Atenção Psicossocial E Intervenção Interdisciplinar No Contexto Universitário Da Pucrs

LINHA TEMÁTICA: PRÁCTICAS PARA LA REDUCCIÓN DEL ABANDONO: ACCESO, INTEGRACIÓN, PLANIFICACIÓN.

Prof.ª Ms Doris Helena Della Valentina1

Prof.ª Ms Gilze de Moraes Rodrigues Arbo2

Prof.ª Ms Jacqueline Poersch Moreira3

Prof.ª Ms Jurema Kalua Vianna Potrich4

Prof.ª Dra. Maria Lucia Andreoli de Moraes5

Prof. Dr. Edgar Chagas Diefenthaeler6

Prof. Dr. Francisco Arseli Kern7

Resumo

Este trabalho apresenta o desenvolvimento das ações institucionais interdisciplinares do Centro de Atenção Psicossocial – CAP, coordenado pela Pró- Reitoria de Assuntos Comunitários – PRAC, no contexto universitário da PUCRS. O trabalho desenvolvido pelo CAP tem como objetivo a qualificação do processo de aprendizagem, com o olhar voltado à construção do sujeito em sua inteireza, nos aspectos técnicos, cognitivos, emocionais e sociais, tendo em vista a constituição humana destes sujeitos e a qualificação e conclusão do processo de formação profissional, tanto em nível de graduação como de pós-graduação. A equipe tem como metodologia de ação a mediação, e, através desta proposta, busca exercer a função de organizador situacional, ou seja, realizar a escuta atenta do discurso manifesto, da demanda apresentada, interpretando-a e, a partir disso, construindo a possível intervenção a ser realizada.

Palavras chaves: Psicossocial. Interdisciplinaridade. Universidade. Mediação.

1Psicóloga - Professora da FAPSI - PUCRS

2Pedagoga - Especialista em Psicopedagogia – Professora da FACED - PUCRS

3Psicóloga - Pró-Reitora de Assuntos Comunitários – FAPSI - PUCRS

4Especialista em Educação Especial – Professora da FACED - PUCRS

5Psicóloga - Professora da FAPSI - PUCRS

6Psiquiatra - Professor da FAMED - PUCRS

7Assistente Social – Professor da FSS

1. Introdução

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), tem como base pedagógica os princípios maristas, fundamentada na concepção da educação como obra de amor e preocupada com a formação integral do aluno. Essa formação busca tanto a qualidade na construção do conhecimento técnico como a formação pessoal do educador e do educando, objetivando a preparação de ambos para a vida.

Nesse contexto, a PUCRS, por intermédio da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários, criou, em março de 2006, o CAP (Centro de Atenção Psicossocial). Um dos objetivos que norteia o Centro é a busca pela qualificação dos processos de ensino e aprendizagem da comunidade interna da PUCRS, voltada a alunos e professores da Universidade. Busca excelência acadêmica com o olhar voltado à construção do sujeito em sua inteireza, compondo os aspectos técnicos, cognitivos, emocionais e sociais, integrantes do processo de construção profissional e da constituição humana destes sujeitos.

O CAP foi constituído para atender uma demanda que já existia dentro da Universidade e que era atendida de maneira isolada pelas diferentes Unidades Acadêmicas da Instituição. Com isso, por iniciativa da Pró-Reitora Prof.ª Jacqueline Poersch Moreira, emerge a necessidade de criação e implementação de um espaço legitimado, com a participação de uma equipe interdisciplinar composta por professores da área da Psicologia, Psicopedagogia, Educação Especial, Psiquiatria e Serviço Social, desta Universidade. O serviço caracteriza-se por atenção, atendimento e acompanhamento, de forma gratuita, das necessidades que estejam dificultando ou impedindo o processo de ensino e aprendizagem.

