Grupos Com Professores E/Ou Estudantes No Âmbito Universitário

LÍNEA TEMÁTICA: PRÁCTICAS PARA LA REDUCCIÓN DEL ABANDONO: ACCESO, INTEGRACIÓN Y PLANIFICACIÓN

Prof.ª Ms Doris Helena Della Valentina1

Prof. Dr. Francisco Arseli Kern2

Prof. Dr. Edgar Chagas Diefenthaeler3

Prof.ª Ms Gilze de Moraes Rodrigues Arbo4

Prof.ª Ms Jacqueline Poersch Moreira5

Prof.ª Ms Jurema Kalua Vianna Potrich6

Prof.ª Dra. Maria Lucia Andreoli de Moraes7

PUCRS- BRASIL

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Resumo: O Centro de Atenção Psicossocial da PUCRS atende professores e estudantes quanto a dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Tem sido realizadas intervenções em grupo, possibilitando melhores condições de escuta, distencionamentos nas situações de conflito, condições de diálogo, aceitação das diferenças e melhor aproveitamento acadêmico. Os motivos da solicitação para trabalhos grupais de modo geral, são os seguintes: Dificuldades de relacionamento e/ou comunicação entre os componentes dos grupos de professores; relação dos professores com seus alunos; relação interpessoal entre os estudantes; acompanhamento da integração dos estudantes ao ambiente universitário. O referencial teórico empregado pela equipe situa-se dentro da linha da Psicossociologia (Moraes e Marques, 2001), apoiando-se tanto nos pressupostos fundamentais da Psicanálise, como em aportes relacionados à teoria da Complexidade. (Alves e Seminotti, 2006). Em termos de intervenção, há uma identificação com o modelo teórico da Mediação de Conflitos (Teixeira, 2007), bem como o emprego de técnicas de dinâmica de grupo e/ou jogos cooperativos. Os encontros são planejados conjuntamente com a coordenação da unidade envolvida em termos de objetivos, datas e horários. As atividades realizadas nos encontros são planejadas pela equipe do setor. Participam das intervenções os profissionais da equipe que se encontram disponíveis ou que se sentem mais mobilizados. As intervenções são pontuais, dirigidas às situações apontadas.

1Psicóloga - Professora da FAPSI - PUCRS

2Assistente Social – Professor da FSS

3Psiquiatra - Professor da FAMED - PUCRS

4Pedagoga - Especialista em Psicopedagogia – Professora da FACED - PUCRS

5Psicóloga - Pró-Reitora de Assuntos Comunitários – FAPSI - PUCRS

6Especialista em Educação Especial – Professora da FACED - PUCRS

7Psicóloga - Professora da FAPSI - PUCRS

Introdução

O presente trabalho apresenta uma das atividades desenvolvidas pela equipe do Centro de Atenção Psicossocial junto a grupos de estudantes e de professores. Desde o início da sua instalação, o serviço depara-se com a demanda de trabalhos em grupo, tanto com estudantes como com professores. Embora sejam solicitações diferentes, a equipe tem procurado da mesma forma, compreender a natureza da demanda tanto de uns como de outros, para poder proporcionar um trabalho que atenda aos objetivos que a instituição universitária se propõe – relações humanizadas entre as diferentes instâncias. Dentro do referencial marista que preside a esta instituição, torna-se muito importante que os professores assumam funções realmente educativas junto aos estudantes, auxiliando-os a fortalecer valores de cooperação, justiça e equanimidade. Igualmente a instituição se propõe a que os professores estabeleçam entre si estes mesmos valores, de modo a que o ambiente de trabalho possa estimular a interação positiva e a troca afetiva e profissional entre os diversos atores do cenário acadêmico. Quanto aos estudantes, também é importante que possam despertar para valores de cooperação e criatividade entre si e com os demais membros da comunidade universitária.

Dentro de uma instituição universitária, grupos de professores e grupos de estudantes vivenciam tarefas específicas no que se refere aos processos de ensino-aprendizagem. Aos professores cabe propiciar condições adequadas para que a aprendizagem possa acontecer da melhor forma possível. Estas condições são representadas pelos conteúdos trabalhados, pelos procedimentos pedagógicos empregados, pelo uso adequado das tecnologias educacionais e, finalmente, pela qualidade da interação que estabelecem com estes alunos. Aos estudantes, cabe buscar ampliar seus conhecimentos, desenvolvendo iniciativas que envolvem aprofundamento de conteúdos e aprofundamento das interações com seus pares e com seus professores. No entanto, os encontros que ocorrem a todo instante dentro da instituição universitária, em muitos momentos produz conflitos e até enfrentamentos, tornando-se difícil a interação tanto entre professores, entre os estudantes e entre professores e estudantes. Surge a necessidade de que alguém possa mediar estes conflitos que podem ocorrer pelos mais diversos motivos – competições de poder, dificuldades de levar em consideração o ponto de vista do outro, uso de novas tecnologias, etc... A equipe do CAP tem sido chamada a intervir em diversas situações, realizando trabalhos com professores e/ou estudantes dentro das diversas unidades. Igualmente, alguns membros da equipe acompanham grupos de estudantes no próprio espaço do serviço. Estes grupos tem atendido a diferentes demandas. No item referente a grupos com estudantes, especificamos as principais solicitações que motivaram este tipo de trabalho.

