Adaptação ao ensino superior de estudantes Medalhistas em olímpiadas de conhecimento
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Publicado: Nov 18, 2021
Resumen
A ampliação no acesso ao ensino superior (ES) brasileiro é resultado de políticas afirmativas e, também, de uma maior diferenciação nos processos de seleção para ingresso neste
nível de ensino. De maneira pontual, citam-se os editais específicos para viabilizar o acesso ao ES
de estudantes que foram medalhistas em Olímpiadas de Conhecimento durante a educação básica.
Apesar de tais estudantes possuírem conhecimentos aprofundados em algumas áreas do
conhecimento, podem apresentar dificuldades na transição para o ES e que se associam a um menor ajustamento neste nível de ensino, a um baixo rendimento acadêmico e à evasão. Entende-se que a adaptação ao ensino superior é um processo complexo, resultado de interações entre as
características dos estudantes, do contexto institucional e de aspectos sociais mais amplos, com
destaque para o fato de no ano de 2020, tal ajustamento ter sido impactado pela migração do ensino presencial para o remoto como medida sanitária para reduzir o impacto da pandemia de Covid-19.
O objetivo do presente estudo é analisar a adaptação ao ensino superior e a percepção de
desempenho acadêmico de ingressantes medalhistas em Olimpíadas do Conhecimento, buscando
identificar diferenças em função do curso no qual estão matriculados e do seu background.
Participaram desta investigação 21 estudantes, com idades que variaram entre 17 e 20 anos (M =
18,43; DP = 1,75). Destes, 15 (71,4%) são homens; 12 (57.1%) estavam matriculados em cursos de
Engenharia; e 7 (33.35%) são filhos de mães que não cursaram o ES. A coleta de dados on-line foi
realizada por meio de Google Forms, pelo preenchimento do Questionário de Caracterização e
Questionário de Adaptação ao Ensino Superior (QAES), sendo os dados analisados
quantitativamente. Dos resultados destaca-se a existência de diferenças estatisticamente
significantes na adaptação nos projetos de carreira e na adaptação pessoal e emocional em função
da escolaridade das mães. Os universitários cujas mães estudaram até a educação básica relatam
níveis mais baixos de ajustamento aos projetos de carreira, em comparação àqueles cujas mães
acessaram o ensino superior. Por sua vez, tais estudantes relatam níveis menores de adaptação
pessoal e emocional em comparação aos que as mães cursaram até a educação básica. Soma-se que os estudantes matriculados nos cursos de Engenharia também relatam níveis de adaptação pessoal e emocional mais baixos tendo por referência os pares matriculados em outros cursos de Ciências Exatas. Uma vez que a escolaridade das mães pode estar associada à renda das famílias, hipotetizase que os jovens cujas genitoras possuem níveis de escolaridade mais baixos possam ter vivenciado situações de vulnerabilidade social e econômica que potencializaram o desenvolvimento de habilidades de regulação emocional e que auxiliam no enfrentamento dos desafios que ocorrem na transição ao ensino superior no contexto de pandemia. Por sua vez, os jovens cujas mães frequentaram o ensino superior podem ter capital cultural e recursos econômicos que dialogam com as expectativas do contexto universitário e com a construção de carreiras, tais como domínio de idiomas, como também, recursos tecnológicos que possibilitem uma maior adaptação a esse nível de ensino e à carreira em fase de desenvolvimento, especialmente no contexto de ensino remoto, no qual todas as atividades acadêmicas foram desenvolvidas sob a mediação de novas tecnologias. Tais resultados sugerem a importância de as instituições conhecerem as particularidades das adaptações vividas pelos estudantes, com destaque para o impacto diferencial do curso e do background dos estudantes na transição e na adaptação a esse nível de ensino.