A proposta está pautada por uma dimensão ética e humana, de responsabilidade de quem se propõe a atender situações individuais ou grupais, de alunos (famílias) e professores que, por algum motivo, estejam apresentando alguma dificuldade em colocarem-se como sujeitos aprendentes e ensinantes. Assim, a ação desenvolvida caracteriza- se como preventiva, como toda proposta de atenção institucional, mas ao mesmo tempo, como é do nosso conhecimento, muitas vezes já se tem um sintoma instalado, o que dificulta a constituição da autoria, tornando, assim, a ação também terapêutica. Essa intersecção entre o processo preventivo e terapêutico é que norteia o processo de construção e reconstrução da ação interdisciplinar dessa equipe, considerando cada situação como única, mediando situações que estejam influenciando a qualidade nas relações de ensino e aprendizagem dentro da Universidade.

2. O contexto da universidade na atualidade

A Universidade como instituição de conhecimento, apresenta-se na atualidade como um dos principais caminhos que contribuem para que o aluno possa construir e realizar o seu projeto de vida, seja ele pessoal ou profissional. Muitas são as dificuldades com as quais todo e qualquer aluno se depara ao ingressar no mundo acadêmico como a grande promessa e possibilidade de transformação de sua história de vida.

Ao perceber que a realidade da formação universitária se contrapõe às próprias condições do aluno, muitos deles acabam trilhando outros caminhos e abandonam os seus projetos de vida, sejam eles pessoais ou profissionais. Nem todos os que ingressam e sonham com a Universidade permanecem nela e constroem nela um pertencimento e uma referência social. Originam-se, então, as razões que levam à compreensão do fenômeno da evasão do ensino superior, uma das questões que mais preocupam, hoje, as instituições de ensino.

Em todos os processos interventivos que o CAP realiza junto ao público acadêmico, observa-se que as mudanças rápidas identificadas nas características dos alunos, levam a refletir sobre as demandas e formas de intervir para trabalhar as necessidades que emergem frente às situações para que não haja interrupção dos processos associados aos projetos de vida.

Assim, o estudo da evasão no ensino superior no Brasil nas últimas décadas pressupõe que as sociedades modernas, na fase da globalização da economia, vejam o ensino superior como importante forma de inserção dos indivíduos na sociedade e no mercado de trabalho. Por isso, há muita pressão para um aumento contínuo do número de vagas, intensificada pela globalização. (BARREIRO e TERRIBILI, 2007)

Compreende-se a evasão como um processo de desistência, pelo discente, do curso ao qual estava matriculado, sendo caracterizada como um fenômeno social definido como interrupção no ciclo de estudos (GAIOSO, 2005). Sem dúvida, os estudos de evasão constituem um suporte importante para os processos de avaliação institucional. É um dos problemas que preocupam as instituições de ensino em geral, sejam públicas ou particulares pois a saída de alunos provoca graves conseqüências sociais, acadêmicas, econômicas e emocionais.

São poucas as IES que possuem um programa institucional regular de combate à evasão, com planejamento de ações, acompanhamento de resultados e coleta de experiências bem sucedidas (SILVA FILHO, 2007).

Assim, estudar a evasão e pensar em estratégias para combatê-la é fundamental para a qualificação dos processos de ensino e aprendizagem no ensino superior, considerando o fenômeno como um campo vasto e complexo que envolve questões pedagógicas, psicológicas, sociais, políticas, econômicas e administrativas.

3. Ação da equipe – Construção e reconstrução permanente

O trabalho desenvolvido pela equipe do CAP é de atenção, escuta atendimento, acompanhamento, intervenção e, se necessário, encaminhamento das necessidades apresentadas pelos alunos, professores e equipes diretivas. A postura de mediação entre os diferentes sujeitos busca exercer a função de organizador situacional, ou seja, realizar a escuta atenta do discurso manifesto, da demanda apresentada, interpretando-a e,a partir disso, construindo a possível intervenção a ser realizada.