Deste modo, a equipe do CAP tem desenvolvido trabalhos grupais, reunindo professores em unidades específicas ou de várias unidades como é o caso das atividades de capacitação docente. Dos trabalhos grupais com estudantes de modo geral, participam estudantes das mais diversas unidades, podendo também haver atividades com representantes do corpo discente de unidades específicas. Este artigo contempla primeiramente uma breve exposição dos fundamentos teóricos que embasam os procedimentos da equipe do CAP. Em seguida, passamos a descrever os procedimentos adotados para contratar o trabalho, para realizar a atividade com os participantes dos grupos contratados e também para avaliar os resultados junto aos mesmos participantes.

Pressupostos teóricos

Do ponto de vista teórico, a equipe fundamenta suas intervenções em primeiro lugar no pensamento sistêmico segundo Alves e Seminotti (2006). De acordo com os autores, os pequenos grupos, assim denominados pois se constituem em número que possibilita a visualização e escuta de cada participante em relação aos demais, são a unidade básica nesta modalidade de trabalho. Consideram que os embates vividos pelos grupos não necessariamente são reproduções transferenciais de conflitos já vivenciados em outras instâncias, mas se constituem em fenômenos produzidos no aqui e no agora. Já para Moraes e Marques (2001), todo grupo encontra-se profundamente imbricado no contexto social, cultural e histórico do qual faz parte, trazendo para o mesmo as contradições e dilemas vividos extemporaneamente. Ao mesmo tempo, nos grupos apresenta-se a condição existencial presente em cada ser humano: pertencemos à humanidade, comungamos de uma forma ou outra, das mesmas contingências presentes nas vidas de todos e, ao mesmo tempo, vivemos questões típicas das nossas singularidades. Portanto, no grupo, vivemos uma contradição basilar: somos ao mesmo tempo “eu” e “nós”. Assim, os grupos vivem situações de permanente mudança, fragmentação, ordem e desordem. As diferenças entre os diversos componentes, mesmo que produzam estranhamentos e mal- estares, são fundamentais para que os participantes tenham oportunidade de rever conceitos, comparar suas perspectivas teóricas e práticas com as dos demais e estabelecer novos parâmetros que possam melhor fundamentar os objetivos e propostas nas práticas coletivas. Guareschi (2004) afirma que a mudança social ocorre em função do embate entre os diferentes pontos de vista, mais do que pela identificação entre os saberes.

Alves e Seminotti (2006) apontam para a auto-organização que ocorre nos pequenos grupos, suposto presente já no pensamento de Rogers (1994) que propunha aos facilitadores grupais cultivassem uma crença incondicional na capacidade dos participantes no sentido de auto-gerir- se, desenvolvendo modos próprios de administração dos seus conflitos. Para o autor, é fundamental que o facilitador, denominação dada por ele ao coordenador de grupos, tenha uma legítima convicção de que os participantes apresentam condições de se organizarem sem que sejam necessárias ações diretivas vindas de fora para dentro. A convicção do facilitador é capaz de proporcionar aos participantes ambiente propício para que floresçam idéias e propostas adequadas aos objetivos aos quais o grupo se propõe.

Seminotti (2012) propõe que o coordenador de grupos acompanhe os fenômenos ocorrentes no seio do próprio grupo ao invés de relacioná-los a esquemas conceituais prévios. O que ocorre no aqui e no agora dos grupos constitui a vivência precípua do grupo, oferecendo as possibilidades de que os participantes encontrem soluções adequadas ás questões com que se defrontam. Para o autor, os acontecimentos no grupo agem e retroagem constantemente entre si, produzindo lógicas próprias daquele grupo específico. Assim, cada grupo apresenta sua originalidade, não repetindo lógicas de outros grupos ou de outros momentos de si mesmo. O coordenador, segundo o mesmo autor, deve ser capaz de criar “Um clima no qual seja possível também a aceitação do conflito e tensão, resultado de lógicas concorrentes ou colidentes entre si: inclusive a tensão originada pelas diferenças entre as lógicas do coordenador e as dos participantes”.

