo estudo e pelo saber é cultura a ser desenvolvida por todos os segmentos sociais, e precisa começar já no berço familiar e na educação infantil. Certamente se tal cultura for desenvolvida no acadêmico, futuro graduado, este poderá desenvolvê-la no seu núcleo familiar.

O estudo aponta para a importância dada ao trabalho de monitorias qualificadas, em todas as disciplinas abordadas. Da mesma forma, a consolidação do trabalho de monitoria é objetivo a ser perseguido através de várias estratégias a fim de que o aluno, de fato, procure ajuda em sua necessidade.

O alto índice de reprovação na Educação Superior, conforme os dados em estudo, leva- nos a pensar em políticas de qualificação da Educação Básica que incluam monitorias já no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Estas políticas ajudariam a suprir lacunas de aprendizagem que se fazem notar nos índices negativos de aproveitamento no ensino superior.

O professor pode contribuir, estimulando e informando os acadêmicos acerca dos atendimentos de monitorias, bem como da relevância do hábito de estudar. Os responsáveis pelo programa podem passar nas salas falando acerca, pois o face a face é um fator motivador.

Palestras e/ou conferências abordando a questão da meritocracia, do sucesso e do comprometimento do aluno são bem vindas. Estas podem ir aos poucos desenvolvendo novos hábitos acerca do comportamento do estudante com relação à sua aprendizagem, em especial nas disciplinas que envolvem matemáticas.

Sugerimos, também, pensarmos maneiras de conscientizar nosso alunado acerca do seu comprometimento enquanto estudante. Não basta ser aluno e ter compromisso, é mister ser comprometido, ter comprometimento, pois este envolve o como estudar, o quanto estudar e quando estudar (Felicetti, 2011). Assim, retomamos o parágrafo inicial e complementamos que o sucesso estudantil não depende somente dos gestores, funcionários e professores, mas principalmente do aluno, do comprometimento deste com relação ao seu processo de aprendizagem.

Diante dos resultados aqui apresentados, novos estudos poderão ser delineados a fim de identificar as causas do elevado índice de trancamento de matrícula e de desistência da Educação Superior. Certamente o papel de uma monitoria preventiva ajudaria significativamente na fidelização dos alunos nesse nível de ensino.

REFERÊNCIAS

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