Butelman (1998) descreve, com muita propriedade, a função do profissional que trabalha na instituição, dizendo que

“O institucionalista descreve o que eles dizem que está acontecendo, o que parece uma redundância, mas não o é, porque ele enuncia com suas palavras; pode se fazer entender de outra maneira, porque isso que está acontecendo pertence ao campo dos fenômenos: os consultantes estão dentro, o vivenciam. O profissional ‘os olha’, e ‘seu olhar’ funciona como um organizador situacional, criando o espaço real: ele lhes conta primeiro o que vê e, com esse dizer, afirma esses fenômenos no espaço real de observáveis; a eles está acontecendo, e ele o diz.” (1998, p. 21 – 22)

Nesse contexto a mediação, que tem centralidade na metodologia da equipe é vista por Vezzulla (1995) como

A mediação é uma técnica de resolução de conflitos não adversarial que, sem imposições de sentenças ou laudos e com um profissional devidamente formado, auxilia as partes a acharem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo criativo onde as duas partes ganham. (p.15)

Sendo assim, produz-se uma leitura do que é demanda e do que é necessidade, o que nos leva a um trabalho alicerçado com os principais objetivos do CAP que são:

identificar as necessidades relacionadas ao desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem no contexto acadêmico;

oferecer atenção aos alunos e/ou professores das diversas Unidades Acadêmicas, em suas necessidades e/ou dificuldades;

prestar assessoria a professores, coordenadores e diretores quanto às necessidades e dificuldades apresentadas por alunos e docentes;

mediar ações de adaptação metodológica e de avaliação entre alunos, professores e demais profissionais envolvidos com necessidades educacionais especiais.

Em relação a isso, identificaram- se limitações dentro do contexto acadêmico universitário uma vez que a partir das necessidades detectadas faziam-se necessárias outras modalidades voltadas para trabalhar a população acadêmica que necessitava de auxílio voltado para a inclusão. O contexto institucional criou, então, outros recursos e núcleos para atender esta demanda o que produziu uma importante modificação na dinâmica dos encaminhamentos.

A dinâmica do serviço é constituída por parcerias com as diferentes unidades e recursos que a Universidade dispõe. Nossa prática está pautada no atendimento de alunos que procuram o CAP de maneira espontânea ou com a indicação de professores ou gestores que observam alguma dificuldade no processo de aprendizagem ou outras questões que envolvem o aluno, e que, num primeiro momento, não se relacionam diretamente à questão específica da aprendizagem. Também trabalhamos com professores das diferentes Unidades acadêmicas da Universidade para auxiliar em questões relacionadas a dificuldades com alunos, com adaptação metodológica, ou por questões pessoais que também possam estar influenciando na qualidade do relacionamento e na sua função como educador. Realizamos assessoria às Unidades acadêmicas, buscando trabalhar com temas que sejam pertinentes para a qualificação dos relacionamentos e da prática docente. E, por fim, trabalhamos integrados com outros espaços da Universidade, como a PROGRAD (Pró- Reitoria de Graduação), que, dentre suas responsabilidades, pensa na formação continuada dos professores e gestores da PUCRS.

O atendimento é realizado pelos componentes da equipe, com hora agendada e gratuita e também através de um plantão emergencial em que os professores que compõem a equipe do CAP disponibilizam-se para receber os alunos e professores que, em casos emergenciais, não estão agendados. A intervenção é construída a partir da demanda de cada caso, podendo ser prestada por um ou mais profissionais simultaneamente.

Dessa forma, realizamos atendimento aos alunos, famílias, professores, equipe diretiva, especialistas que realizam atendimento aos alunos, entre outros. Quando necessário, encaminha-se o aluno, para recursos internos ou externos da Universidade.

Em relação aos recursos internos, a Universidade dispõe dos seguintes serviços de atendimento aos alunos:

AMPA (Ambulatório de Psicoterapia Analítica – FAMED);

SAPP (Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia – FAPIS);

NEPAPE (Núcleo de estudos e pesquisas sobre aprendizagem e processos inclusivos – FACED);

LOGOS (LAPREN –Laboratório de Aprendizagem – PROGRAD e LEPNEE – Laboratório de Ensino a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas - FACED).