O grupo é espaço de diversidade e de encontro das alteridades. Neste entrecruzamento de diferentes lógicas, produzem-se idéias, criam-se soluções para problemas emergentes e estabelecem-se os vínculos necessários para que o diálogo entre diferentes interlocutores seja enriquecedor e produtor de crescimento para os diversos participantes. Pichon-Rivière (1988) considera que quando as comunicações dentro de um grupo tornam-se verdadeiras, os participantes passam a conhecer-se mais a si mesmos e aos outros e desta forma, mesmo que o grupo não tenha se constituído como grupo terapêutico, passa a produzir verdadeiros efeitos terapêuticos.

Modalidades de grupos Grupos com estudantes

Com estudantes se realizam sistematicamente os grupos de convívio psicossocial.Estes grupos formam-se a partir do encaminhamento e colegas, professores ou por procura espontânea dos próprios estudantes. São convidados a participar destes grupos os estudantes que, tendo sido encaminhados para atendimentos individuais, apresentam um conjunto de características que a equipe considera adequadas às atividades grupais. As indicações se referem basicamente a estudantes que por diversos motivos, encontram-se sozinhos, não tendo com quem compartilhar desde assuntos os mais cotidianos, até suas angústias frente à escolha profissional. São grupos semanais, com sistema aberto, isto é, podem entrar sempre novos participantes, assim como é possível deixar de participar do processo sempre que o participante assim o decidir. Estes grupos são coordenados de modo geral, por dois integrantes da equipe do CAP, de acordo com sua disponibilidade e motivação.

Os objetivos deste modelo de grupo se referem ao auxílio no processo de adaptação ao universo acadêmico. Esta adaptação não significa postura passiva frente ao novo ambiente vivenciado pelo estudante, mas à possibilidade de buscar as informações necessárias ao exercício das atividades acadêmicas. Para tanto, são importantes as informações compartilhadas entre os diversos participantes. Se os estudantes provém de outras cidades ou até de outros estados, são importantes as informações a respeito de locais de comércio ou lazer. Com o convívio no grupo, estes estudantes estabelecem parcerias tanto para eventos culturais, como para situações de entretenimento.

O trabalho também se propõe a oferecer um espaço de troca em relação a dúvidas, questionamentos, ansiedades e desejos. Busca-se igualmente proporcionar condições de desenvolvimento da condição de escuta dos outros colegas, relativizando desta forma, os sentimentos de inadequação e “estranhamento” no meio social no qual estão inseridos. Os sentimentos de estranhamento encontram-se presentes particularmente nos estudantes oriundos de meio sócio-cultural menos favorecido. Muitos destes estudantes são a primeira pessoa da família ou da comunidade a ingressar no universo acadêmico, o que causa reações as mais diversas nos familiares ou vizinhos, incluindo condutas de desestímulo ou até de franca hostilidade em relação à continuidade do curso universitário. Alguns estudantes queixam-se muito desta situação, buscando nos profissionais do CAP e nos colegas do grupo a confirmação de sua escolha.

A dinâmica destes grupos não segue um modelo programado previamente, mas baseia-se nos temas que emergem da discussão grupal. Os participantes trazem assuntos do seu cotidiano tanto na esfera acadêmica quanto na esfera familiar, qual sejam, dificuldades para estabelecer diálogo, desconhecimento dos diversos recursos que a universidade oferece, vontade de ter amigos, conflitos com colegas e/ou professores, etc... Às vezes, utilizam-se técnicas de dinâmica de grupo para facilitar a exposição de idéias ou sentimentos. Sempre busca-se socializar os conteúdos para que todos possam ver-se contemplados em suas questões, mesmo que o tema debatido esteja mais ligado especificamente à situação de um colega do grupo. Isto também é feito para que o âmbito da discussão seja sempre ligado às interações entre os participantes entre si e com as pessoas de seu convívio e não se configure como grupo psicoterapêutico. Os estudantes que participam referem sentir-se acompanhados, com novas referências, tendo conseguido estabelecer laços de amizade até então, muito difíceis em alguns casos. O trabalho se torna uma referência, pois alguns estudantes, mesmo não tendo vindo mais ao grupo, comparecem para dar notícias de suas conquistas pessoais e acadêmicas.

Há também intervenções pontuais em grupos em determinadas unidades, de acordo com demandas diversas: conflitos em sala de aula, enfrentamento de situações de final de curso, como o TCC, ou alguma outra questão que venha a se apresentar e que mobilize a ansiedade dos estudantes. Estas intervenções de modo geral, são assinaladas pelos professores das unidades. Já ocorreram situações de solicitação de intervenção grupal, por parte dos próprios estudantes. A partir da solicitação, entra-se em contato com representante do grupo, estudante ou um professor designado pelos estudantes e faz-se as devidas combinações para realizar a intervenção. O processo nestes casos é mais rápido pois faz-se uma ou duas reuniões com os participantes, dependendo das circunstâncias práticas de que se dispõe e também do sucesso obtido com a intervenção. Da mesma forma, ocorrem grupos com familiares e alunos, e/ou familiares, alunos e professores, quando há uma necessidade derivada de situações conflitivas no grupo familiar e institucional.

Grupos com professores

O serviço também realiza acompanhamentos grupais com professores no âmbito das unidades, de acordo com as demandas das mesmas. Quando os gestores percebem alguma dificuldade seja no relacionamento entre os professores , entre professores e estudantes, ou questões relativas à identidade dos participantes de determinada unidade, tem acontecido de solicitarem a presença da equipe do CAP. Realizam-se reuniões prévias à intervenção propriamente dita, para definir os objetivos da intervenção e fazer as combinações necessárias no que se refere a horários, datas, local e os participantes do processo. A maioria dos participantes da equipe do CAP participa destes trabalhos, de acordo com suas disponibilidades, tanto no seu planejamento como na sua execução.

As atividades são avaliadas e, após a identificação das necessidades, planejadas de acordo com os objetivos combinados com os representantes das unidades, incluindo de modo geral, técnicas de dinâmica de grupo e discussões a respeito de temas pertinentes ao caso. Após estas combinações, o trabalho se realiza, de modo geral, ao final dos semestres quando é possível dispor de tempo mais longo – 3 ou 4 horas-aula juntas. Algumas unidades tem solicitado este acompanhamento sistematicamente, o que possibilita crescimento e amadurecimento, principalmente no que se refere às questões de identidade grupal. A elaboração dos objetivos e a avaliação do trabalho se realiza junto ao grupo, de modo a que os participantes assumam o processo trabalhado como parte de suas identidades profissionais e não como um programa a que devem se submeter contra suas vontades. Estes trabalhos tem sido avaliados muito positivamente pelas unidades contempladas, o que tem repercutido favoravelmente em outras, produzindo cada vez mais novas solicitações.

Algumas unidades tem solicitado intervenções dentro da programação das capacitações docentes que se realizam na universidade duas vezes ao ano. Destas intervenções podem participar professores de outras unidades, pois a inscrição é aberta, mesmo que a maioria pertença a um determinado curso. Estas intervenções também tem sido muito bem avaliadas, fortalecendo a proposta de que sejam reeditadas nas próximas capacitações.

Considerações finais

O espírito do trabalho que buscamos realizar se refere a fornecer elementos para que os próprios professores possam pensar ativamente a respeito de suas posturas frente a si mesmos e frente aos estudantes. Às vezes, a reflexão produz estranhamentos, pois torna-se difícil reconhecer em si mesmo alguns aspectos que se costuma atribuir ao outro. Com a continuidade do trabalho e com o cuidado que procuramos sempre ter para que as pessoas não se sintam invadidas em suas subjetividades, os participantes iniciam um processo de auto-examinar-se, podendo confiar uns nos outros neste exame e aprendendo a crescer juntos, ao mesmo tempo que preservam suas características pessoais. Este trabalho tem sido muito importante na medida em que fortalece os laços entre os diversos atores do cenário acadêmico, propiciando o sentimento de pertença, fundamental para que estes mesmos atores permaneçam em suas trajetórias dentro da instituição, cumprindo, ao mesmo tempo, com os objetivos pessoais aos quais se propuseram.

Desta forma, corroboramos o pensamento dos principais teóricos da Psicologia dos Grupos quando enfatizam o fato de que um grupo desenvolvido é m grupo que coopera, que dialoga, que respeita as diferenças e é o melhor terreno para que floresçam as qualidades individuais.

Referências

Alves, Miriam e Seminotti, Nedio. O pequeno grupo e o paradigma da complexidade em Edgar Morin. Revista Psicologia USP 17, 2006, p. 113-133.

Guareschi, Pedrinho Psicologia Social Crítica como prática de libertação Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

Moraes, Maria Lúcia Andreoli de; Marques, Juracy Max Pagés: a relação como laço grupal. Revista Expressão Psi. v. 5, N. 2, p. 5-15, Pelotas:EDUCAT, 2001.

Pichon-Riviére, Enrique O processo grupal São Paulo: Martins Fontes, 1988.

Seminotti, Nedio A complexidade da organização social: a organização sistêmica hipercomplexa da Microssociedade Pequeno Grupo Texto aprovado para publicação nos anais do IIIº Encontro Internacional de Ciências Sociais, Faculdade de Ciências de Pelotas, RS, 2012.

TEIXEIRA, Gabriela Nunes. Reflexões sobre a psicologia no Programa de mediação de conflitos: um relato de experiência do trabalho desenvolvido em Minas Gerais. Mosaico: estudos em Psicologia. V. I, N. 1, 2007, p. 17-23.