Assim, ao atendermos um aluno que necessita de apoio especializado, encaminhamos para um desses serviços da Universidade, realizando o acompanhamento e a mediação junto ao serviço e à Unidade, no sentido de pensar sobre adaptações metodológicas e de avaliação, assessoria a professores e equipe diretiva.

Ainda com os alunos, o CAP promove, semanalmente, um grupo chamado “Grupo de Convívio Psicossocial” com os seguintes objetivos:

auxiliar o estudante a conviver com sua nova realidade universitária;

propiciar a compreensão do ingresso na Universidade como uma etapa que já vem sendo construída ao longo da sua vida;

auxiliar o estudante a assumir a nova etapa do desenvolvimento – passagem da adolescência para a vida adulta, entendendo a formação acadêmica como uma etapa do mundo do trabalho.

O CAP também tem por objetivo atender e acompanhar professores e equipes diretivas nas possíveis dificuldades que estejam influenciando na constituição da docência.

Como com os alunos, a mediação junto aos professores é tratada de forma singular, pensando em alternativas em conjunto, como integrantes de uma grande equipe de trabalho.

Prestamos assessoria a Unidades, atendemos individualmente professores, participamos da capacitação dos novos docentes, que é promovida pela Pró-Reitoria de Graduação da Universidade, assim como, através da escuta criteriosa dos relatos de professores e alunos, levantamos temas pertinentes para serem trabalhados em capacitação docente para todos os professores da Universidade.

Todas essas ações buscam a qualificação do processo de aprender e ensinar e das relações que são estabelecidas entre os aprendentes e ensinantes da nossa comunidade acadêmica, ratificando a concepção de que a intervenção institucional não pode perder de vista seu caráter preventivo.

Esse processo tem como um dos seus objetivos a busca pela coerência entre o papel da Universidade e as propostas formativas mais amplas que não se restringem exclusivamente à formação técnica, voltando-se para a real construção de uma identidade integral.

4. Considerações Finais

Uma das principais questões relacionadas ao aprender e ao ensinar é a atenção voltada para os desafios que exigem dos contextos educativos compreensões e concepções que não são lineares e homogeneizantes. Elas também não se restringem a um padrão de aluno idealizado e a um docente, que como outrora, atingia um funcionamento de completude. Ao contrário, é preciso cada vez mais lidar com a desestruturação e reestruturação das mudanças rápidas que envolvem tanto o ser em formação quanto o ser voltado para a sua preparação. Ambos os elementos envolvidos nesse contexto, necessitam enfrentar limites e buscar constantemente aprendizagem entre os pares e não mais uma aprendizagem hierarquizada, uma vez que quem ensina por mais que tenha conquistado um saber, depara-se constantemente com novas exigências tecnológicas e humanas, tendo que lidar com o sentimento de incompletude e incerteza, próprio de quem ensina e aprende enquanto o faz.

5. Referências

BARREIRO, I.M.F; TERRIBILI, F. In BAGGI, C.A.S. LOPES, D.A. Evasão no ensino superior: um desafio para a avaliação institucional? IX Colóquio Internacional sobre gestão universitária na América do Sul. Florianópolis, 25 a 26 de novembro, 2009.

BULTEMAN, I. (org.) Pensando as Instituições.Porto Alegre: ARTMED, 2008.

GAIOSO, N. P. L. O fenômeno da evasão escolar na educação superior no Brasil. 2005. 75f. Dissertação (mestrado em educação) Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Católica de Brasília, 2005.

SILVA FILHO, R.L.L et AL. A evasão no ensino superior brasileiro. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.37, n. 132, p. 641-659, 2007.

VEZZULLA, Juan Carlos. Teoria e prática da Mediação. Curitiba: Instituto de Mediação, 1995.